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O Festival de Trapalhadas Continua

O Festival de Trapalhadas Continua

30/09/2009 Fábio P. Doyle

Micheletti não deu golpe, Lula foi grosseiro e injusto, o Itamaraty ficou sem saída e perde apoio internacional. Um colar, de muitas voltas, de erros, gafes, impropriedades, inclusive da mídia, contra o menor e talvez o mais pobre e, certamente, mais arraigadamente democrático, país das Américas.

ESTÁ tudo errado. Honduras, Zelaya, Itamaraty, Lula, OEA, ONU, Obama, Hillary, formam um comprido colar de erros, de gafes, de impropriedades. Jornais, tvs, rádios, não escapam do festival de trapalhadas no episódio hondurenho.

O AFASTAMENTO de Manuel Zelaya da presidência não pode ser caracterizado de "golpe", como tem sido. Ele foi deposto pelo Congresso daquele país, cumprindo decisão da Suprema Corte. Motivo: Zelaya, como presidente, tentou impor uma reforma constitucional que lhe garantiria, no estilo de Hugo Cháves, da Venezuela, seu guru, mentor e mantenedor, o direito à reeleição, proibida pelo artigo 239 da Constituição. O artigo constitui o que os constitucionalistas denominam de "cláusula pétrea", ou seja, que não pode ser modificada. O mesmo artigo pune com a perda dos direitos políticos, quem o infringir. Zelaya infringiu, por isso foi afastado da presidência. Na forma constitucional, assumiu a presidência o presidente do Congresso de Honduras, deputado Roberto Micheletti. Que, por isso mesmo, não pode ser chamado de "presidente golpista" por Lula, pelo ministro Celso Amorim, por líderes de outros países e por parte da imprensa brasileira. Pois ele não deu golpe nenhum, e é o presidente constitucional do seu país.

O GOVERNO brasileiro afirma que não participou da enrascada que resultou no "abrigo"concedido a Zelaya na embaixada do Brasil em Tegucigalpa. É difícil acreditar nisso. Até porque o sr. Marco Aurélio Garcia, assessor internacional de Lula e ministro "de fato"das Relações Exteriores, coincidentemente foi a Caracas conversar com Hugo Chávez, o tal mentor e protetor de Zelaya, quando este havia acabado de passar por Brasília. Todos sabem, e o próprio confirmou, que Chávez planejou o retorno clandestino de Zelaya a Honduras, disponibilizou o avião que o deixou em um país vizinho, forneceu recursos financeiros para a empreitada (até uma parcela para tentar comprar a solidariedade de membros do Congresso e das Forças Armadas hondurenhas), e escolheu a embaixada brasileira para abrigar seu protegido. Pelas relações que mantem com Lula e pelos entendimentos que deve ter mantido com Marco Aurélio, é óbvio que o plano teria sido apresentado ao governo brasileiro.

SE O BRASIL sabia do plano de Zelaya/Chávez, cometeu falta grave na área de relações internacionais, por interferência indevida em questões internas de Honduras. Se não sabia, se foi surpreendido, demonstrou total incompetência na área de inteligência do Itamaraty e da presidência da República, que deveriam estar alertas quanto aos movimentos de Zelaya. O fato caracteriza, ainda, o comportamento pouco, ou nada, confiável de Chávez: deixou o Brasil em uma camisa de força na embaixada, e não foi leal com seus companheiros tão amigos, tão hermanos, do Planalto.

ZELAYA chegou de carro a Honduras, foi direto para a embaixada, e lá foi acolhido (como asilado, como refugiado, como hóspede?), por decisão de Lula, que viajava, estranha coincidência, para Nova York, para uma reunião da ONU. Tudo muito bem programado, como se percebe. Zelaya entrou na embaixada com sua mulher, filhos, amigos e seguidores. Mais de 300 pessoas! Apossou-se do espaço territorial brasileiro, passou a dar ordens, a decidir tudo, inclusive negando-se a dividir com os funcionários da embaixada, cercada pelas forças militares, os alimentos que recebia.O que evidencia seu "espírito solidário" com os que o acolheram. E mais: fez da embaixada seu gabinete político, o seu palanque de subversivo contra a ordem estabelecida.

TUDO errado, como se percebe, e como só agora o governo dos Estados Unidos, a ONU, parte expressiva da imprensa, percebem também.

O PRESIDENTE constitucional, não "golpista", Roberto Micheletti, preocupado com a situação, que destoa de tudo o que se sabe em relação ao direito internacional, pediu ao governo brasileiro que defina a verdadeira situação de Zelaya na embaixada, se ele é asilado, sujeito a limitações de movimentos, ou mero hóspede, com poderes ilimitados, inclusive o de incentivar sublevação e quebra da ordem pública. Lula, ao receber o pedido de Micheletti, foi mais uma vez grosseiro. Esquecendo-se do apoio que dá, e sempre deu, a regimes ditatoriais, como o dos Castros, em Cuba, em entrevista gravada ao vivo, declarou que não aceita dialogar "com golpistas". A grosseria, imprópria de um estadista, que ele nunca foi mas que deveria ser, pelo posto que ocupa, poderia ter recebido uma resposta no mesmo teor de Micheletti. Inclusive com o rompimento de relações diplomáticas com o Brasil e o consequente fechamento da embaixada e retorno ao país dos funcionários do Itamaraty, levando com eles Zelaya, seu bigode e seu chapéu de humorista de circo mambembe. O que, sem dúvida, valeria para solucionar de vez o problema.

PARA confirmar a mudança de enfoque da crise hondurenha no mundo, o representante dos Estados Unidos em uma reunião da OEA declarou que o retorno de Zelaya a Tegucigalpa foi uma "atitude irresponsável e idiota". Só faltou dar os nomes, que são óbvios, dos irresponsáveis e idiotas.

É ISSO aí. Como disse na semana passada, o caso se configura como "uma trapalhada perigosa"que envolve o Brasil por culpa da política canhestra do Itamaraty e de Lula. Em charge feliz, na capa de "O Globo", Chico Caruso retratou Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, descabelados, em pânico, correndo em direções opostas dentro da sala da embaixada, e gritando "A saída, onde está a saída!". Na verdade, onde estará a saída para os trapalhões?

O QUE é mais triste é que se esteja perdendo tanto tempo com uma figura apenas pitoresca. Se brasileiro fosse, o sr. Manuel seria, na melhor das hipóteses, um folclórico vereador ou prefeito de um pequeno e pobre município do interior bravo. Graças a Hugo Chávez, a Lula, a Amorim, a Marco Aurélio, o chapéu e o bigode de Zelaya estão nas capas dos principais jornais e seu nome nas manchetes e nas tribunas de supostamente austeros organismos internacionais. Um melancólico sinal dos novos tempos.

Fábio P. Doyle é Jornalista e Membro da Academia Mineira de Letras. Visite o Blog



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