Sérgio Machado, o abraço de afogado
Sérgio Machado, o abraço de afogado
As gravações elaboradas por Sérgio Machado constituem o escândalo nacional dos últimos dias.
Tanto pelo seu conteúdo quanto pelas figuras que envolveram. Já derrubaram o ministro do Planejamento e enredam o presidente do Senado, um ex-presidente da República, além de citar varias lideranças políticas, ministros, magistrados e procuradores.
O desconforto é generalizado e, se analisadas fora de contexto, as peças podem levar a consequências desastrosas, típicas da figura popularmente conhecida como “abraço de afogado”, onde o indivíduo em perigo, na tentativa de salvar-se, agarra-se a outro e ambos acabam perecendo.
Machado, que já passou por diferentes instâncias políticas, vê a Lava Jato cada dia mais próxima de sua cabeça e, como forma de defesa, saiu gravando figurões a quem tinha acesso. Os trechos divulgados, embora pinçados pelo interesse jornalístico, salvo melhor juízo da autoridade competente, não revelam o cometimento de crimes por seus interlocutores que, em boa parte das vezes, demonstravam pressa em terminar a conversa.
As inconfidências, pelo que se denota, são decorrentes do rumo que o próprio autor das gravações deu às conversas, arrancando opiniões dos escolhidos para serem seus bodes expiatórios. Mesmo contendo trechos embaraçosos, os diálogos não indicam o cometimento de crimes, até porque opinião sem ação não constitui delito.
Ainda mais: as gravações de Machado, até onde sabemos, não foram executadas com autorização judicial e, nessas condições, pouco ou nada valem, mas causam danos irreparáveis à imagem dos envolvidos. É fundamental entender que mesmo nas criticadas delações premiadas, é exigido que as informações prestadas sejam verdadeiras e façam sentido no contexto investigado.
Só depois disso é que há a homologação judicial. Com certeza, nas gravações de Machado, há que se questionar inicialmente a legalidade da produção do material para só depois disso, pensar em investigar o seu conteúdo.
Por mais que tenham falado, não se pode ignorar que Romero Jucá, Renan Calheiros e José Sarney conversaram com Machado em caráter particular, algo parecido como atitude de solidariedade humana ao amigo metido em encrencas.
Tudo o que ali foi dito, é bom entender, foi mediante provocação de um roteiro de conversa que o autor montou ardilosamente para utilizar os amigos importantes como escudos protetores em relação às acusações que apontam em sua direção.
Desde que surgiram, os gravadores de vozes e imagens, fabricados para facilitar a vida, também têm servido para ações criminosas como as agora praticadas pelo ex-senador que, com certeza, agora terá de responder por mais esse crime. Prejuízo para a convivência entre as pessoas...* Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).