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Oito anos de vida por uma pinga diária

Oito anos de vida por uma pinga diária

07/03/2023 Antônio Marcos Ferreira

Meu avô, o Seu Délio, é um constante personagem de vários casos que tenho contado.

Casado com Dona Quita durante sessenta anos, foi realmente um manancial de boas histórias, ocorridas na distante Manga, mas também em Belo Horizonte, em suas vindas esporádicas. 

Em geral vinham juntos e aproveitavam para fazer os exames médicos necessários para pessoas idosas. Mesmo após a morte da Dona Quita ele continuou vindo esporadicamente a BH. 

Entre seus costumes, a comida gordurosa e uma pinga diária sempre fizeram parte. Já perto dos noventa anos, esta sua rotina era sagrada para ele. 

Numa dessas vindas a BH resolvemos levá-lo para conhecer o Mineirão. Jogo do Atlético contra o Fluminense. Ele nunca tinha jogado futebol nem tinha preferência por qualquer time.

Começou o jogo e ele mais admirado com a grandeza do Mineirão. Nunca tinha visto coisa tão grande. Quando começou a ver a partida, ríamos muito ao ouvir seus comentários.

Quando um jogador estava no meio e lançava a bola para a ponta ele xingava:

- Ô burro, tá na reta do gol e joga a bola lá pro lado. É besta demais!
- Vô, e se fosse o senhor, como é que fazia!
- Ah, se fosse eu ia só na treita, enganando um, depois outro, e quando visse eu já tava era no gol. (Treita, muito usada nas conversas em Manga, significa esperteza, trapaça).  

A cada lance interessante do jogo a gente ouvia um comentário melhor.

Noutra vinda para a capital, ele foi se consultar com um médico cardiologista, seu sobrinho, que atendia também a toda nossa família. 

Verificando que o seu estado geral era bom, principalmente levando-se em conta sua idade, o médico, após os exames de praxe, o chamou e disse:

- Tio Délio, de maneira geral o seu estado de saúde é bom, mas nós vamos ter que mudar algumas coisas aí, viu? 
- Mudar o que, Dotô? 
- Essa comida gordurosa e salgada que o senhor come não é saudável. E também precisa parar com essa pinga que o senhor anda tomando diariamente. Precisa cortar a carne, ter uma comida mais light, mais saudável. 

Surpreso e admirado com o que ouvira, perguntou:

- Ô Dotô, me diz uma coisa: se eu fizer essas coisas todas que o senhor tá me falando, eu posso viver mais quantos anos? 
- É difícil dizer, tio Délio. Mas acho que o senhor ainda pode viver uns oito ou dez anos. 
- Ô moço, pois sabe de uma coisa? Ocê pode ficar com esses oito anos procê e deixa que eu vou continuar comendo carne e tomando minha pinga. 

Saiu da consulta com a certeza de que não iria seguir o conselho do médico. Morreu dez anos depois, aos 97 anos. Mas sem perder a companhia da gordura na comida. E certamente acompanhado de sua inseparável pinga.

* Antônio Marcos Ferreira

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