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O profissional e a profissão

O profissional e a profissão

25/08/2024 Menildo Jesus de Sousa Freitas

“Ora, poderias encontrar alguma coisa que se ligue mais estreitamente à ciência do que a verdade? Logo, quem ama de fato a ciência deve, desde a juventude, desejar tão vivamente quanto possível apreender toda a verdade.” (Sócrates in A república de Platão).

É assegurado a qualquer brasileira ou brasileiro o livre exercício de trabalho, profissão ou ofício, conforme o disposto no art. 5°, inciso XIII da constituição do Brasil. Chama-se atenção para o fato de o artigo retro citado tratar de profissão ou ofício.

A visão geral que se tem, a qual aqui se adere, distingue uma e outra denominação, relacionando-se o ofício a arte ou habilidade predominante do exercício de atividade manual, mecânica ou corporal, que pode ser adquirida mediante instrução de outra pessoa com o conhecimento e habilidade no ofício ou mesmo escola especializada.

A profissão irá requerer daquele que a exerce qualificação ou formação acadêmica, a qual, para fins deste artigo, adotar-se-á o termo educação formal. 

Da distinção que acima se fez, extrai-se que a profissão necessita, por óbvio, de formação acadêmica e, se possível, a melhor formação.

Mas não menos importante é dizer que a formação, na prática, não se restringi apenas ao formalismo, ou seja, apenas a graduação ou outra forma de o profissional assim ser considerado, conforme se lhes impõem as normas que asseguram a chancela do poder público ou outra forma de reconhecimento, da aquisição da ciência necessária ao exercício da profissão.

Mas todos trazem outra formação, aquela que se adquiri do convívio familiar e no meio do qual se acerca o indivíduo, o meio social no qual possa estar inserido a qual, para fins deste artigo, adotar-se-á a expressão educação informal.

Entende-se ser esta tão importante quanto a formal, uma vez que ninguém é o fim em si mesmo ou atua por si só, ainda que se trate de Robinson Crusoé, necessita-se sempre de um Sexta-Feira (vide The Life and Strange Surprizing Adventures of Robinson Crusoe, of York, Mariner - Daniel Defoe – tradução no Brasil para Robinson Crusoé).

Todos atuam para alguém, seja pessoa ou pessoas físicas pessoa ou pessoas jurídicas, além do necessário suporte ou auxílio de subordinados ou de pares.

A educação informal, ou seja, tudo de saber e conhecimento que o indivíduo receba no seio da família ou do meio ambiente no qual inserido, certamente contribuirá para amalgamar seu caráter, não implicando dizer, necessariamente, que tudo o quanto lhe foi imposto ou voluntariamente absorvido tenha que carregar consigo de forma permanente ou que não possa ser alterado, não possa se desvencilhar se assim desejar. Mas certo é que muito lhe marcará.

Essa formação poderá influir no modo pelo qual se dará o relacionamento no meio profissional pois, como dito, em razão de estar insculpida no caráter, relacionando-se muito estreitamente com crenças, costumes, modo pelo qual está acostumado a lidar em ambientes ou situações sociais, ação ou reação frente a atitudes, ideias ou posições dos outros.

Esclarece-se, por necessário, que não se tem a pretensão de tecer comentários comportamentais ou buscar dizer acerca de como ou a melhor forma de o profissional agir diante de situações que se lhes possam apresentar e que não possuam relação direta com a formação do ofício ou graduação escolhida, mas envolva a sua educação informal ou pessoal.

Isso cabe aos profissionais que tenham a competente formação, como, por exemplo, psicólogos, terapeutas ocupacionais etc.

Temos por fito apenas dizer da importância de o profissional ter ciência e a consciência da situação até então aqui discorrida, muitas vezes não perceptível ao próprio profissional que, em razão disso, possa vir a entender que suas crenças valores etc. devam se sobrepor a quaisquer ideias ou ações que possam lhe parecer antagônicas as suas.

“Aquele(a) que tem o costume de chamar de “estranhas” todas as coisas que estão além da sua capacidade de compreendê-las ou aceitá-las, geralmente costumar viver cercado por montanhas de estranhezas”. (adaptação livre de trecho da obra de Edgar Allan Poe – A Carta Roubada).

