Portal O Debate
Grupo WhatsApp

O sexo e o cálculo do PIB

O sexo e o cálculo do PIB

22/03/2017 José Pio Martins

O Produto Interno Bruto (PIB) é a soma dos bens e serviços finais produzidos dentro do país.

O termo “bruto” significa tudo que é produzido sem considerar a depreciação do que foi utilizado no caminho, como estradas, ferrovias, prédios, máquinas, equipamentos, móveis e outros bens de capital, que se desgastam sem desaparecer.

Em uma fábrica de sapatos, o produto são os calçados produzidos sem descontar o desgaste das máquinas. Tais máquinas um dia terão de ser substituídas, por isso dizemos que elas foram “consumidas” pelos sapatos fabricados durante sua vida útil.

O PIB apareceu pela primeira vez em 1924 para medir a economia dos Estados Unidos. Mais adiante, nos anos 1930, o presidente Franklin Roosevelt encarregou Simon Kuznets de elaborar indicadores mais eficientes sobre a renda e o produto nacional.

Nascia ali a metodologia hoje utilizada no mundo inteiro, apesar de o modelo apresentar algumas falhas. Um exemplo: se uma família contrata uma empregada para os trabalhos domésticos, o fato de ser registrada e remunerada faz que o serviço prestado por ela entre no cálculo do PIB.

Mas, se a própria mãe faz os trabalhos da casa, isso não entra no PIB. Outro problema é a dificuldade de somar coisas diferentes. A solução para somar toneladas de cenouras com litros de leite e quantidade de vacinas, por exemplo, é tomar tudo por seu preço de mercado.

Nisso reside um problema: se dois homens vão a dois médicos distintos para consulta, o primeiro paga R$ 100 e o segundo paga R$ 350, os dois serviços médicos entram no PIB pela soma dos honorários. Na contabilidade nacional da assistência médica é lançado o valor de R$ 450 e uma distorção é criada, pois, apesar da diferença de preço, os dois serviços são iguais.

Outra questão envolvendo o PIB é seu caráter amoral. O PIB é uma medida do que a nação produz, não importando a razão por que produz. A Inglaterra resolveu incluir nas Contas Nacionais (nome da contabilidade do país) os serviços sexuais oferecidos pelas prostitutas, por uma questão simples.

Se alguém vai ao cinema, o serviço de lazer que ele comprou está no PIB. Os serviços vendidos pela Disney estão no cálculo do PIB norte-americano, assim como o preço pago por um torcedor para ver uma partida de futebol também está. Não há razão para que os serviços sexuais não estejam no cálculo do PIB.

É um serviço de lazer, como outro qualquer. O mesmo acontece com as drogas. Se alguém produz e alguém compra, as drogas devem entrar no cálculo do PIB, sem considerações morais ou religiosas. Os que condenam a inclusão desses bens e serviços no PIB estão, como diria o filósofo André Comte-Sponville, fazendo confusão das ordens.

O PIB é apenas uma contabilidade, sem considerações morais, religiosas ou legais. As armas produzidas no mundo estão no PIB, ainda que sejam usadas para matar. Apesar de ter defeitos, o PIB é o melhor indicador da produção de bens e serviços dentro das fronteiras geográficas do país.

O crescimento do PIB é a principal condição para melhorar o bem-estar da população e o principal desafio é como fazê-lo crescer regularmente todos os anos a taxas superiores ao crescimento populacional. Se a sociedade decidir que não quer determinadas atividades, como é o caso do sexo e das drogas, a solução não está em deixar de contabilizar tais produtos, uma vez que eles existem, mas conseguir proibi-los e bani-los. Jogar o termômetro no lixo não cura a febre de ninguém.

* José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.



O mal-estar da favelização

Ao olharmos a linha histórica das favelas no Brasil, uma série de fatores raciais, econômicos e sociais deve ser analisada.

Autor: Marcelo Barbosa


Teatro de Fantoches

E se alguém te dissesse que tudo aquilo em que você acredita não passa de uma mentira que te gravaram na cabeça? E que o método de gravação é a criação permanente de imagens e de histórias fantásticas?

Autor: Marco Antonio Spinelli


Esquerda ou direita?

O ano de 2020 passou, mas deixou fortes marcas no viver dos seres humanos.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


O investimento público brasileiro e a estruturação social inclusiva

O investimento público desempenha um papel crucial no desenvolvimento de uma nação.

Autor: André Naves


Eleições 2024: o que vem pela frente

Em outubro de 2024, os brasileiros retornarão às urnas, desta vez para eleger prefeito, vice-prefeito e vereadores de seus municípios.

Autor: Wilson Pedroso


Seja um líder que sabe escutar

Uma questão que vejo em muitas empresas e que os líderes não se atentam é sobre a importância de saber escutar seus colaboradores.

Autor: Leonardo Chucrute


Refugiados, ontem e hoje

A palavra “refugiados” vem da palavra fugir.

Autor: Solly Andy Segenreich


A solidão do outro lado do mundo

Quem já morou no exterior sabe que a vida lá fora tem seus desafios.

Autor: João Filipe da Mata


Um lamento pelo empobrecimento da ética política

Os recentes embates, físicos e verbais, entre parlamentares nas dependências da Câmara Federal nos mostram muito sobre o que a política não deve ser.

Autor: Wilson Pedroso


Governar com economia e sem aumentar impostos

Depois de alguns tiros no pé, como as duas Medidas Provisórias que o presidente editou com o objetivo de revogar ou inviabilizar leis aprovadas pelo Congresso Nacional - que foram devolvidas sem tramitação - o governo admite promover o enxugamento de gastos.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


A poderosa natureza

O dinheiro é um vírus que corrompe tudo e quando a pessoa se “infecta”, dificilmente se livra.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


A maior eleição do mundo e o nacionalismo hindu

O ano de 2024 está sendo considerado o superano das eleições pelo mundo. Ao todo, mais de 50 países terão pleitos variados, dentre os quais o Brasil e os Estados Unidos.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray