A arte de viver em família
A arte de viver em família
Família é algo maravilhosamente complicado.
Uma manifestação artística que auxilia a lidar com seus pontos positivos e negativos está no filme romeno “Sieranevada”, de Cristi Puiu. Uma refeição em casa após uma cerimônia da Igreja Ortodoxa em homenagem a um falecido reúne as mais diferentes pessoas.
O filme é longo, escuro e com diálogos cansativos, mas merece ser visto porque desnuda as relações mais prováveis e improváveis de uma dúzia de personagens. Temos o marido traidor, a amiga drogada, a avô que defende a ditadura, o jovem que tudo busca na Internet, entre outros seres humanos geralmente desencontrados com si mesmos e com a sociedade.
Os temas que pontuam os diálogos são aqueles que tornam a vida familiar um fascínio permanente. Fala-se de política, religião e questões sociais, quase como num programa de debates na TV.
Ao mesmo tempo, surgem os problemas individuais, geralmente marcados pelo amor (ou pela falta dele), pela passagem do tempo e pela sexualidade. Manifestações sinceras e falsas, conflitos entre o velho e o novo, e paixões que motivam palavras e afetos são percepções e sentimentos de pavio curto.
O filme os faz explodir de maneira brutal e, pasmem!, poética. A cena final de três dos rapazes rindo das aventuras daquela refeição em família ilustra a comédia e o drama que nosso cotidiano comporta.
* Oscar D´Ambrosio é Doutor em Educação, Arte e História da Cultura e Mestre em Artes Visuais, atua na Assessoria de Comunicação e Imprensa da Unesp.