Entende-se que é sempre interessante e toda vez que se fizer necessário, a realização de revisões ou reavaliações de comportamentos que possam vir a influir na tomada de decisão do profissional, seja por haver sido alertado direta ou indiretamente pelo outro ou derivada de mera autocritica:

“Vês alguma diferença entre cegos que pensam seguir pelo caminha certo e aqueles que pensam possuir opinião verdadeira a respeito de alguma coisa, mas sem ter a compreensão dessa mesma coisa?” (Sócrates in A república de Platão).

Concomitantemente as questões intrínsecas ao ser e sua formação de vida, formação pessoal, deverá se submeter a educação formal requerida ao exercício da profissão desejada, atendendo-se assim, também, aos ditames legais necessários ao exercício daquela profissão, dando-se o somatório da educação informal com a educação formal.

A educação formal dará ao indivíduo conhecimentos técnicos e científicos acerca das ações necessárias para o seu bom desempenho profissional, ou, de outro modo, acerca de tudo que é necessário ter ciência ou saber no que diz respeito ao exercício da profissão escolhida.

O conhecimento abre caminhos, apontando soluções e meios em caso de situações adversas com as quais o profissional possa se deparar ou tende a garantir maior proveito no caso de situações que se apresentem benéficas, pois aquele que não dispõe do saber se atira de olhos fechados ao primeiro abismo que lhes apareça a frente, por tê-lo como única opção ou por não ter opção alguma, corroborando citamos Sócrates in A república de Platão:

“E, evidentemente, a prudência nas deliberações é uma espécie de ciência; de fato, não é por ignorância, mas por ciência, que se delibera bem.”   

Educação formal é a ação social e legal visando promover o desenvolvimento das capacidades das quais o indivíduo entenda ter afinidade ou aptidão e vise, segundo sua percepção, melhor atendimento ao que possa ser demandado pelo mercado de trabalho.

Ainda hoje é forma de se promover a realização e transformação social, embora não se assegure de forma imediata a inserção do indivíduo no mercado de trabalho.

Mas, independentemente da inserção no mercado de trabalho ou não, certo é que há de propiciar condições melhores e adequadas em relação a competitividade que há na ocupação e exercício profissional, dada a grande oferta de profissionais não acompanhada na mesma proporção da demanda por mão-de-obra.

Entende-se não haver dúvidas acerca da importância da formação profissional e de boa qualidade, não só para o desenvolvimento e realização pessoal, bem como para o desenvolvimento e sustentabilidade da economia nacional.

O desenvolvimento econômico pressupõe mais e mais o uso de novas tecnologias, aprimoramento de conhecimento que se põem em constante evolução, requerendo do profissional a busca constante por atualização que, em massiva maioria, requer a volta aos estudos formais em instituição que lhe ofereça aquilo que busca.

Tudo isso levou a predominância de formação do profissional focada na utilidade, na colocação no mercado, voltada para a técnica, para a prática, relegando-se ao segundo plano ou total esquecimento, infelizmente, da formação humanística, remetendo-nos, por analogia, a situação imposta ao personagem interpretado pelo genial Charles Chaplin no filme Tempos Modernos (Tempos Modernos 1936, EUA, Charles Chaplin).

Pode-se dizer que a pessoa do profissional precede a profissão, por óbvio e, em decorrência disso, chama-se atenção para o fato de sua formação de vida ou pessoal ter extrema relevância, sendo necessário que o profissional tenha a ciência de sua importância no trato do dia a dia enquanto no exercício da profissão que abraçou.

A formação do caráter deve ser observada, preservando-se como se fora uma casa erguida ao longo do tempo, não se propugnando sua demolição plena, caso tenha sido erigida de forma que não se adeque aos parâmetros que se lhe exigem, seja por parte do meio ambiente seja pela necessária autocritica, mas que possa ser remodelada através da consciência e do autoaprendizado.  

Pode-se concluir que a educação formal, a metodologia científica necessária ao exercício pleno da profissão, adotando-se aqui também a analogia com uma casa, irá requerer para sua robustez e utilidade que esteja assentada sobre alicerce forte e confiável.

O exercício da profissão sempre haverá de primar, em primeiro lugar, pela formação profissional, mas é inegável reconhecer que o ambiente cobra atos ou ações envolvendo o lado da formação pessoal, formação de vida ou educação informal.

Assim, ouso aqui expor que a exata observação e plena consciência desses dois componentes ou dicotomia é requisito essencial ao bom exercício profissional.

* Menildo Jesus de Sousa Freitas é mestre em Contabilidade e membro da Academia Mineira de Contabilidade.

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