Cidades Digitais: um projeto que já deveria ter saído do papel
Cidades Digitais: um projeto que já deveria ter saído do papel
Que o uso crescente das tecnologias de comunicação e informação leva muitos benefícios para a qualidade de vida da população é algo praticamente inquestionável.
Conhecimento e obtenção de informações tornaram-se componentes valiosos para a geração de valor econômico, cultural e social. O cidadão que não está conectado, atualmente, fica defasado em relação aos outros. Nesse contexto, uma administração pública que se preocupe com seus cidadãos tem a missão de desenvolver e implantar programas de governo coordenados e articulados, visando a inclusão digital e, em consequência, social dos indivíduos.
Mais do que simples postos de acessos, deve-se evoluir em direção a um conceito de Cidade Digital. É muito comum associar o termo Cidade Digital ao fato de o município disponibilizar o sinal de "internet gratuita" ou até à construção de telecentros. A construção de cidades digitais, no entanto, vai muito além e passa, basicamente, por cinco dimensões:
1 - Universalização do acesso, ou seja, internet rápida e espalhada por toda a cidade e não apenas em pontos de grande circulação;
2 - Serviços públicos 100% online, nos quais o cidadão possa ter acesso aos serviços sem precisar perder horas em filas;
3 - Dados governamentais abertos, de modo a fazer com que cidadãos se engajassem no processo, dando origem a um ambiente de cooperação na gestão pública;
4 - Ferramentas para registro de problemas, demandas e construção de comunidades de colaboração em torno de questões públicas;
5 - Infraestrutura adequada, com um ambiente colaborativo de produção e operação, que garanta a segurança e sigilo dos dados.
As duas primeiras ações ainda parecem dominar a atenção dos políticos, até porque proporcionam a construção da infraestrutura básica e trazem benefícios diretos e rápidos aos cidadãos. Porém, antes mesmo de ser colocada em prática essas cinco ações, é preciso que se tenha alicerçado outros dois aspectos importantes nos municípios: a inclusão digital e a modernização da gestão pública.
Segundo pesquisa realizada por um professor e um aluno da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), o Brasil tem a segunda maior média de preços da banda larga entre 15 países. Segundo o estudo, o brasileiro precisa trabalhar 5,01 horas por mês para bancar uma conexão de 1 Mbps. Já no que se refere à modernização da gestão pública, os sistemas computacionais precisam ser integrados de forma que todos eles possam ser aplicados em toda a rede de atendimento ao cidadão.
Tal necessidade exige uma estrutura de rede e disponibilidade de serviços e aplicações que dependem de infraestrutura computacional e planejamento dos municípios. A julgar pela falta de habilidade com que os representantes públicos estão lidando com as recentes manifestações iniciadas justamente pela internet, se chega à conclusão que agilidade e proatividade, características preponderantes na internet, ainda não fazem parte do cotidiano dos responsáveis por tirar do papel o projeto de digitalização das cidades.
*Marcos Sakamoto é presidente da Assespro-SP.