O legado de Mikhail Gorbatchov
O legado de Mikhail Gorbatchov
O jornal The New York Times, ao comentar a morte do último líder soviético Mikhail Gorbatchov, assim afirmou:
"Poucos líderes no século 20, na verdade em qualquer século, tiveram um efeito tão profundo em seu tempo. Em pouco mais de seis anos tumultuados, Gorbatchov levantou a Cortina de Ferro, alterando decisivamente o clima político do mundo".
Gorbatchov, Prêmio Nobel da Paz de 1990, faleceu no dia 30 de agosto de 2022, em Moscou, aos 91 anos. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que Gorbatchov teve "uma grande influência na História mundial".
Foi importante a sua atuação para o fim da união Soviética e também da Guerra Fria, tendo visto arriar a bandeira do comunismo (com a foice e o martelo) no dia de Natal de 1991, depois da desintegração da então União Soviética, movimento impulsionado, dentre outros fatores, pela perestroika, que ele implementou.
Cabe lembrar que o papa João Paulo II também desempenhou papel relevante nesse processo, que culminou com a queda do muro de Berlim, em 1989, e a dissolução da União Soviética, em 1991.
Depois que deixou a presidência, Gorbatchov dedicou-se a causas internacionalistas, com a do Meio-Ambiente, atuando ainda através da Fundação Gorbatchov.
Muitos consideram que o legado de Gorbatchov está comprometido com a ofensiva de Putin à Ucrânia, depois dos esforços feitos pela paz mundial, que valeu a Gorbatchov o Prêmio Nobel da Paz, por um mundo sem ameaça nuclear.
Mas há críticas também em relação à atuação do ex-líder soviético, refutadas por aqueles que reconhecem a nova atmosfera depois da perestroika.
"Aqueles que são agressivos (com Gorbachev) hoje são pessoas que querem retornar ao sistema soviético. Pessoas que eram escravas e querem continuar sendo escravas", disse Gannushkina à AFP. "E não querem agradecer a quem lhes deu a liberdade", afirmou Svetlana Gannushkina.
Os críticos ressaltam ainda que a atuação de Gorbatchov após deixar o Kremlim, foi no sentido de colaborar com os interesses do mundialismo ocidental protagonizado pela ONU e outros organismos internacionais, mundialismo este que Putin hoje parece contestar com sua política bélica e expansionista eurasiana.
Também é criticado por seu ambientalismo ideologicamente questionável. O fato é que, junto com Ronald Reagan, Margaret Thatcher e João Paulo, Gorbatchov foi uma das mais influentes lideranças do final do século 20, que contribuiu para uma mudança, não apenas na Rússia, mas também em nível global.
Segundo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, Gorbatchov era "um estadista único que mudou o curso da história e um líder global imponente, multilateralista comprometido e defensor incansável da paz".
* Valmor Bolan é Doutor em Sociologia, professor da Unisa, ex-reitor e dirigente do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras.