O acordo entre a lua e a Cemig
O acordo entre a lua e a Cemig
Quando andamos pelo interior de Minas Gerais de forma atenta, verificamos que este é um celeiro de boas histórias e casos muito engraçados.
E o cenário político nessas regiões sempre nos proporciona muitos deles também. Próximo a Manga, minha terra natal, às margens do nosso querido rio São Francisco, existe o município de Matias Cardoso, desmembrado de Manga e emancipado em 1993.
Conhecido inicialmente como Morrinhos, uma curiosidade interessante desse município é que nele foi construída a primeira igreja do estado de Minas Gerais, a Igreja de Nossa Senhora da Conceição.
Durante muito tempo foi um distrito de Manga e conviveu com muitas dificuldades, entre elas a falta de energia elétrica. E logicamente este era um grande sonho dos seus moradores.
Um sonho que se tornaria realidade no ano de 1983, quando um recurso do governo federal permitiu que a prefeitura de Manga pagasse para a Cemig fazer a instalação de toda a estrutura da iluminação pública.
E, logicamente, um acontecimento desse não poderia passar em branco. A prefeitura de Manga preparou então uma grande festa para marcar aquele fato.
A comunidade, muito eufórica com a nova realidade que viria, se movimentou para participar daquela festa. E os políticos de Manga também, inclusive um Senador da República fora convidado e estava presente.
Foi montado um grande palanque, onde todos se espremiam na esperança de serem lembrados por ajudarem a proporcionar este benefício ao seu povo.
A lua cheia também marcou presença, deixando a noite ainda mais linda e iluminada. E vários políticos foram se revezando nos discursos.
E juntamente com os políticos oficiais, lá estava o Humberto, meu irmão, que coordenava o evento e também seria um dos oradores daquela noite. Quando chegou a sua hora, apanhou o microfone para fazer o seu discurso.
Exatamente naquele momento, houve o primeiro blackout geral na iluminação. Alguns segundos de muita tensão, escuridão total e uma decepção geral. Mas a interrupção foi muito rápida.
Ocorre que há um retardo entre o retorno da energia e o acendimento das lâmpadas de vapor de mercúrio. Mas o microfone já estava funcionando.
Percebendo isso, Humberto pegou o microfone e anunciou para o povo: - Pessoal, vocês fiquem calmos. Isso foi um pedido que a lua fez para a Cemig para que, pela última vez, ela iluminasse, sozinha, a noite de Matias Cardoso.
Em seguida as luzes se acenderam e foi um alvoroço geral. Muitas palmas e a festa continuou pelo resto da noite, com muita música.
Em seguida, os organizadores e os políticos foram para um jantar na casa da dona Ana Rita, próxima ao local do palanque.
Nessa oportunidade, o senador interpelou o Humberto: - Rapaz, eu nunca vi uma coisa ser tão bem ensaiada, tão bem coordenada e dar tudo tão certinho assim como esse que vocês fizeram. Esse negócio de apagar as luzes e depois acender na hora certinha!
Aí foi uma risada geral! Mal sabia ele que nada tinha sido combinado, foi tudo um acidente. O que houve foi a presença de espírito e uma saída política para dar uma explicação àquele povo sobre aquele apagão.
Essa história ficou famosa por muito tempo. Mas o Humberto só não explicou como é que a lua fazia o contato com a Cemig. Ainda bem que ninguém perguntou!
* Antônio Marcos Ferreira
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