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A questão da cannabis: Aqui não é o Uruguai, nem lá é o Brasil

A questão da cannabis: Aqui não é o Uruguai, nem lá é o Brasil

11/12/2013 Wellington Fontes Menezes

Vem se criando toda uma prosopopéia, sem eira nem beira, por parte de alguns grupos pró-liberação da maconha que, agora, buscam justificar sua demanda com algo que sequer foi regulamentando no Uruguai.

Lá, o governo do humanitário presidente José Mujica tenta na base de lei governamental liberar o uso da maconha com controle estatal (todavia, ainda sequer foi definido com será tal procedimento e se terá êxito esse processo). Por que o Uruguai não é o Brasil?

Simples: a nação do bom e sincero presidente José Mujica tem uma extensão territorial menor que o Estado do Paraná e um terço da população que tem neste mesmo Estado. As questões problemáticas já começam por aí. Ademais, nenhum país, nem mesmo a tão liberal Holanda teve efeitos duradouros com a liberação massiva de drogas (com idas e vindas em seus estatutos), considerando que lá também é uma espécie de Uruguai européia em dimensão e população.

Portanto, o nível de complexidade da relação Brasil com o Uruguai é drasticamente maior e com maiores impactos sociais. Isto não é apenas retóricas numéricas, há ainda questões voltadas para o conservadorismo de parte significativa da sociedade que é intrínseco a qualquer sociedade (o que pode variar é a intensidade em cada meio social).

Curiosamente, de tantos problemas subst anciais brasileiros, um dos mais irrelevantes (levando em consideração que não são elementos prioritariamente estruturantes, mas que tem seu potencial de sublimação) e que conduz mais níveis de violência se concentra nos vícios privados, enfatizando o desejo pela droga (ou seja, onde há a Lei, funda-se o desejo; na ausência da Lei, há o desapego). Todavia, do ponto de vista de políticas públicas, nem sempre as coisas são tão triviais quanto possam parecer, principalmente, em países com profundos problemas estruturais como é o caso brasileiro.

Sintomaticamente, ainda sobreos problemas latentes na sociedade brasileira, há aqueles que procuram se organizar em grupos para pedir liberação de um bem basicamente supérfluo (o prazer da sublimação), o que caracteriza de imediato a pouca importância pelas demandas urgentes de boa parte dos brasileiros em situações precárias e, seguindo esta linha, de uma profunda natureza narcísi ca de auto-interesse imediatista (fenômenos escancarados na Pós-modernidade).

Questões que também deveriam ser refletidas por tais grupos pró-drogas nesta ficcional Suécia Morena imaginada por eles e onde quase tudo já foi consertado em nosso Éden tropical. Oxalá se fosse tão real assim! Mesmo que liberado a comercialização da cannabis, não deixará de ter o seu "mercado negro" com suas máfias características buscando menores preços que os supostamente praticados pelo controle estatal permitindo e de maior potencial alucinógeno (não vamos esquecer que estamos mergulhados até o pescoço com as leis do mercado e, um bom exemplo de oferta diversificada são os derivados de mudas de maconha transgênica, potencialmente mais forte e viciante).

Salienta-se que se a experiência uruguaia der bons resultados em seu território, isto requer tempo e, provavelmente, é um mérito que deverá ser entendida como apenas um sinal que em comunidades pequenas, a liberação controlada de maconha poderá ter alguns avanços significativos do ponto de vista social. Toda liberação de drogas deveria ao menos ter um olhar prioritariamente de saúde social, é neste campo tão fundamental que raramente é debatido, apenas voltado pelas necessidades consumistas imediatas.

Ademais, poderá ter outras possibilidades de estudar uma abertura para fins supostamente medicamentosos, mas que teria uma forte regularização estatal. Para a classe média branca, bem nutrida e com grana para bancar, sustentar e patrocinar a violência social que tanto ela reclama, parece tudo muito simples. Trocando em miúdos, são os elementos desta mesma classe média q ue busca puxar um fumo sem os constrangimentos legais de ter um policial querendo "cortar o barato".

Para tal grupo que raramente faz questão de olhar para o próprio umbigo (típico das classes pequeno-burguesas), parece simples liberar numa única canetada uma lei qualquer de alforria para drogas e todo o paraíso alucinógeno adjacente como se não tivesse nenhum efeito colateral e fortes impactos sociais de curto à longo prazos. Não é um debate tão simplista e genérico como tenta demonstrar de forma falaciosa a maioria dos que propõem a fazê-lo (naturalmente com interesses de consumir a bendita erva!).

Ademais, já temos um sortilégio de drogas nefastas que são legalizadas causando anualmente um incalculável prejuízo para o Brasil em ordem financeira, material, prisional, médico-psico-hospitalar e, lamentavelmente, em trágicas e inúteis mortes (de forma direta ou indireta por razões ligadas ao consumo de drogas). Mais drogas a d isposição legal na sociedade seria apenas ampliar as velhas e trágicas estatísticas e apenas permite a grande ilusão de criar paraísos artificiais via os fáceis mecanismos alucinógenos.

Liberar mais drogas na sociedade seria apenas criar mais fugas alucinadas para ocupar um espaço em sociedades tão intrinsecamente esvaziadas. Pergunta-se até quando a sociedade quer se ocultar diante desse tipo de debate imediatista, frágil, ralo e insípido de suas querelas existenciais?

*Wellington Fontes Menezes é mestre em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista (UNESP).



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