Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Direitos Humanos e a justiça de Santo Ivo

Direitos Humanos e a justiça de Santo Ivo

17/05/2013 Wagner Dias Ferreira

O século XIII trouxe a existência de universidades que, hoje, são das mais antigas do mundo. Na Europa, pairava clima de mudança.

Era chegada a hora de deixar a idade média e caminhar em direção a novos ares. E, bem no seio destes novos ares, um homem tecia singelas contribuições. Das quais, a mais importante era o acesso à justiça para os pobres. Santo Ivo, que viveu no século XIII, marcou a humanidade pela preocupação com a defesa dos pobres.

Mitos e lendas se desenvolveram em torno deste homem, mas, ninguém nega que ele seja o patrono dos advogado e que se tornou este padroeiro defendendo graciosamente os pobres. Inclusive, comemora-se o dia de Santo Ivo no próximo 19 de maio. Hoje, quando olhamos a advocacia moderna e o poder judiciário, observamos que há muito por se fazer.

O princípio de presunção da inocência, que permite aos poderosos responder em liberdade os processos criminais, raramente se aplica aos pobres. Não raras vezes, o usuário de drogas é preso pela polícia militar em flagrante na esquina, com uma, duas ou três pedras de crack e permanecem presos por cerca de cinco a oito meses em regime fechado para, após todo este tempo, receber uma pena de tratamento compulsório. Deste modo, surge o dilema: quando era constitucionalmente inocente, ficou preso em regime fechado, agora, que está condenado é libertado.

Contradições judiciais – Nosso sistema de justiça penal precisa começar a enfrentar suas contradições e estabelecer outros mecanismos de garantia do juízo que não seja a prisão em regime fechado. Os juízes resistem em aplicar medidas substitutivas enquanto não se chega ao termo dos processos, mas isso precisa ser repensado.

Por exemplo, quando um homem pratica um crime de roubo, qualificado com o concurso de agentes, por ser mais de um ladrão e com uso de arma de fogo, sendo ele de bons antecedentes, ou seja, está praticando crime pela primeira vez, a pena será de cinco anos e quatro meses de reclusão em regime semiaberto.

Ora, desta forma, é muito injusto que ele aguarde preso em regime fechado uma condenação que de antemão já se sabe que não será em regime fechado, isso quando o réu não é absolvido e aí a prisão foi um verdadeiro abuso do Estado. O tema é polêmico e difícil de tratar, mas estas nuances precisam ser enfrentadas pela sociedade, pois, a falta de coerência no nosso sistema de justiça penal impede que a aplicação da justiça produza o efeito preventivo desejado pelo direito penal.

Veja que a Lei de Execução Penal e a Reforma da Parte Geral do Código Penal são da década de 80 (século XX). No entanto, até hoje, o Estado não construiu estabelecimentos capazes de atender aos regimes semiaberto e aberto. Desta forma, os juízes têm que aplicar a prisão domiciliar como alternativa à falta de estabelecimentos.

O Supremo Tribunal Federal (STF) está inclusive sendo provocado a discutir a aplicação da prisão domiciliar como alternativa à falta de estabelecimentos de regime semiaberto. Então, aquela máxima de que muitas vezes a defesa do advogado se restringe a obter uma redução de pena ou um regime mais favorável não possui efetividade já que não existem estabelecimentos para o cumprimento destas penas. Assim, mesmo que o advogado queira promover uma boa defesa para seu cliente, encontrando mérito nas causas que patrocina, não encontra respaldo nos resultados.

Acaba tendo que se restringir a realizar os atos formais nos processos, não podendo garantir ao cliente o cumprimento daquilo que foi escrito na lei. E é aí que reside a relevância contemporânea de Santo Ivo. A sua preocupação de defender os pobres não era um sentimento religioso inocente. A defesa dos pobres é a busca de efetividade do Direito, da Justiça. E, quando esta se faz presente na vida dos mais frágeis e desprovidos de recursos, o seu potencial de universalidade é muito maior.

*Wagner Dias Ferreira, advogado e membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG.



Eleições para vereadores merecem mais atenção

Em anos de eleições municipais, como é o caso de 2024, os cidadãos brasileiros vão às urnas para escolher prefeito, vice-prefeito e vereadores.

Autor: Wilson Pedroso


Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O Pronto Atendimento e o desafio do acolhimento na saúde

O trabalho dentro de um hospital é complexo devido a diversas camadas de atendimento que são necessárias para abranger as necessidades de todos os pacientes.

Autor: José Arthur Brasil


Como melhorar a segurança na movimentação de cargas na construção civil?

O setor da construção civil é um dos mais importantes para a economia do país e tem impacto direto na geração de empregos.

Autor: Fernando Fuertes


As restrições eleitorais contra uso da máquina pública

Estamos em contagem regressiva. As eleições municipais de 2024 ocorrerão no dia 6 de outubro, em todas as cidades do país.

Autor: Wilson Pedroso