A literatura, os escritores e a escola
A literatura, os escritores e a escola
O escritor foi e ainda é, para as crianças que estão começando a descortinar o infinito horizonte da palavra, algo inatingível, meio mágico, talvez mítico. Isso, dito por elas mesmas.
A criança é naturalmente curiosa, sedenta de conhecimento e experiência, e ficar cara a cara com um escritor, conheça ela a obra dele ou não, é um acontecimento no mínimo singular.
É claro que se ela tiver lido algum texto, algum livro do autor que lhe for apresentando, o interesse pode ser maior.
Descobrir que o escritor é alguém igual a ela, uma pessoa comum que tem o dom da palavra, pode ajudar a criança e perceber que ela é capaz de ser o que ela quiser.
Já fui convidado várias vezes para dar palestras e entrevistas a estudantes do primeiro e segundo graus e sei bem da reação e da receptividade deles.
Eu prefiro dizer que fui conversar com os estudantes do que “dar palestra” e prefiro, também, conversar com o primeiro grau, porque a criança é mais espontânea, participa mais, tem mais interesse do que o adolescente e o jovem, que têm receio de se expor.
O “palestrante” escritor não precisa preparar nada, pois as crianças, os estudantes perguntam, querem saber sobre tudo: o processo de criação, a seleção, o controle de qualidade, a edição, a publicação, a venda – desde o início, da produção do texto, seja ele poesia ou prosa, até chegar às mãos do leitor.
E o resultado disso, o impacto tanto no leitor como no autor. Quando as perguntas terminam, pedem autógrafos, mostram sua própria produção, pedem dicas.
Essa integração entre o escritor e a escola é desejável e existe, em algumas escolas. Não com a frequência e na quantidade de escolas que gostaríamos, mas existe.
Oficialmente, existe um projeto chamado Programa Autor/Escola, que foi lançado há alguns anos em Santa Catarina e chegou a acontecer de fato por algumas poucas vezes.
No entanto, o que existe hoje são iniciativas isoladas de escolas, professores e alguns escritores, em uma outra cidade.
Infelizmente, apesar dos bons objetivos, do incentivo à leitura junto aos leitores em formação e da divulgação do escritor regional, o projeto apenas vem à tona, de tempos em tempos, com promessas de reativação que nunca se cumprem.
O que existe de concreto é o trabalho dos bons professores de Português e Literatura, que convidam escritores de suas respectivas regiões para comparecerem as suas escolas.
E o resultado é fabuloso, com os estudantes recriando a obra lida – sim, porque eles leem – em outras mídias, como teatro, vídeo, poesia, quadrinhos, etc.
Tomara que esses quase dois anos sem escola em razão da pandemia de covid-19 não venha a acabar com o bom trabalho de alguns professores dedicados e abnegados, que conseguiam dar foco à literatura e incutir o gosto e o hábito da leitura nos leitores em formação.
Os escritores do Grupo Literário A ILHA são testemunha de que essa tentativa de valorizar a literatura regional é eficiente, pois vários deles são convidados a falar sobre a sua vida e sua obra em escolas de algumas cidades pelo estado. Independentemente da “cultura oficial”.
* Luiz Carlos Amorim é escritor, editor e revisor, cadeira 19 da Academia Sulbrasileira de Letras e fundador e presidente do Grupo Literário A ILHA.