A fantasia do horário eleitoral
A fantasia do horário eleitoral
Desde o dia 19 de agosto, assistimos a propaganda eleitoral gratuita no rádio e tv. É o grande espaço onde se expõe as propostas para o grande público, valendo-se da elevada penetração junto a todas as classes sociais, especialmente as mais populares, onde se encontra a maioria dos votos.
Não é à toa que os partidos disputam palmo-a-palmo a conquista de espaço no rádio e tv, constituindo alianças de conveniência inimagináveis se analisadas pelos pontos de vista ético ou ideológico. Adversários (até inimigos) juntam-se pela conquista de uns minutos a mais de propaganda. E, apesar do espaço ser gratuito por não ter de pagar os minutos de veiculação, investem elevadas somas na produção de verdadeiras peças publicitárias, nem sempre comprometidas com a verdade.
Os marketeiros, regiamente pagos pelos partidos, são verdadeiros mágicos na tarefa de transformar seus candidatos em super-heróis capazes de solucionar todos os problemas do povo. Atuam mais eficientemente do que seus precursores que um dia impuseram às donas de casa o sabão em pó que “lava mais branco”, o refrigerante que “refresca a sede” e outras verdades (ou mentiras bem colocadas) que se incrustaram no imaginário popular. Governos e governantes são transformados em componentes de uma verdadeira ilha da fantasia quando a tarefa é conseguir a reeleição.
Por tudo o que temos visto nesses 20 dias de propaganda “gratuita”, não evoluímos nada em relação às eleições anteriores. Os novatos seguem com as velhas propostas de melhorar a gestão, aplicar melhor o dinheiro público, garantir saúde, educação, segurança pública e outros itens hoje negligenciados. Os postulantes da reeleição dizem maravilhas sobre aquilo que realizaram e prometem fazer muito mais.
E o cidadão, eleitor, dono do voto em disputa, resta com aquela sensação de que, mais uma vez é enganado por aqueles que “gostam de levar vantagem em tudo”, como dizia a publicidade de cigarro que, para desencanto do seu protagonista, gerou a popular “Lei do Gerson”. Os candidatos à reeleição falam em saúde plena com hospitais de alta tecnologia, escola de tempo integral, estudo para todos. E ignoram a barbárie das mortes nos corredores de hospitais lotados, as filas por vaga nas creches, as escolas que não ensinam mas promovem o aluno.
Ao assistir esse desfile de maravilhas, o eleitor, que vive a crueza da realidade, fica com a nítida impressão de que falam de outro lugar. Que esse lugar e seus mirabolantes empreendimentos só existem na linguagem fácil dos marketeiros e no interesse dos candidatos pelos votos. “Se descobrir onde é isso, mudo para lá agora mesmo” – disse, ao assistir a propaganda, o velho militante, que já viu muita água passar debaixo da ponte...
*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves - dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo).