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O livro digital e o fantasma da escravidão

O livro digital e o fantasma da escravidão

21/08/2023 Daniel Medeiros

Os índices de analfabetismo funcional no Brasil são alarmantes: segundo o INEP,  um em cada dez estudantes com mais de quinze anos não entende o que lê.

O livro digital e o fantasma da escravidão

Duas notícias recentes mexeram com o mundo da educação: o governo conservador da Suécia decidiu frear o seu plano de digitalização dos livros didáticos por entender que eles não trazem benefícios para os alunos. Pelo contrário, dados indicam que houve uma queda na compreensão da leitura, além de uma preocupante diminuição na atividade escrita. Uma pesquisa recente que envolveu 2.000 professores revelou que um em cada cinco deles afirmou que seus alunos nunca ou quase nunca escrevem à mão. Isso porque a Suécia caiu de 555 para 544 pontos no relatório que afere a compreensão de leitura entre os jovens estudantes, enquanto a média europeia é de 528 pontos. O pior número é o da Catalunha, com 507. Apesar de os números suecos ainda se mantenham altos, a ministra da Educação apoia a medida de reintroduzir um livro impresso por disciplina, sob pena de, em um futuro próximo, “criarmos uma geração de analfabetos funcionais”.

Já o governo conservador de São Paulo anunciou a substituição dos livros físicos por material digital a partir de 2024. Isso em um país que há mais de 80 anos possui um dos programas mais eficientes de distribuição de livros didáticos do mundo, garantindo acesso a materiais de qualidade - aprovados por comissões de especialistas das melhores universidades do país -. Além disso, esse sistema oferece uma variedade de abordagens e métodos, permitindo que os professores escolham os materiais que melhor se coadunam ao seu trabalho, dentro de uma perspectiva elementar que é a da preservação da autonomia docente dentro dos limites possíveis de uma rede de ensino pública e democrática. 

Os índices de analfabetismo funcional no Brasil são alarmantes: segundo o INEP,  um em cada dez estudantes com mais de quinze anos não entende o que lê. Entre os 25% mais pobres, esse número mais do que dobra. No meio rural, quase triplica. Em São Paulo, 15% dos domicílios não têm acesso à internet. E os que têm, a maioria não possui internet de velocidade compatível com as exigências necessárias que a carga de estudo diária requer. Durante a pandemia, esse problema foi mais do que escancarado, sem que medidas efetivas para a sua solução ainda tenham sido implementadas. 

O curioso nessa guinada cibernética do Estado de São Paulo é que em fevereiro deste ano, a mesma secretaria de Educação proibiu o uso das redes sociais e serviços de streamings  nas quase 5.500 escolas estaduais. "Para evitar dispersão do que interessa", afirmou o secretário, sem levar em consideração que o uso adequado dos múltiplos conteúdos disponíveis na internet podem favorecer uma formação crítica, por permitir acessar várias fontes de informação e variadas análises sobre os fatos, coisa que um material único jamais permitirá. Ou seja: parece que o problema verificado pelo governo de São Paulo é com a pluralidade e não com uma suposta coadunação com a contemporaneidade. Pelo contrário, a censura de livros e conteúdos é uma das marcas do medievo, quando não éramos nem mesmo modernos. O que, por aqui, parece que muitos não fazem questão de ser.

O que é ainda mais curioso é que essas medidas, somadas ao esdrúxulo arranjo chamado escola cívico-militar, nunca parecem ser um bom arranjo para as escolas privadas, que continuam oferecendo para seus alunos um ambiente rico de possibilidades de pesquisa, abordagens, materiais, discussão, sem uniformes militares nem policiais andando pelos corredores das suas escolas. Pau que vale pra Chico nem pensar em encostar em Francisco, devem pensar os governadores e seus secretários, cujos filhos dificilmente se submeteriam às regras por eles impostas aos pobres. 

O que podemos concluir das duas notícias recentes que comento neste texto é que há conservadores e conservadores. A diferença entre a Suécia e o Brasil, como diria o psicanalista Contardo Calligaris, é que por aqui todas as ações são assinadas pelo fantasma da escravidão. Enquanto não formos capazes de nos reconhecer como uma sociedade de cidadãos, a máxima “não faça aos outros o que não queira que façam a você” será cindida por uma linha clara: há os outros que não são os nossos e há os outros que são como nós. Aos nossos, tudo que a melhor e mais atenta pedagogia mundial oferece. Aos outros, polícia na escola e analfabetismo funcional. E livros únicos. Digitais.

*Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica e professor de Humanidades no Curso Positivo.

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Fonte: Central Press



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