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Diferenças: o elo entre as pessoas

Diferenças: o elo entre as pessoas

14/04/2016 Flávio Melo Ribeiro

Numa tarde, alguns anos depois de formado, atendi dois novos pacientes com o mesmo tipo de queixa.

“Dificuldade de relacionar-se com os outros”: o primeiro sofria pelo seu egocentrismo e o outro pela solidão, que beirava a depressão.

Até começar a atendê-los não tinha ideia do quanto eles iriam possibilitar um novo direcionamento nos atendimentos.

14 horas: entrou no consultório um rapaz de aproximadamente vinte e dois anos, moreno, olhos tristes, cabelos cacheados, sorriso que mostrava sofrimento.

Durante a psicoterapia ficou tenso e inclinado para frente. Falava com arrogância, mas seu discurso apontava sua insegurança. Sua queixa era que não conseguia manter um namoro.

Relatou que depois de alguns meses e diversas DR (discutir a relação) o relacionamento acabava. Entendia o que acontecia, mas não saia desse ciclo vicioso.

No decorrer dos atendimentos ficou claro o quanto desejava que as pessoas mudassem para que ele fosse feliz e pudesse tanto amar e ser amado, mas não fazia o básico: mudar a si próprio.

Ele era egocêntrico: nas conversas adorava falar de si, das atividades que fazia e gostava, bem como interromper a fala do outro para expor suas opiniões.

A ânsia em falar de si deixava pouco tempo ao outro, consequentemente, não conhecia com profundidade seus familiares, amigos e as namoradas que teve.

Percebia com muita facilidade os defeitos dos outros e os apontava, por vezes o fazia de forma engraçada, mas não menos agressiva. Nos namoros não era diferente, percebia e apontava o quanto a namorada não lhe agradou, ou ficou distante, mas pouco percebia seus defeitos.

Exigia atenção o tempo todo e para isso justificava que se dedicava inteiramente a namorada. Isto era verdade, mas não se dava conta que o fazia por carência, por medo de ficar sozinho e não de forma equilibrada.

Para quase tudo tinha uma justificativa e quem tudo justifica não consegue enxergar seus próprios erros, por conseguinte, deixava suas “namoradas” na defensiva, não encontravam nele um ombro amigo, ele era mais um filho do que um namorado.

A missão da psicoterapia foi torna-lo adulto e um conhecedor do ser humano e suas necessidades. Ele precisou conhecer quem estava ao seu redor, perceber suas necessidades e saber o que os motivavam, bem como, identificar o que no seu comportamento era maléfico nas relações.

Aprendeu a ouvir mais do que falar, a respeitar e ser humilde; com o tempo se deu conta que precisava amar para então ser amado. Com essas mudanças foi possível aprofundar os aspectos subjetivos e emocionais que lhe apareciam como barreira.

Às 15 horas entrou na sala um homem de 26 anos, solteiro, engenheiro, com dificuldade de manter olhar e seguidamente ficava cabisbaixo ao relatar o quanto sofria com a solidão. Considerava um fardo muito grande as responsabilidades que estavam sob suas costas, tanto profissionais como familiares.

Relatou que é o irmão mais velho de uma família de três filhos. Seus pais tinham casado cedo e dedicado ao sustendo da família. Ele percebia que desde novo já tinha ultrapassado a condição dos seus pais, tanto financeira quanto intelectual.

Sabia que não seriam eles que lhe direcionariam na vida moderna, mas o inverso, os pais esperavam dele o apoio. Ele por sua vez, sempre apresentou sonhos grandiosos e gostaria de realiza-los, mas nunca tinha se dado conta do peso que isso representava.

Ao mesmo tempo que sonhava, lamentava sua condição e sua solidão, à medida que isso ocorria mais as pessoas se afastavam dele. Ao descrever suas relações apareceu a visão que os outros tinham dele: uma pessoa que reclamava, culpava os outros e no fundo não tinha condição de realizar o que sonhava.

Em vez de congregar afastava as pessoas, mesmo assumindo profissionalmente posição de liderança, não liderava, não era exemplo, nem inspirava os colaboradores a lhe seguirem. No decorrer do processo psicoterapêutico percebeu que procurava a solidão e o fazia para evitar o confronto e as responsabilidades pelas suas escolhas.

Ele tinha vários predicados para se dar bem na vida e no desenvolvimento dos seus projetos, mas pecava no mais básico, não sabia lidar com o ser humano. Não se interessava e não incentivava seus colaboradores, não sorria e não demonstrava o quanto seus colaboradores eram importantes e o quanto colaboravam nos seus projetos.

Com seus familiares reclamava que nenhum o ajudava, que precisava pensar e fazer sozinho. Nesse caso foi importante descrever o contexto social da sua infância, como foi educado e principalmente o que ele fez dessa educação.

Porque mais importante do que como fomos educados é o que fazemos dela, isto é que define com mais profundidade o que seremos e consequentemente o que faremos e construiremos. Em paralelo foi visto maneiras mais adequadas de como lidar com as pessoas que o rodeiam e possibilitar uma mudança sincera da sua personalidade.

Esses dois pacientes nunca se encontraram, mas eu sabia que caso conseguissem discutir em conjunto seus problemas, a superação dos mesmos seria mais rápida e todos sairiam fortalecidos. Foi refletindo sobre esses atendimentos que consegui montar grupos de psicoterapia.

Pois vejo o quanto é significativo o paciente receber apoio de outras pessoas que estão passando pelo mesmo problema e o quanto é importante ele se ver ajudando o outro.

* Flávio Melo Ribeiro é psicólogo.



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