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Crise da água respinga na energia

Crise da água respinga na energia

28/03/2014 Martim Afonso Penna

Água e energia estão intimamente interligadas; são interdependentes. No Brasil, é fácil perceber essa relação.

Cerca de 68% da energia elétrica do País vem das hidrelétricas. O lado positivo é o caráter não poluente dessa fonte energética. Porém, como dependente do regime hídrico, e, consequentemente, de fatores fora do controle humano, a matriz elétrica brasileira está sujeita a vulnerabilidades.

Em tempos de seca, o risco de racionamento de energia elétrica aumenta. É justamente por um desses períodos complexos que o Brasil passa atualmente. Se as águas de março não chegarem e o nível dos reservatórios continuar caindo, há chances razoáveis de racionamento de energia elétrica , conforme apontam técnicos do setor. A situação é preocupante. Em janeiro e fevereiro, meses tradicionalmente chuvosos, o nível da chuva ficou, respectivamente, em 54% e 39% da média histórica.

O índice de fevereiro é o segundo pior para o mês em 84 anos, e, o de janeiro, o terceiro pior. A situação não tende a melhorar neste mês, em que se comemorou o Dia Mundial da Água, que teve como tema neste ano a relação da água com a energia. O Operador Nacional do Sistema Elétrico projeta para março a afluência da quantidade de água equivalente a 67% da média de longo termo habitual no período. Treze anos após o racionamento que marcou a população do País, o sistema elétrico brasileiro está mais preparado para lidar com a escassez da água.

Há mais usinas térmicas, que não dependem do regime das chuvas. Todavia, o País consome mais energia hoje. Além disso, a opção, nos últimos anos, pela redução do volume útil dos reservatórios construídos nas hidrelétricas acentua a dependência da boa vontade de São Pedro. Especialistas apontam que, atualmente, o nível mínimo dos reservatórios em construção permite geração de energia por cinco meses, antes eram planejados para cinco anos.

A redução nos volumes úteis dos reservatórios é uma opção para diminuir o impacto ambiental das hidrelétricas – as áreas alagadas impactam significativamente o ambiente. Porém, para suprir a demanda por energia, aumenta-se o uso de termelétricas, que são bem mais poluentes e responsáveis por emissões de gases de efeito estufa, que contribuem para as mudanças climáticas. A energia térmica também é mais cara. O uso de geração térmica em vez de hidrelétrica encarece no mínimo cinco vezes o custo da energia.

Com o acionamento das usinas térmicas em potência máxima, os custos na geração de energia estão maiores, e esse aumento não foi repassado ainda para o consumidor cativo residencial e o pequeno consumidor industrial e comercial. A indústria eletrointensiva, como a de cloro-soda, que é um consumidor livre com contratos negociados baseados em preço e não tarifas já vem sentindo esse impacto, gerando perda de competitividade com efeito em cadeia na economia.

Resolver o problema de energia do Brasil passa necessariamente pela questão da gestão da água. A interligação dos temas pede uma solução que olhe para esses dois lados da mesma moeda. É fato que a decisão de tornar o País menos dependente da energia hidrelétrica com o uso das térmicas, eólicas ou fotovoltaicas é acertada. Se essa escolha não fosse tomada, o Brasil estaria, possivelmente, em uma situação bem pior agora. Porém, é preciso investir em fontes menos poluentes que as térmicas e mais baratas.

Do outro lado, é necessário que a gestão da água seja feita de forma mais ampla, o sistema tem que se antecipar às variações do clima. O planeta entra em uma fase de eventos extremos e períodos de seca se intensificarão. Uma solução seria fortalecer os órgãos responsáveis pelo gerenciamento da água, como a Agência Nacional (ANA), e incentivar a gestão compartilhada. Água e energia caminham juntas e devem ser prioridades constantes de qualquer governo.

*Martim Afonso Penna é diretor-executivo da Abiclor (Associação Brasileira da Indústria de Álcalis, Cloro e Derivados).



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