Eu nasci há poucos anos atrás
Eu nasci há poucos anos atrás
Raul Seixas, um dos ícones da música nacional, compôs e cantou várias músicas de sucesso que se consagraram e foram imortalizadas, sendo ouvidas por diversas gerações, até os dias de hoje.
Uma das mais belas canções de Raul Seixas é a intitulada “Eu nasci há 10 mil anos atrás”, lançada nos idos de 1976.
Nela o músico narra a história de uma pessoa simples, que viveu vários fatos, desde os mais marcantes até os mais corriqueiros.
Dizia ele que viu cristo ser crucificado: “O amor nascer e ser assassinado; Que bebeu vinhos com as mulheres da taberna, que com a queda de uma pedra quebrou sua perna”.
Eu, nascido há bem menos tempo, poderia contar vários eventos vistos e vividos nos meus 55 anos de vida, que chamam especial atenção para o nosso mundo político.
Eu vi um Brasil ser governado por militares, a pedido de pessoas que temiam o comunismo. E, após anos, caracterizaram referido regime como Ditadura, clamando pelo sufrágio direto, pela democracia, e, corolariamente pela liberdade de imprensa, expressão e pensamentos.
Vi o Presidente General João Batista Figueredo dizer a respeito do partido que hoje governa o Brasil: “Vocês querem, então vou reconhecer ‘esse’ sindicato como Partido (PT). Mas não esqueçam que um dia ‘esse’ partido chegará ao poder e lá estando, tudo fará para instituir o COMUNISMO. Nesse dia, vocês vão querer tirá-los de lá. E para tirá-los de lá, será à custa de muito SANGUE BRASILEIRO.”
Hoje, vejo em todo o país, manifestantes lutarem pela Liberdade de Expressão, sendo avessos ao Presidente da República (daquele partido), que há poucos dias assumira o Governo.
Milhares de pessoas reunidas nas portas dos quartéis militares, exercendo e visando salvaguardar o direito de expressarem suas opiniões, agasalhado pela Magna Carta.
Li uma carta publicada pelas Forças Armadas em defesa do povo e da liberdade de manifestação.
Acompanhei o Ministério da Defesa pedir uma auditoria nas urnas eletrônicas, visando maior transparência e correção no processo Eleitoral.
Eu vi, assisti e atentei os julgamentos da maior Corte de Justiça do país, com discursos enfáticos contra censura, em respeito à Constituição Federal, chamada de Constituição Cidadã, por prever, antes das divisões e atribuições dos Poderes da República, os direitos e garantias individuais, tidas como cláusulas pétreas, logo, imutáveis.
Em seus votos, disseram os Ministros:
- “Cala Boca Já Morreu” (M. Carmem Lucia - ADI 4815);
- “A censura é a mordaça da liberdade. Quem gosta de censura é ditador. A liberdade não é só um direito, é o pressuposto para o exercício de todos os direitos.” (M. Carmem Lucia – 2018);
- Quanto às críticas dos meios de comunicação às autoridades: “Essas críticas, quando emitidas com base no interesse público, não se traduzem em abuso de liberdade de expressão, e dessa forma não devem ser suscetíveis de punição. Essa liberdade é, na verdade, um dos pilares da democracia brasileira” (M. Celso de Melo – ADPF 130-DF);
- “Quem não quer ser criticado, quem não quer ser satirizado, fica em casa... Não se ofereça ao público... Querer evitar isto por uma ilegítima intervenção estatal na liberdade de expressão é absolutamente inconstitucional.” (M. Alexandre de Moraes, em 2018;)
Agora vejo, partindo da mesma alta Corte de Justiça, a chamada última trincheira da cidadania, jornalistas sendo censurados, as mídias sociais que compõem a fonte de renda destes profissionais, sendo desmonetizadas, bloqueio de contas bancárias e sigilo dos processos (inquéritos) contra os acusados.
Eu vi gente e autoridades chamando o presidente Bolsonaro de coveiro e genocida; Eu vi a vedação de chamar Lula de “descondenado”; Um candidato pela justiça ser ressuscitado; Eu vejo uma liberdade de expressão aniquilada; Uma censura seletiva, manifestações amaldiçoadas; Referendo de armas ser desrespeitado; Eu vi que, para Lula, cidadãos devem andar desarmados; Este direito pertence, exclusivamente, para os ladrões; O novo presidente e seus asseclas, no poder, aprisionados; Não podem sair nas ruas sem serem humilhados e vaiados; E vejo o candidato derrotado aplaudido e ovacionado.
Se Raul Seixas vivo fosse, não precisaria ter vivido há dez mil anos atrás, já que nestes últimos anos haveria muito material para suas canções, infelizmente com tristes histórias.
Tenho dito!!!
* Bady Curi Neto é advogado fundador do Escritório Bady Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e professor universitário.
Fonte: Naves Coelho Comunicação