Nossa justiça tarda, mas…. falha
Nossa justiça tarda, mas…. falha
- O seu voo foi cancelado. Somente amanhã neste mesmo horário. Reservamos o hotel para se acomodarem de hoje para amanhã.
- Mas porque o cancelamento? O tempo está bom.
- Ainda não temos informações.
Este diálogo ocorreu no aeroporto de Alta Floresta, no Mato Grosso. Chegávamos, com a Turma Espeixeal, de uma pescaria no Rio São Benedito e seus afluentes.
Como sempre acontece depois de cinco dias de pescaria com amigos, depois de muitas risadas, cantorias e muita natureza, estávamos muito leves e felizes.
Retornávamos para BH, mas fomos surpreendidos por aquela notícia, que iria interromper o nosso programa por um dia.
Nada muito problemático para grande parte da turma, a maioria de aposentados. Mas alguns certamente seriam impactados nos seus compromissos para os dias seguintes.
Sem alternativas, restou a todos irem para o hotel indicado pela companhia aérea e aguardar o dia seguinte. Indignados, muitos resolveram ali mesmo que buscariam na justiça a reparação daquele dano.
No dia seguinte, no mesmo horário, pegamos o voo de volta para BH, sem atraso ou outra intercorrência. Mas a idéia de entrar na justiça continuou firme e no dia seguinte à chegada, já havia um advogado que cuidaria daquela questão.
Consultado sobe a melhor forma, fomos orientados a entrar de forma individual, com cada um tendo um processo independente. No dia marcado, fui ao local determinado para a audiência na justiça.
- Bom dia.
- Bom dia.
- O senhor poderia me relatar o que ocorreu no dia daquele voo de Alta Floresta?
- Claro. Chegamos da pescaria para pegar o voo das 14:30h e fomos informados que o nosso voo estava cancelado e só poderíamos embarcar no dia seguinte, no mesmo horário.
- Como estava o tempo? Chovia muito?
- Não, tempo muito bom. Céu de brigadeiro!
- E o que foi alegado para o cancelamento do voo?
- Não nos informaram a razão! Só que o voo estava cancelado.
- Ok. Muito obrigado. O senhor será comunicado sobre o resultado da ação.
Assim como eu, vários colegas passaram pela mesma entrevista. Mantínhamos contato com o advogado que nos dava notícias do andamento daquela causa.
Passados alguns meses, programamos uma pescaria num pesqueiro próximo a Paraopeba. Íamos quatro amigos pescadores e todos haviam participado daquele voo cancelado.
A conversa estava boa, como sempre, e em determinado momento, um deles falou:
- O advogado me ligou ontem dizendo que a minha ação foi julgada. Terei direito a seis mil reais de indenização. Achei estranho porque um outro colega só vai receber cinco mil e a causa é a mesma.
O outro colega que estava conosco comentou:
- Pra mim a indenização será de apenas três mil e oitocentos reais.
- Uai, eu não recebi nenhuma comunicação dele. Vou perguntar sobre o meu caso.
Na mesma hora peguei o celular e mandei uma mensagem ao nosso advogado. "Dr., gostaria de saber sobre o resultado da minha ação referente ao voo cancelado. Meu colega que entrou na mesma ação disse que receberá indenização de seis mil reais. Os outros receberão cinco mil e três mil e oitocentos reais. Queria saber então qual seria a minha indenização."
Aguardei a resposta dele, que veio logo depois.
"- No seu caso, o Juiz disse que ligou na ANAC e eles informaram que o cancelamento do voo foi por problemas meteorológicos. Infelizmente o senhor não tem direito à indenização."
"- Uai, mas eu não posso recorrer informando a indenização que o meu colega vai receber?"
"- Não. Não vale a pena, pois os processos são independentes e haverá muitos custos adicionais, por isso não seria interessante. Infelizmente."
O outro colega que ganharia cinco mil foi reclamar na justiça sobre essa diferença. Resultado: a tempestade caiu também na ação dele e a indenização foi cancelada.
Sem acreditar no que estava lendo, fiquei indignado, pensando naquela situação. Mas aprendi a partir daquele dia que:
- A chuva torrencial pode ocorrer no mesmo lugar e na mesma hora em que o sol quente brilha num céu azul.
- A chuva pode cair muito forte para você, mas não para seu colega sentado na cadeira ao lado.
- O tempo pode mudar completamente para um e não mudar para outro. Tudo dependerá da cara e do humor do juiz!
Então, viva a justiça! Vida que segue. Até uma próxima pescaria.
* Antônio Marcos Ferreira