Não aos interesses multinacionais. Sim à Lei Seca
Não aos interesses multinacionais. Sim à Lei Seca
O tratamento que está sendo dado pelas autoridades brasileiras à decisão de liberar a venda de bebida alcoólica nos estádios de futebol durante a copa do mundo de 2014, coloca em cheque a credibilidade e a sustentação de nossas leis perante a opinião pública mundial, num país que tem um grande índice de acidentes e mortalidades no trânsito ligadas à questão da embriaguez ao volante.
Todo o esforço dedicado ao combate dessa conduta inadequada à segurança no trânsito brasileiro poderá ser atingido por uma decisão imposta pelos mandatários das leis de consumo, que ignoram e desrespeitam qualquer medida que obstrua o comércio e a venda de seus produtos. A imposição externa pressiona nosso governo a desconsiderar nossas leis, justamente num ano eleitoral que elege nossos representantes nas instâncias de maior representatividade.
Como ignorar uma grande massa de torcedores motoristas que se embriagarão por todo o país antes, durante e depois dos eventos esportivos, dirigindo pelas ruas e estradas de nossas cidades? Sabemos que não possuímos infraestrutura suficiente para fiscalizar essa demanda de motoristas embriagados e, menos ainda, leis que assegurem punição para as infrações oriundas dessa bebedeira que se multiplicará. Vir aos meios de comunicação dizer que coibirá com fiscalização essa infração será um engodo.
Caso o governo brasileiro abra uma “concessão” para permitir riscos de acidentes de trânsito ocasionados por embriaguez ao volante, contrariando a Lei 11.705 que vem sendo repensada e reformulada para responder aos anseios de nossa sociedade, estaremos retrocedendo em nossa política de segurança pública e atestando a incapacidade e vulnerabilidade de um país que busca a cidadania plena de seu povo, que esse governo atual tanto apregoa oportunizar.
Devemos sim dar o exemplo ao resto do Mundo e, não há melhor oportunidade do que esta, de que somos um país soberano, amadurecido, respeitoso e respeitado. Na década em que a ONU - Organização das Nações Unidas propõe aos 192 países membros, dentre eles o Brasil, ações de educação e segurança no trânsito para combater 1.200 mil mortes/ano no Mundo, devemos ter a responsabilidade de desempenhar esse papel de relevância mundial, e dizer NÃO aos interesses multinacionais escusos e oportunistas, danosos a qualquer sociedade que se empenha e se esforça para tornar seu país desenvolvido.
*Marccelo Pereyra – Psicólogo; Coordenador de Projetos Educativos de Trânsito da ABETRAN; Autor do livro "Motorista Brasileiro".