Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Curiosidade e aprendizado

Curiosidade e aprendizado

06/07/2018 Daniel Medeiros

Alguém curioso encontra alguém atencioso e a "mágica" se faz.

O aprendizado sobre qualquer coisa começa sempre com alguma pergunta: “o que é isso?”, “como funciona?”, “o que esse botão faz?”, e assim por diante. É assim: alguém curioso encontra alguém atencioso e a "mágica" se faz.

Na escola, costumam chamar os personagens desse diálogo de aluno e professor. Lamentavelmente, nem sempre é assim. Muitas pedagogias falam em “despertar" a curiosidade da criança e do jovem.

Eu sempre me surpreendi com essa abordagem, porque curiosidade foi a mola propulsora da humanidade, seu desenvolvimento e, em última instância, a razão maior da sua sobrevivência. Como é que agora virou um item da formação dos professores? Será, por acaso, que acham que as crianças e jovens não são curiosos e que é necessário ensiná-los a sê-lo? Eu discordo.

Penso que as crianças são naturalmente curiosas e por isso não é preciso despertar nada. Apenas ouvir e responder. Ou devolver as perguntas. Mas para isso os adultos precisam dar ouvidos, com tempo e paciência, e oferecer de volta respostas que não concluam as perguntas, encerrando o assunto.

Há algum tempo fui visitar uma cidade ao pé da serra do mar e um menino de uns 9, 10 anos, perguntou-me por que o leito do rio é cheio de pedras. Ele mesmo tinha uma hipótese: “será que as pessoas jogam essas pedras todas aí?”

Conversamos por uns quarenta minutos e consegui fazer uma trilha de perguntas que conduziu o olhar do menino esperto para o alto da montanha, de onde as pedras rolavam em direção ao rio que passa ao lado da casa dele.

Na sala de aula, procuro apresentar meus conteúdos sempre na forma de perguntas. Tento mostrar aos alunos como muitos fatos que todos tomamos por “óbvios" têm quase sempre uma explicação. Mas só saberemos se perguntarmos.

À propósito: sei por que as aulas para crianças e jovens, normalmente, são pouco atraentes: porque afirmamos coisas demais. Verdade que não temos tempo para estarmos à disposição de todas as perguntas das crianças.

Mas e se, no tempo disponível, ouvíssemos e, em vez de responder de pronto, as incentivássemos a formular da melhor maneira possível a dúvida delas para, na sequência, darmos pistas e devolver as perguntas, como em um jogo de detetive? Garanto que não seria apenas um momento de aprendizado. Seria muito prazeroso.

Aliás, acho engraçado que hoje consideram uma grande ideia a gameficação. Mas não foi isso que sempre se fez? Brincar? Jogar? A grande questão, para mim, é: por que não fazemos mais perguntas ou ouvimos mais as perguntas dos outros?

Walter Benjamin associou a crise da narrativa com a incapacidade de as pessoas trocarem experiências. Hannah Arendt falou sobre a desistência de muitos adultos em assumir responsabilidades (que é a capacidade de responder) com as crianças: "Nesse mundo, mesmo nós não estamos muito a salvo em casa; como se movimentar nele, o que saber, quais habilidades dominar, tudo isso também são mistérios para nós”.

Desse jeito, a coisa fica feia. A curiosidade gera aprendizado. Se não aprendemos mais, talvez seja porque tudo já nos é dado e quando não, não sabemos o que dizer, principalmente nós, adultos.

Flutuamos em meio a coisas que funcionam e nos distraem, mas não nos estimulam e completam. Uma sala de aula sem perguntas e sem respostas que geram novas perguntas, é um lugar muito triste. Não é à toa que crianças e jovens queiram estar em outro lugar, mesmo sem saber que lugar é esse.

* Daniel Medeiros é doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor no Curso Positivo, de Curitiba (PR).

Fonte: Central Press



2024, um ano de frustração anunciada

O povo brasileiro é otimista por natureza.

Autor: Samuel Hanan


Há algo de muito errado nas finanças do Governo Federal

O Brasil atingiu, segundo os jornais da semana passada, cifra superior a um trilhão de reais da dívida pública (R$ 1.000.000.000.000,00).

Autor: Ives Gandra da Silva Martins


O mal-estar da favelização

Ao olharmos a linha histórica das favelas no Brasil, uma série de fatores raciais, econômicos e sociais deve ser analisada.

Autor: Marcelo Barbosa


Teatro de Fantoches

E se alguém te dissesse que tudo aquilo em que você acredita não passa de uma mentira que te gravaram na cabeça? E que o método de gravação é a criação permanente de imagens e de histórias fantásticas?

Autor: Marco Antonio Spinelli


Esquerda ou direita?

O ano de 2020 passou, mas deixou fortes marcas no viver dos seres humanos.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


O investimento público brasileiro e a estruturação social inclusiva

O investimento público desempenha um papel crucial no desenvolvimento de uma nação.

Autor: André Naves


Eleições 2024: o que vem pela frente

Em outubro de 2024, os brasileiros retornarão às urnas, desta vez para eleger prefeito, vice-prefeito e vereadores de seus municípios.

Autor: Wilson Pedroso


Seja um líder que sabe escutar

Uma questão que vejo em muitas empresas e que os líderes não se atentam é sobre a importância de saber escutar seus colaboradores.

Autor: Leonardo Chucrute


Refugiados, ontem e hoje

A palavra “refugiados” vem da palavra fugir.

Autor: Solly Andy Segenreich


A solidão do outro lado do mundo

Quem já morou no exterior sabe que a vida lá fora tem seus desafios.

Autor: João Filipe da Mata


Um lamento pelo empobrecimento da ética política

Os recentes embates, físicos e verbais, entre parlamentares nas dependências da Câmara Federal nos mostram muito sobre o que a política não deve ser.

Autor: Wilson Pedroso


Governar com economia e sem aumentar impostos

Depois de alguns tiros no pé, como as duas Medidas Provisórias que o presidente editou com o objetivo de revogar ou inviabilizar leis aprovadas pelo Congresso Nacional - que foram devolvidas sem tramitação - o governo admite promover o enxugamento de gastos.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves