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A tecnoestrutura e os políticos

A tecnoestrutura e os políticos

03/05/2020 Vicente Bagnoli

"Não há nome para todos que participam da tomada de decisões em grupo ou para a organização por eles formada. Proponho chamar essa organização de Tecnoestrutura".

Assim, John Kenneth Galbraith conclui sua análise sobre A Tecnoestrutura, publicada em seu livro O Novo Estado Industrial, de 1967, que continua atual e merece ser revisitado para compreender, sobretudo no contexto de crise, não apenas o universo das empresas, mas também dos políticos.

O indivíduo em nossa cultura, como bem observa Galbraith, tem muito mais destaque do que o grupo.

Pois é do indivíduo que se espera feitos, nutre-se simpatia pelo indivíduo que se destaca dos demais, defende-se esse indivíduo antes de acusá-lo e em muitas vezes só se existirem provas contundentes.

O empresário de sucesso é o indivíduo com visão, ousadia e coragem para empreender e ser exitoso. O indivíduo tem alma, logo, é personificado. Já o grupo é etéreo, indeterminado, desprovido da imagem de um líder.

Mas ao final, quem merece receber os louros da vitória, ou o fardo do fracasso: o indivíduo, isoladamente, que sozinho se destaca com ideias e assumindo riscos, ou é o coletivo, o grupo de indivíduos que reunidos em suas especificidades trabalham para alcançar as grandes conquistas e também arcar com as derrotas?

Diferentemente do indivíduo, e consequentemente da empresa nos moldes ainda do séc. XIX, quando se tratavam de projeções de seus proprietários, que as dirigiam muitas vezes atribuindo à elas seus valores éticos e morais, na grande empresa moderna, na maioria das vezes, os seus dirigentes são desconhecidos e não se confundem com os proprietários das ações, ainda mais desconhecidos.

O poder na empresa moderna não é mais delegado ao indivíduo, mas à organização, e o esforço bem-sucedido da organização possibilita, inclusive, a imortalidade da empresa.

Essa organização de pessoas é o grupo que, reunido, acumula experiência e conhecimento técnico e científico, avalia as contribuições recebidas diante de sua relevância e confiabilidade, para então tomar decisões embasadas nas informações recebidas.

O processo decisório na empresa baseia-se nas informações prestadas por diversos indivíduos que constituem o grupo em razão de três necessidades apontadas por Galbraith.

A primeira diz respeito às exigências tecnológicas, de modo que o desafio é dotar indivíduos comuns com informações detalhadas e profundas e combinar esses conhecimentos com o de outros indivíduos também comuns, mas especializados.

A segunda se refere à combinação de indivíduos com talentos especializados para planejar diante de fatores externos, uma vez que o planejamento exige vasta quantidade de informações.

A terceira é a necessidade de coordenação dos diversos indivíduos especializados, de modo que o talento de cada indivíduo seja disposto para o interesse comum da empresa.

Em suma, como ressalta Galbraith, "… a informação deve ser extraída de vários especialistas, testada quanto à sua confiabilidade e à sua relevância e utilizada para tomar uma decisão".

A decisão na empresa é algo que foi deliberado por um grupo, fazendo com que esta decisão não possa ser reformada por um indivíduo. Para modificá-la, faz-se necessário outras informações apresentadas por um grupo de especialistas.

O indivíduo tem êxito dessa forma, pois sozinho detém apenas parte do conhecimento do todo, por mais preparado e inteligente que seja. "A decisão de grupo, exceto se for afetada por outro grupo, tende a ser absoluta", observa Galbraith.

Outrossim, ao combinar pessoas especializadas para prover as melhores informações para a tomada de decisão, permite que a quem cabe a última palavra na estrutura da empresa esteja protegido quanto à eventuais responsabilizações.

Nesse sentido, pela teoria das red flags, caso a tomada da decisão tenha sido feita a partir das melhores informações disponíveis e nada em contrário fora assinalado, não há que se falar em responsabilidades.

Assim também, pela teoria do rely on others não significa que quem decide simplesmente chancela a informação de terceiros, mas nela pôde confiar para tomar a decisão.

No universo da política, a Tecnoestrutura e as teorias das red flags e rely on others também devem ser observadas.

Toma-se como exemplo o chefe de um poder executivo eleito para desempenhar tal função. Sozinho, apesar do carisma que possa nutrir na população, é apenas um indivíduo que quiçá detém algum conhecimento técnico e científico e, quando muito, detém parte do conhecimento.

Imagine tal indivíduo cuidando dos mais diversos temas, como saúde, economia, trabalho, justiça, segurança, meio ambiente, previdência, dentre tantos outros.

Evidentemente para ser exitoso o indivíduo buscará um grupo de outros indivíduos talentosos, cada qual na sua especialidade, para que de forma organizada consigam entregar à sociedade o que se espera de um bom governante.

Ao decidir com base na melhor informação técnica e científica disponível, a decisão é difusa e, caso não alcance o resultado esperado, era o que no momento da tomada da decisão se apresentava como o certo a fazer.

Por outro lado, caso o governante contrarie aquilo que indicam as informações do grupo e negligencie os alertas, as red flags que lhe são apresentadas, ele passa a ser o único responsável pela decisão tomada.

No universo da empresa, tal decisão poderá representar a demissão e até mesmo a responsabilização do indivíduo empresário.

Já no universo da política pode significar o sucesso ou o fracasso do indivíduo político diante do escrutínio popular.

Como bem escreveu Galbraith, "… não se deve supor que um chefe possa substituir nem sequer retificar a inteligência organizada em decisões essenciais".

* Vicente Bagnoli é Professor da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie e advogado.

Fonte: Assessoria de Imprensa Universidade Presbiteriana Mackenzie



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