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Crescimento econômico

Crescimento econômico

17/12/2008 Alexandru Solomon

Eis um conceito importante. Parece simples falar em crescimento econômico, no entanto, a julgar pela quantidade de textos dedicados ao tema, seria leviano falar em simplicidade.

Desde Solow, passando por Schumpeter, pela teoria dos ciclos de Kondratieff, pelos tratados de eficiência alocativa, não foram poucos os teóricos que enfrentaram o desafio. Seguramente, não serão essas linhas o fio de Ariadne nesse labirinto teórico.

O que seria crescimento, como medi-lo? Dizia Lorde Kelvin que se ao medir um fenômeno, formos capazes de quantificá-lo, teremos algum conhecimento a respeito, caso contrário esse conhecimento será do gênero insatisfatório. Por comodidade, alguns medem a evolução do PIB, outros sustentam ser esse indicador insuficiente, já que medir riqueza sem saber como está distribuída não satisfaz. Criaram-se felicitômetros com a pretensão de captar as sensações de uma sociedade cujo bem-estar se pretende avaliar e as discussões prosseguem e prosseguirão.

Vamos fazer apelo a alguns truísmos do tipo: “É melhor ser rico do que pobre e, se além de rico, saudável e feliz, melhor ainda”. Que o crescimento econômico tem algo a ver com tudo isso não se discute. Talvez por uma questão de preguiça mental, ou pelo desejo de simplificar, a preferência tem recaído sobre os índices de evolução do PIB. Supondo-se que as estatísticas sejam confiáveis – possivelmente essa não seja uma verdade absoluta, pois se o fosse, por que surgem revisões do PIB de diversos países, (e o Brasil não fugiu à regra) por qual razão, Leontieff que nos perdoe, a avaliação do PIB brasileiro andou mudando nesses últimos anos? – basta uma conta banal de dividir e calcular o percentual de variação. Pronto! Não é tão simples. Ao longo do tempo, medir o nível de atividade dos palafreneiros, por exemplo, deixou de ser importante, o peso deles na Economia mudou, assim como o significado econômico dos fabricantes de lamparinas. Certo?

Simplificando mais ainda, ao primeiro ano da série de PIBs que se pretende comparar atribui-se, depois de cálculos laboriosos, o índice 100. No ano seguinte, se o valor encontrado for 102, estufamos o peito e afirmamos que houve um crescimento de 2%. Se no ano seguinte, após novas mensurações chegarmos ao valor de 104 - que me perdoem os amantes dos algarismos significativos, mas não me sinto à vontade para falar em 1,0404 – concluiremos que o crescimento continuou sendo de 2%. Mantido essa cadência, poderemos falar num ritmo constante de crescimento. Se o crescimento demográfico for inferior, se o coeficiente de Gini colaborar, “se” e mais “se”, poderemos afirmar, sem ambages, que houve uma melhora.

Dentro dessa simplificação, existe um dado: 2%. Como esse valor mudará de ano para ano, passada uma octaetéride, com uma máquina de calcular rudimentar, munidos dos dados das pontas podemos identificar a taxa de crescimento na era tucana e daqui a pouco a do “nunca antes nesse país”.

Eis que insatisfeito com nossa taxa anual de crescimento, insatisfação legítima, Nossopresidente resolve acelerá-lo. Vale dizer o tal coeficiente identificado anteriormente deverá se movimentar de acordo com uma relação, possivelmente linear e crescente. Nasce um filho da ministra Dilma, o PAC. Prolfaças!

Essa sigla luminosa aponta para um crescimento do crescimento.

O jornalista Alberto Tamer, e não foi ele o primeiro a identificar o detalhe constrangedor, demonstra na sua coluna que os investimentos tão necessários para alçar o ambicioso e tão almejado vôo, não correspondem à retórica oficial. A realidade de 2008 nutre-se principalmente do desembolso dos “restos a pagar” de 2007.

So what? (em original no texto), a ministra mãe do PAC depois de comentar a determinação de Nossopresidente no sentido de todos os ministros, aliados a prefeitos e governadores cumpram aquilo que já deveriam estar cumprindo, declara: “Trabalhar em conjunto com eles é uma forma de acelerar o PAC”. Pausa para reflexão. Recapitulemos: Temos crescimento, seguido do plano para acelerá-lo, ao qual se soma a aceleração da aceleração. Trabalhamos, no mínimo, com a derivada segunda da função. Yesss!

Para tanto, deixando de lado que muitos dos investimentos do PAC já faziam parte do plano estratégico da Petrobrás, para ficarmos no exemplo mais estridente, brandiu-se a bandeira das medidas anticíclicas preventivas. Temos uma oratória proativa de fazer inveja. O glorioso PAC, até antes de precisar ser acelerado, anteviu a chegada da “marolinha”. Isso sem contar com aquilo que o ministro Simonsen apelidava com justificado desdém de Keynesianismo de galinheiro – abrir as burras do Estado – talvez nos leve ao tal “espetáculo de crescimento”, que só não será maior por culpa dos outros – esses estraga-prazeres.

Uma pequena nota divertida.

Daqui a alguns dias recomeçará a discussão em torno da fixação da taxa Selic. Nada divertido, dirão alguns. Simplificando mais uma vez os conceitos, nosso COPOM resolveu copiar a sistemática do FOMC, com cortes ou aumentos por módulos de 0,25% e para não se afastar do original, emite, após alguns dias, uma ata nebulosa, sobre a qual debruçam-se adivinhos que tentam extrair a partir de um advérbio acrescentado ou retirado o “O que será o amanhã”. O advérbio “tempestivamente” possui o valor de uma janela para o futuro da adivinhação.

Nada contra, mesmo porque decifrar os dizeres do COPOM virou profissão e somos a favor da criação de empregos, mas por que esses módulos de 0,25%, 0,5%, 0,75%? Vamos copiar os chineses que adotaram 0,27% como unidade. Afinal, para sinalizar, o corte recente de 1,07% agradou, ou não?

Melhor ficar com a tirada de George Bernard Shaw: “Se todos os economistas se derem as mãos, mesmo assim, não chegarão a uma conclusão sequer!”.

* Alexandru Solomon, formado pelo ITA em Engenharia Eletrônica e mestrado em Finanças na Fundação Getúlio Vargas



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