Filosofia na calçada
Filosofia na calçada
As cidades do interior de Minas, e penso que de outros estados também, nos proporcionam oportunidades de conviver com as pessoas em muitas situações comuns que, no entanto, revelam suas características e personalidades.
O dia a dia é por isso sempre recheado de boas conversas, amenidades, risos e descontração. Em Manga, minha terra natal, vivemos uma abundância desses personagens.
Neste universo, lembro-me de um senhor, fazendeiro bem sucedido e dono de uma madeireira que abastecia a cidade e vizinhanças. Tinha vários filhos, com os quais convivemos na nossa infância e adolescência.
Seus filhos também viraram fazendeiros, só que resolveram comprar fazendas no Pará, onde as condições do clima e as grandes extensões de terra favoreciam a realização de bons negócios. Era daqueles que numa conversa sempre revelava sua personalidade sarcástica.
Enquanto seus filhos buscavam terras no Pará, Sr Pedro Braga (nosso personagem) gostava de se sentar numa cadeira de balanço em frente à sua casa, conversando com quem passava e quase sempre parava para um dedinho de prosa.
Certo dia, enquanto proseava com alguns amigos, passou pela rua outra personagem conhecida na cidade, a "Geralda doida". Passou fazendo muitos gestos, o que chamou a sua atenção. Virou-se para os amigos e perguntou:
- O que é que essa muié tem?
Um dos amigos, ao ver de quem se tratava, foi logo explicando:
-Não, Seu Pedro, essa aí é doida.
- Doidas todas elas são. Essa pode é estar mais atrapalhada!
Risada geral.
Certa vez, depois de terem comprado as fazendas no Pará, seus filhos se reuniram com ele para explicar como eram diferentes as coisas por lá.
Estavam entusiasmados com as diferenças de clima, de regime de chuvas e outras coisas quando ele, do seu jeito peculiar, perguntou:
- Ô minino, você viu urubu lá?
- Vi, sim, pai.
- Pois é, e que cor era ele?
- Era preto, uai!
- É... urubu é preto em todo lugar, viu?
Dessa forma ele quis diminuir o entusiasmo dos filhos para alertá-los, dizendo:
- Cuidado! Os problemas são iguais em qualquer lugar, viu?
E sentado na cadeira de balanço, continuava filosofando na calçada!
* Antônio Marcos Ferreira é engenheiro eletricista, aposentado da Cemig e vice-presidente da Fundação Sara.
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