Nossa Senhora!
Nossa Senhora!
O nome da Virgem Maria, mãe de Jesus, foi cassado das placas da principal avenida do bairro do Carmo. O responsável, explica a PBH, seria o ex-prefeito Celso Azevedo, católico fervoroso. Na verdade, tudo não deve ter passado de um erro do datilógrafo do seu gabinete.
A PREFEITURA, através do BHTrans e de seus órgãos ligados a cadastros imobiliários, houve por bem cassar o título religioso e católico de uma das principais avenidas da cidade. Nossa Senhora do Carmo não é mais a padroeira da principal via do bairro do Carmo. Foi banida pela burocracia municipal. Foi cassada. Foi destituída. A velha avenida passou a chamar-se "Senhora do Carmo". Quem seria esta importante senhora para receber tamanha homenagem? Por quê a destituição de Nossa Senhora? Motivações ideológicas, religiosas, influência de outros cultos, ou implicância de ateus empedernidos?
A EXPLICAÇÃO, data venia, é forçada. Diz a administração municipal que descobriu-se um decreto, ou uma lei, dos tempos do prefeito Celso Melo Azevedo, lá nos idos dos anos cinquenta, que menciona aquela avenida como "Senhora do Carmo", não como "Nossa Senhora do Carmo", como sempre foi chamada, inclusive em todos os documentos oficias da cidade. A explicação não convence, tanto que os moradores da região, a cidade inteira, continuam a referir-se àquela via como Nossa Senhora do Carmo, pois este é o seu nome de batismo.
BASTA raciocinar, quem ainda sabe raciocinar, para se constatar o disparate que a administração do prefeito, meu amigo Márcio Lacerda, aliás, um bom prefeito até agora, está cometendo, contra a religião católica, cassando o nome da mãe de Jesus, e contra a tradição e a história de Belo Horizonte. Dizem os que tentam explicar a bobagem praticada, que o prefeito Celso Mello Azevedo, assinando o tal diploma legal, mudou o nome da avenida, dele tirando o "Nossa". Os que dizem isso não conheceram o ex-prefeito nem pesquisaram sua biografia. Celso Azevedo era católico não apenas praticante, aquele que vai à missa todos os domingos, mas um dos líderes do catolicismo no Estado. Era figura importante junto da cúria, do arcebispado de Belo Horizonte. Ele e toda sua família. Ele jamais trocaria o nome da avenida, que é o mesmo da igreja ali construída.
BEM, se ele era assim, por que cassou Nossa Senhora do Carmo? Simplesmente não cassou, não mudou, não trocou o nome. O que deve ter acontecido é o que acontece com todos os que escrevem, todos os que datilografam, todos os que digitam textos. Quem datilografou (naquele tempo não existia ainda o computador, a digitação eletrônica) o decreto, ou lei, assinado ou sancionado pelo prefeito, saltou, pulou o pronome que antecede o "Senhora do Carmo". Um erro comum, uma falha normal. Infelizmente, a falha não foi percebida pelo chefe de gabinete, pelo secretário particular, pelo copy-desk, que não havia ainda, do gabinete. E o prefeito, sem se dar conta da lacuna, assinou o documento, que foi publicado com o erro cometido pelo pobre do datilógrafo desatento.
POR tudo isso, a Prefeitura pune a virgem Maria, mãe de Jesus, retirando o seu nome da avenida, batizada agora com o nome de uma desconhecida, certamente respeitável, senhora moradora do bairro do Carmo…
SE um prefeito carioca tentasse mudar o nome da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, seria motivo de chacotas e de protesto público. Avenida Senhora de Copacabana daria margem a charges e chistes (velha e sonora palavra) pertinentes. Os moradores do bairro mais famoso e mais bonito do Rio, com a apoio do arcebispado, dos párocos da cidade, iriam para a rua desbatizada em marcha contra o sacrilégio. Aqui, a não ser um registro ou outro da imprensa, nada acontece. Nem a igreja católica se manifestou. Minas já não é mais a mesma, sem dúvida.
Fábio P. Doyle é Jornalista e Membro da Academia Mineira de Letras. Visite o Blog