Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Adolescente e autonomia: a metáfora da pipa

Adolescente e autonomia: a metáfora da pipa

11/10/2013 Francisca Paris

Gosto da metáfora da pipa para refletir sobre a atuação dos pais diante de situações cotidianas com os filhos adolescentes.

Quem já empinou pipa sabe que o segredo para o sucesso da brincadeira está em aproveitar a força e a direção do vento para fazê-la subir e, depois, quando já empinada, saber tensionar a linha, porque, quando muito esticada, se rompe, fazendo com que a pipa solta se perca pelos ares, ou, ao contrário, quando muito frouxa (com “barriga”, como dizem as crianças), leva a pipa a rodopiar nas alturas e, sem controle, cair ao chão.

Sabendo que o período da adolescência se caracteriza pela transição entre a infância e a vida adulta, temos o conhecimento de que o jovem adolescente, objetivando a autonomia adulta, vez por outra não apresenta ferramentas que lhe permitam um posicionamento autônomo.

Portanto, a adolescência é um momento de construção e consolidação de autonomia, e não uma época de comportamento propriamente autônomo. Por esse motivo, recorro à representação da pipa. Ao “dar linha”, lançamos nossos adolescentes às escolhas e às decisões que já são capazes de fazer. Não podemos cerceá-los, pois corremos o risco de possibilitar a formação de adultos heterônomos, dependentes e, até mesmo, irresponsáveis. Todavia não podemos confundir autonomia com irresponsabilidade.

Os novos jovens precisam ser responsabilizados por suas ações; se ser autônomo é “ser dono do próprio nariz”, também significa saber cuidar do próprio nariz, ser responsável. O saber cuidar só se consolida quando ocorre um exercício de responsabilidade pelas escolhas realizadas e pelas consequências que delas possam advir. Por meio desse exercício, o adolescente ganha confiança própria e de seus pais, além de adquirir autonomia para esta ou aquela questão.

Em contrapartida, os pais não podem se esquecer de que, se tensão demais arrebenta a linha da pipa, tensão de menos faz com que ela perca a estabilidade e o sentido. Deixar o adolescente solto, sem limite ou sem orientação, imaginando-o capaz de decidir tudo por si mesmo, é uma omissão do papel educativo que deve ser exercido pelos pais. Há momentos em que, pressionados pela mídia, pelos pares, pelas companhias, pela namorada ou namorado, entre outras razões, os adolescentes se sentem oprimidos e incapazes de reações de enfrentamento a determinadas pressões.

É hora de puxar e enrolar a linha ou, em outras palavras, de “tomar as rédeas nas mãos” para reconduzi-los a uma postura de equilíbrio. Pais e mães comprometidos com a educação de seus filhos e que estabeleceram com eles uma relação de afeto não devem ter medo de dizer não, mesmo quando a resposta ao “não” seja: “Todo mundo vai, só eu não”, ou “A mãe do fulano deixou, só você não deixa”, ou, ainda, “Todo mundo tem, só eu que não”.

O não pode ser tão bom quanto o sim, quando dialogado e explicado. Ao retirarmos a decisão do adolescente, precisamos deixar claro que não o recolocamos em uma condição infantil; é necessário que ele perceba a complexidade da situação em questão e os desdobramentos que estão envolvidos. Devemos, ainda, explicar que, sendo os adultos da relação, em determinados momentos “tomaremos as rédeas”, já que temos um pouco mais de experiência, o que nos ajuda a enxergar os fatos com outras lentes.

E, finalmente, necessitamos esclarecer que pais não são “coleguinhas” e que, algumas vezes, mesmo correndo o risco de sermos tomados como antipáticos, temos a responsabilidade de impor alguns limites. Pai e mãe, então, têm a árdua tarefa de “puxar” e “soltar” o filho adolescente, como possivelmente fizeram com a pipa, quando crianças, até que se atinja o objetivo fundante da educação, ou seja, até que ele saiba regenciar a angústia das escolhas e vivê-las de forma vibrante e intensa, para alcançar as alturas possíveis.

*Francisca Paris é pedagoga, mestra em Educação e diretora de serviços educacionais do Ético Sistema de Ensino.



2024, um ano de frustração anunciada

O povo brasileiro é otimista por natureza.

Autor: Samuel Hanan


Há algo de muito errado nas finanças do Governo Federal

O Brasil atingiu, segundo os jornais da semana passada, cifra superior a um trilhão de reais da dívida pública (R$ 1.000.000.000.000,00).

Autor: Ives Gandra da Silva Martins


O mal-estar da favelização

Ao olharmos a linha histórica das favelas no Brasil, uma série de fatores raciais, econômicos e sociais deve ser analisada.

Autor: Marcelo Barbosa


Teatro de Fantoches

E se alguém te dissesse que tudo aquilo em que você acredita não passa de uma mentira que te gravaram na cabeça? E que o método de gravação é a criação permanente de imagens e de histórias fantásticas?

Autor: Marco Antonio Spinelli


Esquerda ou direita?

O ano de 2020 passou, mas deixou fortes marcas no viver dos seres humanos.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


O investimento público brasileiro e a estruturação social inclusiva

O investimento público desempenha um papel crucial no desenvolvimento de uma nação.

Autor: André Naves


Eleições 2024: o que vem pela frente

Em outubro de 2024, os brasileiros retornarão às urnas, desta vez para eleger prefeito, vice-prefeito e vereadores de seus municípios.

Autor: Wilson Pedroso


Seja um líder que sabe escutar

Uma questão que vejo em muitas empresas e que os líderes não se atentam é sobre a importância de saber escutar seus colaboradores.

Autor: Leonardo Chucrute


Refugiados, ontem e hoje

A palavra “refugiados” vem da palavra fugir.

Autor: Solly Andy Segenreich


A solidão do outro lado do mundo

Quem já morou no exterior sabe que a vida lá fora tem seus desafios.

Autor: João Filipe da Mata


Um lamento pelo empobrecimento da ética política

Os recentes embates, físicos e verbais, entre parlamentares nas dependências da Câmara Federal nos mostram muito sobre o que a política não deve ser.

Autor: Wilson Pedroso


Governar com economia e sem aumentar impostos

Depois de alguns tiros no pé, como as duas Medidas Provisórias que o presidente editou com o objetivo de revogar ou inviabilizar leis aprovadas pelo Congresso Nacional - que foram devolvidas sem tramitação - o governo admite promover o enxugamento de gastos.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves