Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O centenário cinema de Chaplin em busca do ouro

O centenário cinema de Chaplin em busca do ouro

26/11/2014 Guido Bilharinho

Há muita diferença entre O Garoto (The Kid, EE.UU., 1920) e Em Busca do Ouro (The Gold Rush, EE.UU., 1925), de Charles Chaplin.

Em decorrência da forca intrínseca do drama aventuroso em que se envolve e se empenha Carlitos, a personagem apresenta-se mais contida e, portanto, mais próxima da normalidade comportamental. Raramente ocorre cena em que seu histrionismo é deliberado e, portanto, forçadamente cômico. Nesse sentido, apenas quando está dançando no saloon é que se tem sequência marcada por fato insólito e atitudes disparatadas, circunstâncias bastante repetitivas em outros de seus filmes, curtas, médias ou longas-metragens.

Mesmo assim, não se prolonga essa passagem, que possui suficiente quando não exata duração. No mais, o filme é pautado pela seriedade de acontecimentos e da conduta de Carlitos, não havendo a costumeira e impositiva comicidade na exploração exagerada de seus sestros e extravagâncias. A personagem não perde, no entanto, suas características básicas. Pelo contrário, é acentuada, no caso, sua humanização, já que livre de alguns dos cacoetes que a singularizam e que o público, mesmo ou principalmente o intelectualizado afeito a outras artes, aceita complacentemente.

Nesse filme, o que se tem, do início ao fim, com a citada exceção da cena do saloon, é personagem gizada com autenticidade, orgânica e intelectualmente integrada no ambiente físico e humano em que se meteu em busca de ouro. Por isso, além da coerência e constância de sua conduta em todas as situações, ressalvado o episódio mencionado, que incide na costumeira comicidade, suas duas iniciativas mais relevantes, que se celebrizaram e tornaram-se antológicas - a refeição da bota cozida e a coreografia dos pães - inserem-se no contexto e o compõem.

No caso, cumpre destacar que a excelência dessas cenas como de outras ocorrentes em muitos dos filmes de Chaplin não decorre de atributos cinematográficos, aspecto em que não se salientam, mas, de concepção e estruturação ficcional, pelo que poderiam (e podem) acontecer numa peça de teatro, em romance ou conto e até em dramatização (a da bota) circense. Aliás, como toda obra chapliniana, sua virtude maior (ou única) é ficcional. Nesse sentido e nesse filme, como talvez em nenhum outro, Chaplin aplica em cada acontecimento a dose certa de duração e, principalmente, de pertinência comportamental das personagens, daí decorrendo a consistência do filme, servido também, em não menor dose de importância, de persistentes equilíbrio e densidade poética, presentes em todo seu desenrolar.

Qualidades estas que conseguem abrandar as limitações de cunho cinematográfico e mesmo ficcional que o caracterizam. Aquelas, de ordem formal, por seu convencionalismo e, estas, de natureza temática pela ênfase na estória, com seu ordenamento e condução tornados o objetivo da realização. A suplantação dessas restrições com elevação do filme ao patamar artístico é performance notável pelas dificuldades intrínsecas ao projeto tal como concebido.

Não é, pois, sem razão, que o filme agrade ao público e não desagrade à crítica, visto conter elementos (emocionais e narrativos) que atingem o primeiro e fatores (poéticos e racionais) caros à segunda, em rara operacionalidade de opostos colocados lado a lado e simetricamente amalgamados. Até mesmo os laivos românticos atenuam-se no filme, onde sobressai o tratamento a que se submete as agruras da fome, balizada entre os limites físicos da resistência humana e sua extrapolação ótica, análoga à das miragens nos desertos. (do livro Clássicos do Cinema Mudo. Uberaba, Instituto Triangulino de Cultura, 2003)

*Guido Bilharinho é advogado atuante em Uberaba, editor da revista internacional de poesia Dimensão de 1980 a 2000 e autor de livros de literatura, cinema, história do Brasil e regional, entre eles, Brasil: Cinco Séculos de História, inédito.



Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O Pronto Atendimento e o desafio do acolhimento na saúde

O trabalho dentro de um hospital é complexo devido a diversas camadas de atendimento que são necessárias para abranger as necessidades de todos os pacientes.

Autor: José Arthur Brasil


Como melhorar a segurança na movimentação de cargas na construção civil?

O setor da construção civil é um dos mais importantes para a economia do país e tem impacto direto na geração de empregos.

Autor: Fernando Fuertes


As restrições eleitorais contra uso da máquina pública

Estamos em contagem regressiva. As eleições municipais de 2024 ocorrerão no dia 6 de outubro, em todas as cidades do país.

Autor: Wilson Pedroso


Filosofia na calçada

As cidades do interior de Minas, e penso que de outros estados também, nos proporcionam oportunidades de conviver com as pessoas em muitas situações comuns que, no entanto, revelam suas características e personalidades.

Autor: Antônio Marcos Ferreira