Portal O Debate
Grupo WhatsApp

A morte de Moustapha

A morte de Moustapha

05/05/2021 Humberto Pinho da Silva

Hoje, se me permitem, vou tentar condensar, por palavras minhas, curioso livro, que narra a triste história de rafeiro.

Cachorrinho que deambulava, vegetando faminto, pelos velhos becos da velha cidade do Havre. Seu nome era Moustapha; e o autor da obra: Adolfo Destryes, escritor do século XIX.

Moustapha era solitário, pobre e infeliz, maltratado pelos homens e escorraçado pelas certeiras pedradas do garotio.

Uma noite, junto a fontanário, depara com Roberto, jovem nada caritativo, mas embriagado, como era o caso, tinha rasgos de generosidade.

Roberto olha compassivo, o cachorrinho, e movido de ingente compaixão, lava-lhe carinhosamente as sangrentas feridas, que alastram pelo macerado corpo; e cobre-as com trapos que encontra junto ao velho fontanário.

Estonteado pelo sono, toldado pelo álcool, adormece profundamente.

Despertado pela ténue luminosidade matutina; acorda estremunhado. Para espanto seu, verifica que o animal, permanece aninhado a seus pés.

Roberto, brutalmente, enxota-o, pontapeando-o com agressividade.

Moustapha, angustiado, atira-lhe olhar tão meigo, tão enternecido, tão compungido e doce, que num ímpeto gesto de bom samaritano, o moço leva-o para casa, carinhosamente aconchegado no regaço.

Foram ditosos os anos que viveram em mútua companhia. Moustapha era grato ao benfeitor, e não se cansava de lhe lamber as calejadas mãos.

Mas hedionda mazela de pele recobre novamente, o corpo do bicho; o cachorrinho torna-se asqueroso.

Roberto não o quer em sua casa. Ainda, num rasgo de piedade, pensa levá-lo ao veterinário, mas na cidade, nessa remota época, não havia.

Resolve, então, matá-lo.

Numa fria e caliginosa noite, enquanto a cidade dormia sob o negro manto da cerração, suspende-lhe pesada pedra ao pescoço, e lança-o impiedosamente, ao rio, nas águas geladas e turvas do Sena.

Moustapha, a exemplo de velhos mártires, em circo romano, sofre atrozmente. Chora tristemente, mas não solta gemido, nem resiste ao algoz que ama.

No gesto de o lançar nas águas correntes, cai-lhe o boné ao rio.

Desesperado tenta retirá-lo, mas no negrume da noite, a tentativa foi vão.

Desalentado, regressa a casa, mais abatido pela perda do boné, que remorsos da barbaridade.

Mal havia decorrido uma hora, sente mexer-lhe levemente na porta. Levanta-se estremunhado, e para surpresa sua, era Moustapha, com o boné entre os dentes.

O cão estava em estado lastimoso, enlameado, ensanguentado e fétido.

Num gesto autómato de gratidão, abraço-o calorosamente. As lágrimas escorrem-lhe pela face tostada.

Arquejando, o animal solta estridente berro, numa convulsão estertorante.

Moustarpha morre. De alegria? De tristeza? Nunca se saberá.

Moral da história: os animais são, quantas vezes, bem melhores, que os humanos.

* Humberto Pinho da Silva

Para mais informações sobre animais clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!



2024, um ano de frustração anunciada

O povo brasileiro é otimista por natureza.

Autor: Samuel Hanan


Há algo de muito errado nas finanças do Governo Federal

O Brasil atingiu, segundo os jornais da semana passada, cifra superior a um trilhão de reais da dívida pública (R$ 1.000.000.000.000,00).

Autor: Ives Gandra da Silva Martins


O mal-estar da favelização

Ao olharmos a linha histórica das favelas no Brasil, uma série de fatores raciais, econômicos e sociais deve ser analisada.

Autor: Marcelo Barbosa


Teatro de Fantoches

E se alguém te dissesse que tudo aquilo em que você acredita não passa de uma mentira que te gravaram na cabeça? E que o método de gravação é a criação permanente de imagens e de histórias fantásticas?

Autor: Marco Antonio Spinelli


Esquerda ou direita?

O ano de 2020 passou, mas deixou fortes marcas no viver dos seres humanos.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


O investimento público brasileiro e a estruturação social inclusiva

O investimento público desempenha um papel crucial no desenvolvimento de uma nação.

Autor: André Naves


Eleições 2024: o que vem pela frente

Em outubro de 2024, os brasileiros retornarão às urnas, desta vez para eleger prefeito, vice-prefeito e vereadores de seus municípios.

Autor: Wilson Pedroso


Seja um líder que sabe escutar

Uma questão que vejo em muitas empresas e que os líderes não se atentam é sobre a importância de saber escutar seus colaboradores.

Autor: Leonardo Chucrute


Refugiados, ontem e hoje

A palavra “refugiados” vem da palavra fugir.

Autor: Solly Andy Segenreich


A solidão do outro lado do mundo

Quem já morou no exterior sabe que a vida lá fora tem seus desafios.

Autor: João Filipe da Mata


Um lamento pelo empobrecimento da ética política

Os recentes embates, físicos e verbais, entre parlamentares nas dependências da Câmara Federal nos mostram muito sobre o que a política não deve ser.

Autor: Wilson Pedroso


Governar com economia e sem aumentar impostos

Depois de alguns tiros no pé, como as duas Medidas Provisórias que o presidente editou com o objetivo de revogar ou inviabilizar leis aprovadas pelo Congresso Nacional - que foram devolvidas sem tramitação - o governo admite promover o enxugamento de gastos.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves