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O que derrubou o Muro de Berlin

O que derrubou o Muro de Berlin

25/11/2014 João César de Melo

O “erro fatal” da União Soviética foi ignorar que cada indivíduo possui necessidades, desejos e ambições próprias. Tentaram, por meio da força, planificar não apenas a economia, mas a natureza humana.

Tentaram moldar centenas de milhões de pessoas a partir de um arquétipo intelectual desenhado pelos devaneios de um pequeno grupo de ideólogos. O discurso era lindo: promover a justiça social. O resultado foi trágico: a escravização de toda a população, da qual mais de cem milhões de cidadãos morreram de fome ou assassinados pelo próprio governo. ”Sem liberdade não há escolha moral; sem escolha moral não pode haver méritos; e, sem mérito, o que pode valer o indivíduo?” Eduardo Giannetti.

Comecemos por entender que todo indivíduo procura, sempre, seu próprio conforto, seus próprios prazeres. Ninguém coloca os interesses dos outros à frente de seus próprios interesses. Mesmo aquele que se dedica à caridade, de fato está apenas livrando-se de algum sentimento de culpa, tentando ser reconhecido como pessoa “boa” ou garantindo um lugar ao lado de seu Deus. Além de ser um direito de cada indivíduo pensar primeiro em si mesmo, o egoísmo é um impulso – somos animais – , portanto, não podemos condenar ninguém por isso.

Porém, em qualquer sociedade, interesses particulares são correlacionados o tempo todo, com o conjunto desses interesses convergindo em benefícios coletivos na medida em que seus indivíduos têm liberdade para negociar com os demais. Liberdade para negociar o valor do seu trabalho. Liberdade para negociar o preço do seu produto e do seu tempo. Liberdade para escolher seus parceiros comerciais. Liberdade para tentar enriquecer ou viver sem ambições materiais. Liberdade para ajudar ou não outras pessoas.

Liberdade para amar quem quiser. Liberdade para crer ou não em Deus. Liberdade! Liberdade também para cada pessoa, em função de seus talentos, escolher qual a melhor estratégia para viabilizar seus desejos, o que leva algumas a empreender negócios, outras a construir carreira em algum esporte, em alguma arte, em alguma ciência ou profissão; com as recompensas sendo conquistadas na proporção do sucesso alcançado. Porém, uma pequena parcela da sociedade com talentos restritos aos da oratória, da persuasão e da liderança social, não têm outra opção se não apresentarem-se como intermediários entre os desejos das pessoas e a realização desses mesmos desejos. Eis os políticos e líderes socialistas e comunistas.

Aproveitando a insatisfação de grande parte da sociedade russa com as condições de trabalho e com a opressão do governo de Nicolau II, meia dúzia de líderes comunistas se apresentou como os libertadores. Foram ouvidos. Foram seguidos. Conquistaram o poder e eliminaram todos os que poderiam ameaçá-los ou simplesmente questioná-los. Para manter o poder, este pequeno grupo de revolucionários também impôs um intransponível código social, político, econômico e cultural, proibindo o cidadão de manifestar suas angústias e necessidades, privando-o do direito de desenhar seu próprio futuro. Sem a liberdade de cada indivíduo perseguir suas próprias ambições, a sociedade perdeu a motivação de trabalhar.

Sem o direito de propriedade, os indivíduos perderam o zelo com suas casas e plantações. Nenhuma das centenas de milhões de pessoas que confiaram no ideal de justiça social prometido pelos comunistas se dispuseram a trabalhar em função das necessidades dos outros. As fábricas, antes administradas por empresários gananciosos, passaram a ser administradas por funcionários públicos incompetentes e relapsos. Com muito mais poder concentrado no Estado, a corrupção e a violência estatal foram multiplicadas. Se antes o luxo era um privilégio da nobreza e dos grandes empresários, passou, então, a ser um privilégio apenas dos líderes comunistas. O povo que antes reclamava dos salários e das condições de trabalho se viu obrigado a agradecer pela ração que recebia para sobreviver.

A despeito da tragédia social ao redor, os líderes do Partido Comunista continuavam priorizando a manutenção de seus confortos e privilégios, o que necessariamente dependia de manter tudo e todos sob seu controle. Todos os recursos naturais dos países que compunham a Cortina de Ferro eram convertidos em receita para manter a educação doutrinária, o poderio bélico e a gigantesca rede de funcionários públicos, militantes e informantes. Os gastos estatais aumentavam na mesma proporção em que caía a produtividade da indústria, culminando no colapso total do regime, no final de década de 1980.

A lição que a humanidade devia ter aprendido é que não é possível transformar o homem noutra coisa. Nenhum governo, nenhuma força é capaz de tirar do homem o impulso de pensar primeiro em si mesmo. Nem deus! A sociedade precisa não apenas aprender a conviver com as vaidades, com as invejas, com os desejos e com as ambições humanas, mas também a tirar proveito disso tudo. Enquanto os comunistas tentavam, por meio da força, transformar seres humanos numa massa de robôs assépticos, a Europa Ocidental, os Estados Unidos e alguns outros países seguiam amadurecendo suas relações sociais, políticas e econômicas sem revoluções, sem fuzilamentos coletivos, sem campos de trabalho forçado.

Amadureceram e prosperaram oferecendo liberdade para cada indivíduo perseguir seus objetivos, confortos e prazeres em função de seus talentos e ambições. Cresceram coletivamente a partir da correlação natural de interesses individuais. Venceram crises econômicas entendendo-as, não rejeitando o capitalismo. A outra lição que a humanidade, especialmente a América Latina, devia ter aprendido é que por trás de cada discurso de “justiça social” sempre há pessoas desejando apenas lucrar com isso. Todas as vezes que alguém tenta se impor como libertador das massas, na verdade está tentando transformá-la em seu rebanho. Enquanto as famílias cubanas têm direito a não mais que uma latinha de leite em pó por semana, Fidel e Raul têm suas vacas particulares. O muro de Berlim não foi derrubado. O muro de Berlin desmoronou por causa do peso da arrogância depositada sobre ele.

*João Cesar de Melo é Arquiteto, artista plástico, escritor e colunista do Instituto Liberal.



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