Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Um caçador que se inspira entre a caçada e a mentira

Um caçador que se inspira entre a caçada e a mentira

17/11/2022 Antônio Marcos Ferreira

Normalmente os pescadores é que carregam a fama de mentirosos. Mas com certeza não estão sozinhos neste mundão de Deus.

A história a seguir aconteceu por volta de 1987, quando o atual município de Jaíba ainda pertencia ao município de Manga.

Ocorreu então uma reunião política num local chamado Linha 2, onde compareceram várias lideranças políticas de Manga e Jaíba. Lá estavam, além do prefeito Élzio, o vereador Delmiro Vargas, Humberto Salles e outros.

Antes da reunião, foi servido um lauto café, quando um dos participantes notou a presença do Sr. Sebastião Oliveira, famoso caçador e contador de histórias de caçadas na região.

Dizia que tinha uma espingarda de cano curvo. Quando questionado, explicava que era pra matar veado na curva. Um dos presentes resolveu provocá-lo e perguntou:

- Seu Sebastião, e aí, as caçadas? O senhor nunca mais contou as histórias, não tem caçado não?

- Ih, rapaz, agora mesmo eu passei por uma que só Deus vendo. 

Como você sabe, eu sou caçador antigo, né, e um amigo meu falou para os amigos dele de São Paulo que aqui tinham uns caçadores de perdizes. Mandou uma carta onde me perguntava se eu poderia receber e acompanhar os seus amigos numa caçada. 

Eu disse a ele que sim, seria um prazer pra mim. Marcaram a data e chegaram os dois caçadores. Quando eu vi as tralhas que os caras trouxeram eu me arrependi de ter aceito. 

Os caras chegaram com dois cachorros perdigueiros, puro sangue, duas espingardas Sta Etienne, de dois canos, e eu pensei comigo: meu Deus, eu, um homem nessa idade, que nunca passou vergonha na vida, vou passar hoje. 

Porque eu tinha era uma espingardinha velha, cartucheira, carregada pela boca, "rabo de cutia", que tinha que carregar com uma vareta, etc, como é que eu faço? E as espingardas dos hômi chegavam a brilhar no sol. 

Mas como foi um amigo meu que mandou e eu já tinha dado a palavra e palavra minha não volta atrás, vou levar. Eu sabia onde tinha as perdizes, então vou levar os homens. 

E lá fomos nós. Peguei minha espingardinha, botei no ombro e eles com as espingardas francesas, perdigueiros puro sangue e eu pensando: será que hoje é o dia que eu, nessa idade, vou passar vegonha? 

Mas já tinha dado a palavra e lá fomos nós! Quando chegamos ao lugar onde tinham as perdizes, apareceu uma perdiz no chão. 

Um dos cachorros viu a perdiz, levantou a perninha direita, esticou o rabo, botou o focinho pra frente que você podia botar uma régua, apontando onde é que estava a perdiz. O cara disse:

- Seu Sebastião, o sr quer...

- De jeito nenhum, a vez é suas!

O cabra deu a ordem, o cachorro espantou a perdiz e ele levantou a espingarda Sta Etienne, dois canos.

A perdiz voou e ele apontou a espingarda e páa. Na mosca! Ou melhor, na perdiz. Ela caiu e o cachorrinho foi lá, apanhou e entregou ao dono.

Pensei: meu Deus do céu, onde é que eu fui me meter! Numa idade dessa passando vergonha. Os caras com essas espingardas Sta Etienne e eu com a minha carregada pela boca! E tinha que botar chumbo, empurrar com a vareta. Tá danado!

E lá na frente outra perdiz. E a mesma coisa: o cachorrinho levanta a perninha, rabo esticado e cabeça apontando a perdiz. 

- Agora é sua vez, Seu Sebastião. 

- De jeito nenhum! (E o medo que eu estava de passar vegonha?) 

- É o senhor agora. 

Do mesmo jeito. O cachorro foi lá, espantou a perdiz, ela voou, o cara pegou a espingarda, apontou e páa. Outra perdiz no chão. O cachorro apanhou e entregou para o dono.

Eu pensei: meu Deus, não tem jeito não. Eles com essas espingardas francesas e eu com essa rabo de cutia. Nessa idade e eu vou passar vergonha. 

Mas Deus é muito bom pra mim e logo na frente tinha uma bifurcação. Pensei: é agora. 

- Olha, vocês vão por aqui que eu vou por cá. Lá na frente a gente se encontra. 

- Tá bom então. 

Eles saíram e eu dei graças a Deus que eu saí por um lado e eles pelo outro. Quando vou chegando na frente, olha as perdizes! Eita, pensei comigo.

Quando uma perdiz espantou e voou eu peguei a espingardinha e páa, a perdiz caiu. Outra perdiz levantou e eu páa, derrubei outra... páa, e mais uma e páa, cinco, rapaz, cinco perdizes! 

- Eita, se os cabras estivessem aqui pra ver!

Nisso, o Sr Afonso Ribeiro, líder político em Manga, virou pra ele e perguntou:

- Uai, Seu Sebastião, e o senhor não carregava a espingarda não? 

- Num dava tempo! Se eu fosse carregar eu tinha matado só uma! 

Foi uma risada geral na sala. Enquanto ele contava a história o pessoal tomava café.

O Sr Sebastião ao terminar foi então com a xícara na mão até a cafeteira. Quando apertou na garrafa, saíram apenas alguns pingos na sua xícara. Ele olhou para um lado, olhou para o outro e disse:

- Eu gosto de café é bem pouco! 

Mais uma mentira...

* Antônio Marcos Ferreira

Para mais informações sobre histórias clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!



Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O Pronto Atendimento e o desafio do acolhimento na saúde

O trabalho dentro de um hospital é complexo devido a diversas camadas de atendimento que são necessárias para abranger as necessidades de todos os pacientes.

Autor: José Arthur Brasil


Como melhorar a segurança na movimentação de cargas na construção civil?

O setor da construção civil é um dos mais importantes para a economia do país e tem impacto direto na geração de empregos.

Autor: Fernando Fuertes


As restrições eleitorais contra uso da máquina pública

Estamos em contagem regressiva. As eleições municipais de 2024 ocorrerão no dia 6 de outubro, em todas as cidades do país.

Autor: Wilson Pedroso


Filosofia na calçada

As cidades do interior de Minas, e penso que de outros estados também, nos proporcionam oportunidades de conviver com as pessoas em muitas situações comuns que, no entanto, revelam suas características e personalidades.

Autor: Antônio Marcos Ferreira