Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O descaso e a “carteirada” frente à pandemia

O descaso e a “carteirada” frente à pandemia

13/08/2020 Maria Emília Rodrigues

A obra Raízes do Brasil de Sergio Buarque de Holanda, originalmente publicada em 1936, analisa elementos fundamentais presentes na cultura brasileira que remontam ao nosso passado colonial e escravagista.

Em um dos capítulos, o autor analisa a cordialidade como traço marcante que impera em nossas relações sociais. Diferentemente do que se costuma pensar, o homem cordial não é propriamente gentil ou educado.

Cordial tem origem na palavra latina core que significa coração, ou seja, trata-se de uma atitude muito mais guiada pelos sentimentos (bons ou ruins) do que pela racionalidade.

Tal comportamento seria um entrave para a formação de um Estado moderno no Brasil, pois ao invés de uma organização racional baseada na eficiência, impessoalidade e respeito às normas, temos um Estado marcado pelo patrimonialismo, em que o público se confunde com o privado.

Cargos e funções seriam distribuídos conforme vínculos pessoais e largamente utilizados para a obtenção de privilégios, vantagens e favores.

Quase cem anos após a publicação deste célebre clássico, algumas cenas que viralizaram nas redes sociais nas últimas semanas nos remetem a este traço de nossa cultura.

Em uma delas, um casal se recusa a cumprir as orientações de saúde pública de um servidor e o humilha, com a esposa dizendo que seu marido não seria um cidadão, mas um “engenheiro civil, formado, melhor que você”(sic).

Em outra, um desembargador se utiliza do seu cargo para não cumprir o decreto sobre o uso de máscara e também desrespeita o guarda municipal que lhe aplicou uma multa.

Ainda que esses acontecimentos tenham provocado intensas críticas nas redes sociais, infelizmente não nos surpreendem porque fazem parte do cotidiano da sociedade brasileira. A diferença é a de que agora são filmados e expostos à opinião pública.

São a demonstração de que o status social proveniente de algum cargo, função ou mesmo instrução formal é ainda um demarcador de privilégios que confere uma suposta superioridade a quem o possui, julgando-se acima da lei. E também, há de se supor, acima da própria pandemia.

A cordialidade aí se manifesta tanto pelo uso da famosa “carteirada”, quanto no descaso pela vida das demais pessoas, que podem sofrer as consequências de um comportamento imprudente, ou como diria Sergio Buarque de Holanda, irracional.

Fenômeno que também é reconhecido por frase que nos é tristemente familiar: “você sabe com quem está falando?”, símbolo do “jeitinho” e da “carteirada”, que o antropólogo Roberto da Matta classifica como expressão de uma sociedade profundamente desigual que ainda não superou seu passado de privilégios advindos de uma estrutura escravocrata.

O aspecto positivo desse tipo de comportamento ser visto e debatido por um grande número de pessoas é o de que pode suscitar importantes reflexões sobre nossa realidade.

Reflexões que até então restringiam-se aos ambientes acadêmicos. Pode ser um passo essencial para a necessária construção de uma sociedade mais justa e verdadeiramente democrática.

* Maria Emília Rodrigues é professora da área de Humanidades da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

Fonte: Pg1 Comunicação



Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O Pronto Atendimento e o desafio do acolhimento na saúde

O trabalho dentro de um hospital é complexo devido a diversas camadas de atendimento que são necessárias para abranger as necessidades de todos os pacientes.

Autor: José Arthur Brasil


Como melhorar a segurança na movimentação de cargas na construção civil?

O setor da construção civil é um dos mais importantes para a economia do país e tem impacto direto na geração de empregos.

Autor: Fernando Fuertes


As restrições eleitorais contra uso da máquina pública

Estamos em contagem regressiva. As eleições municipais de 2024 ocorrerão no dia 6 de outubro, em todas as cidades do país.

Autor: Wilson Pedroso


Filosofia na calçada

As cidades do interior de Minas, e penso que de outros estados também, nos proporcionam oportunidades de conviver com as pessoas em muitas situações comuns que, no entanto, revelam suas características e personalidades.

Autor: Antônio Marcos Ferreira