Portal O Debate
Grupo WhatsApp

A Cabeça do Dragão

A Cabeça do Dragão

15/06/2021 Gustavo Miotti

O filme “Lost in Translation”, da diretora Sofia Copolla, narra a passagem de dois americanos pelo Japão.

Em vários momentos, os personagens parecem ter perdido o sentido na tradução de alguma ação ou fala, bem como ficam perdidos na compreensão da cultura japonesa em quase sua totalidade. Assim que me sinto em relação a China.

Apesar de tê-la conhecido há mais de 25 anos, quando ainda predominavam as bicicletas e os homens vestindo o traje tradicional de Mao Zedong, é um destino que quanto mais busco, leio e estudo, parece que mais distante estou de compreendê-lo.

Se às vezes achamos o Brasil complicado de entender, imagine a China, que tem quase 4.500 anos a mais em sua história, 302 línguas faladas e uma população quase sete vezes maior.

Mas ao me deparar com as contradições da China atual, sempre me recordo do paradoxo de Sócrates: Só sei que nada sei!

Buscando algo bem mais recente, a sinóloga italiana Giada Messetti desabafa em seu livro sobre a China: “Depois de morar tantos anos no país, aprendi uma única coisa. Quando se trata de China, somente uma coisa é certa: nada é simples como possa parecer. Nada!”

Paradoxalmente, aceitar essa complexidade auxilia a entender um pouco mais o dragão através de três importantes perspectivas: yin e o yang, o pensamento chinês e o confucionismo.

O Yin e o Yang é uma das mais importantes características da filosofia chinesa e, como quase tudo na China, é algo simples e complexo ao mesmo tempo.

O princípio afirma que tudo existe de forma interdependente e em opostos contraditórios, como frio-calor, antigo-novo, escuro-claro e feminino-masculino.

A interação entre os extremos mantém a harmonia do universo e influencia tudo ao seu redor. O Yin e o Yang normalmente sugerem lidar com as coisas de modo balanceado e harmônico entre os dois elementos que influenciam diversos aspectos do dia a dia.

Por exemplo, no espaço de trabalho empregados ou executivos têm situações em que precisam ser mais receptivos (yin) e momentos que devem ser mais agressivos (yang) para o bem da organização. Na paternidade, tem situações que os pais precisam ser mais carinhosos e acolhedores (yin) e em outros mais retos e disciplinadores (yang).

Muito dos desencontros está na diferença na lógica do pensar de um ocidental e um chinês. No ocidente, temos um modo de pensar linear, analítico e atento a classificação, enquanto o chinês pensa circularmente, holisticamente e mais atento a concatenação.

O pensamento chinês é lateral, não é possível isolar analiticamente um pedaço da realidade. Sempre o contexto é levado em consideração.

Nosso pensamento segue uma linha lógica, iniciando por generalizações e movendo para os específicos. Os chineses tendem a mover da generalização para o específico dos detalhes diversas vezes, sem ordem, o que nos parece sem sentido algum.

O foco do pensamento chinês é no resultado e não na lógica em si. O mundo parece ser muito complexo para seguir a linearidade do pensamento ocidental. O pensamento chinês não é linear, mas um emaranhado de ideias.

Também influencia no modo de pensar as diferenças nos sistemas de valor. Nós ocidentais prezamos acima de tudo pelo direito individual, a liberdade e a escolha livre.

No outro lado do mundo, o grupo sempre está acima do individual. A harmonia e os objetivos coletivos são mais importantes que as preferências individuais e as diferenças culturais e de valores.

Um reflexo desta diferença no modo de pensar se dá no campo da medicina. No ocidente se analisa o paciente pelas diversas partes do organismo (neurologista, cardiologista, ginecologista, etc…), enquanto a medicina tradicional chinesa se baseia no equilíbrio de uma parte do corpo com a outra, no interior do mesmo sistema. Alguém que já tenha feito acupuntura irá recordar.

Os valores predominantes da sociedade chinesa derivam dos prescritos do filósofo Confúcio, cujos pensamentos escritos nos Diálogos de Confúcio se tornaram como uma fusão da Bíblia e a Constituição para os chineses.

Seus ensinamentos morais datam de mais de 2.500 anos e, diferentemente das religiões monoteístas, não prega uma receita de bula para se chegar ao paraíso, mas um código de conduta social.

Este sistema filosófico constitui um conjunto de ensinamentos sobre ética e harmonia social e podem ser resumidos na célebre frase de Confúcio: “não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem a ti”.

Um dos aspectos mais importante do Confucionismo é o respeito e a devoção aos mais velhos, e isso implica disciplina, respeito e deferência nas famílias, escolas e governo.

Mao Zedong considerava a filosofia, ligada aos imperadores e ideologicamente oposta aos ensinamentos marxistas, retrógada e por isso tentou bani-la. Mandou destruir os templos, derrubar as estátuas de Confúcio e queimar os livros que pregavam a doutrina.

Porém, a filosofia nunca deixou de existir e Xi Jinping promoveu o renascimento do confucionismo como forma de expelir a influência do pensamento ocidental, principalmente o americano de valores individuais e do poder da democracia.

E, também, como forma de legitimar e consolidar o seu poder e do partido comunista como líder moral do pensamento chinês.

Com a China voltando a ser protagonista dos destinos do mundo, ir além dos estereótipos ligados ao país é uma habilidade fundamental para quem quer compreender os prováveis destinos da humanidade. Vimos que apenas ignorá-la pode levar a novos desastres, como o Covid-19.

* Gustavo Miotti é autor do livro Crônicas de uma pandemia – reflexões de um idealista, empresário e cientista econômico.

Para mais informações sobre China clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Fonte: LC Agência de Comunicação



Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O Pronto Atendimento e o desafio do acolhimento na saúde

O trabalho dentro de um hospital é complexo devido a diversas camadas de atendimento que são necessárias para abranger as necessidades de todos os pacientes.

Autor: José Arthur Brasil


Como melhorar a segurança na movimentação de cargas na construção civil?

O setor da construção civil é um dos mais importantes para a economia do país e tem impacto direto na geração de empregos.

Autor: Fernando Fuertes


As restrições eleitorais contra uso da máquina pública

Estamos em contagem regressiva. As eleições municipais de 2024 ocorrerão no dia 6 de outubro, em todas as cidades do país.

Autor: Wilson Pedroso


Filosofia na calçada

As cidades do interior de Minas, e penso que de outros estados também, nos proporcionam oportunidades de conviver com as pessoas em muitas situações comuns que, no entanto, revelam suas características e personalidades.

Autor: Antônio Marcos Ferreira