Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Aposta no passado compromete o futuro

Aposta no passado compromete o futuro

05/07/2010 João Guilherme Sabino Ometto

São animadoras as estimativas que acabam de ser divulgadas pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) quanto aos investimentos estrangeiros diretos (IED) na região em 2010. Seu volume deverá alcançar US$ 100 bilhões, retornando ao patamar verificado antes da grande crise mundial. O crescimento em relação ao ano passado deverá chegar a quase 50%.

A retomada é ainda mais importante se considerarmos que, no exercício anterior, verificou-se queda de 42%, conforme consta do estudo “O investimento estrangeiro direto na América Latina e Caribe 2009”, divulgado pela Cepal no início de maio. O relatório aponta que o Brasil continuou sendo o principal destino dos recursos, seguido pelo Chile, México, Colômbia e Argentina. Os Estados Unidos, Espanha e Canadá, pela ordem, seguiram como os maiores investidores.

A boa notícia contida no estudo não esconde, entretanto, duas tendências preocupantes. A primeira refere-se à queda dos aportes no setor primário, em especial nos segmentos agrícola e mineral. A segunda diz respeito ao fato de a maioria dos investimentos destinados à indústria concentrar-se em atividades de intensidade tecnológica baixa e média.

As duas vertentes, se analisadas com senso de realismo, mostram que boa parte dos investidores do mundo desenvolvido ainda entende a América Latina como provedora de matérias-primas, commodities de baixo valor agregado e semimanufaturados, em especial insumos industriais. Nem mesmo o avanço do Brasil no agronegócio, incluindo alta tecnologia agrícola e elevado volume de exportações, e em segmentos avançados da indústria, como software e aviões, parece sensibilizar algumas nações quanto às mudanças de perfil de nossa economia e nossa estrutura produtiva.

Os investimentos estrangeiros diretos visam com muito foco aos nossos mercados consumidores (por isso privilegiam os serviços) e nossos recursos naturais. Tal expectativa evidencia que, a despeito de todos os avanços da chamada Terceira Revolução Industrial e da nova estrutura de produção segmentada da globalização, persiste a anacrônica imagem do Hemisfério Sul exportador de produtos de baixo valor agregado e importador de bens de consumo sofisticados. Aliás, esse olhar anacrônico persistente em parte do mundo desenvolvido também é diagnosticado pelo ex-primeiro-ministro italiano Massimo D’Alema. Em recente visita à Fiesp, ele salientou que a Europa mantém uma visão antiquada da economia e que precisava prestar mais atenção no Hemisfério Sul.

O Brasil, seguido por algumas nações, como o Chile e Argentina, é a própria antítese do renitente conceito. Mantém-se, sim, como grande provedor agropecuário, mas com alta tecnologia e eficiência, conciliando a produção de alimentos com a de biocombustíveis, em especial o etanol. Ademais, o País tem segmentos industriais de ponta, é autossuficiente em petróleo e tem a maior reserva hídrica.

Ou seja, estamos prontos para a nova era da economia mundial, que será marcada pela produção mais limpa e alta valorização dos alimentos, da água e dos combustíveis renováveis. Não há dúvida de que nesses itens encontram-se as melhores oportunidades de investimentos, com retorno absolutamente garantido pela realidade de um mundo cada vez mais carente de comida, água, energia e salubridade ambiental. Assim, quem continua apostando em teses dos séculos passados pode comprometer o próprio futuro...

*João Guilherme Sabino Ometto, engenheiro (EESC/USP), é presidente do Grupo São Martinho e vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

Ricardo Viveiros & Associados - Oficina de Comunicação

Biografia

Twitter



O investimento público brasileiro e a estruturação social inclusiva

O investimento público desempenha um papel crucial no desenvolvimento de uma nação.

Autor: André Naves


Eleições 2024: o que vem pela frente

Em outubro de 2024, os brasileiros retornarão às urnas, desta vez para eleger prefeito, vice-prefeito e vereadores de seus municípios.

Autor: Wilson Pedroso


Seja um líder que sabe escutar

Uma questão que vejo em muitas empresas e que os líderes não se atentam é sobre a importância de saber escutar seus colaboradores.

Autor: Leonardo Chucrute


Refugiados, ontem e hoje

A palavra “refugiados” vem da palavra fugir.

Autor: Solly Andy Segenreich


A solidão do outro lado do mundo

Quem já morou no exterior sabe que a vida lá fora tem seus desafios.

Autor: João Filipe da Mata


Um lamento pelo empobrecimento da ética política

Os recentes embates, físicos e verbais, entre parlamentares nas dependências da Câmara Federal nos mostram muito sobre o que a política não deve ser.

Autor: Wilson Pedroso


Governar com economia e sem aumentar impostos

Depois de alguns tiros no pé, como as duas Medidas Provisórias que o presidente editou com o objetivo de revogar ou inviabilizar leis aprovadas pelo Congresso Nacional - que foram devolvidas sem tramitação - o governo admite promover o enxugamento de gastos.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A poderosa natureza

O dinheiro é um vírus que corrompe tudo e quando a pessoa se “infecta”, dificilmente se livra.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


A maior eleição do mundo e o nacionalismo hindu

O ano de 2024 está sendo considerado o superano das eleições pelo mundo. Ao todo, mais de 50 países terão pleitos variados, dentre os quais o Brasil e os Estados Unidos.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


8 de janeiro

Venho aqui versar a defesa dos patriotas do “mal”

Autor: Bady Curi Neto


Aborto legal e as idiossincrasias reinantes no Congresso Nacional

A Câmara dos Deputados, em uma manobra pouco ortodoxa do seu presidente, aprovou, nessa semana, a tramitação em regime de urgência do Projeto de Lei nº 1904/2024, proposto pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), integrante da ala bolsonarista e evangélica, que altera, sensivelmente, as regras de tratamento do crime de aborto.

Autor: Marcelo Aith


Há solução para as enchentes, mas será que há vontade?

Entre o fim de abril e o início de maio de 2024, a maior tragédia climática da história se abateu sobre o Rio Grande do Sul.

Autor: Alysson Nunes Diógenes