O despacho das térmicas nos períodos seco e úmido
O despacho das térmicas nos períodos seco e úmido
Historicamente, a transição entre os períodos seco e úmido no Brasil, particularmente nas regiões Sudeste e Nordeste, gera dúvidas sobre a necessidade ou não de despacho das usinas termelétricas.
Mesmo após a criação das Curvas de Aversão a Risco – CAR a questão persiste, dado que as premissas nas quais essas curvas se baseiam podem ser superadas, deixando dúvidas sobre a real segurança de se aguardar que sejam tocadas, para só após serem acionadas as usinas térmicas.
Ocorre que sempre existe o dilema entre antecipar a geração térmica e correr o risco de se verter a correspondente energia, o que se verifica em períodos chuvosos superiores à Média de Longo Termo – MLT, ou o contrário, ou seja, postergar a geração térmica e chegar ao final do período úmido a níveis críticos de armazenamento, com significativo impacto no risco de déficit de energia.
Tal dilema, que remonta aos tempos do Grupo Coordenador para Operação Interligada – GCOI, continua presente e tende a se intensificar, na medida em que o reservatório equivalente do Sistema Interligado Nacional – SIN vem perdendo sua capacidade de regularização, frente a um crescimento firme do mercado de consumo de energia elétrica.
Como a perspectiva de construção de novas usinas com reservatórios de porte é de baixa probabilidade, visto que a opção adotada pelo país é de se fixar nas hidrelétricas a fio d’água, o “sofrimento” vai se repetir a cada final/princípio de ano.
Entretanto, só é possível ter a certeza de se ter tomado a decisão correta após o final da estação chuvosa, quando se tem definido, além do nível de armazenamento para suportar o próximo período seco, a situação de se ter estocado total ou parcialmente a energia correspondente à geração térmica despachada.
O ideal é que o aproveitamento tenha sido total, ou seja, que não tenha sido necessário verter qualquer quantidade de água que poderia ser convertida em energia.
Sob tal enfoque, é importante analisar a operação energética realizada na transição 2012/2013, particularmente tendo em consideração os altos valores de despacho térmico, que geraram muitos questionamentos, principalmente em decorrência dos elevados montantes de Encargos de Serviços de Sistema – ESS a que deram causa.
Um parâmetro para essa análise é a operação da Usina de Itaipu, uma vez que é a última da cascata dos sistemas Sudeste/Sul e, portanto, a mais propensa a verter água.
Como praticamente não ocorreram vertimentos em Itaipu durante o ano de 2013, assim como da mesma forma não ocorreram nas demais usinas do SIN, fica claro o acerto da operação energética conduzida pelo Operador Nacional do Sistema elétrico – ONS, que levou aos níveis de armazenamento mais favoráveis possíveis em todos os subsistemas (embora não tão confortáveis) e garantiram o aproveitamento total da energia gerada pelas termelétricas.
Em outras palavras, fica demonstrado que a decisão pela geração termelétrica total disponível, mesmo fora da ordem de mérito, foi a melhor que poderia ser tomada, uma vez que foi armazenada toda a água possível, garantindo a maximização da segurança energética futura.
Se não tivesse havido tal decisão, estaríamos amargando uma situação muito mais crítica, sem possibilidade de reversão do arrependimento.
* Carlos Ribeiro atua como presidente do Conselho de Administração da ABCE e gerente do Departamento de Operação da CTEEP.