Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Os brasileiros não são livres

Os brasileiros não são livres

24/02/2016 Amadeu Garrido de Paula

Liberdade. Atributo fundamental da vida.

Com Isaiah Berlin, destacaram-se cogitações de pensadores do tema. A liberdade pode ser vista como "fim-em-si-mesma". E como ferramenta para obtenção de outros valores.

Fiquemos no primeiro sentido. Liberdade humanística. Sem ela, o homem decai ou morre, seja sob o aspecto da coletividade política, seja individualmente.

O carrasco (ditador político) ou o carrasco individual. O homem sem liberdade é a vítima, uma das mais deploráveis. Nos últimos tempos, os brasileiros imaginaram ser humanos e livres.

Sua vontade expressa era respeitada. Pouco importa se os objetivos eram atingidos. Como dissemos sob o aspecto da liberdade humanística basta seu exercício.

Votavam, finalmente, por maioria, num partido que lhes rendiam firmes esperanças. De esquerda, honesto, voltado para erradicar a injustiça social, a falta de ética na política.

Os que, por muitos anos, tinham maculado a vontade livre, estavam politicamente enterrados. Ainda que pobres, os brasileiros sentiam a brisa da liberdade-em-si, essa parte imprescindível do indivíduo e das coletividades.

Viviam contentes, alguns auxiliados por programas assistencialistas. Esperançosos. Sentiam-se cidadãos ativos. Sabiam que a mudança do país seria tardia, mas não pode ser de outro modo.

Estavam livres de uma elite opressora. Chegaram à jactância, ao abuso dessa liberdade-essência, ao subestimar os "loirinhos de olhos azuis", enredados na crise do primeiro mundo.

De todo modo, desde o descobrimento era a primeira vez em que se sentiam livres. Daí a esperteza do melancólico carismático de Garanhuns: "nunca antes na história deste país...".

Temos fundadas razões para afastá-lo da política do país, mas seu carisma, interpretação do sentimento e das palavras que querem ser ouvidas por multidões, é inegável.

Pena que falta honestidade, o que compromete a própria liberdade do carismático. Lamentavelmente, essa essência humana esvaeceu-se. A partir de um momento, o brasileiro não se sentiu mais livre.

Errar culposamente no governo não compromete a vontade de quem o elegeu. Em pequenas proporções, podem ser feitas todas as correções de rumo. O problema é que o partido que representaria a liberdade foi hipócrita.

Assim como se deu no partido trabalhista britânico, no movimento sindical polonês e no exemplo mais destruidor das esquerdas - o fim do socialismo soviético. A negativa de nossa liberdade começou com sérias derrapagens éticas.

Em regime de presidencialismo de compromisso, as velhas práticas desonestas ressurgiram, sob o comando do lulopetismo. Não é necessário destacar fatos notórios. Basta dizer que, considerada a ética na política algo elementar, nossos irmãos já se sentiram traídos.

Parte significativa de sua alma recomeçava a ser conspurcada, em proporções gigantescas, como nunca antes na história desse país... Investigações, ações penais, condenações, encarceramentos, prisões domiciliares, correntes nos tornozelos, tudo isso acabou com a liberdade-em-si exercida pelo povo brasileiro.

O sentimento de perda essencial, assim como quando somos traídos por um advogado que escolhemos. E muito mais. O empreendedorismo morreu com a mãe do PAC. Uma política não conectada beneficiou poucos setores e desorganizou o todo.

A inflação, dobrada por um plano de rara arquitetura, voltou. Desemprego, medidas previdenciárias perversas, grandes lucros de bancos, como sempre na história deste país. O Estado inchado de Ministérios, instituições e da companheirada.

E a campanha eleitoral mentirosa, que tudo turvou. Autocrítica não consta do dicionário dessa esquerda oportunisita. Consequência: voltamos à pobreza e à absoluta escuridão da alma. O humanismo da liberdade dos brasileiros, principalmente dos trabalhadores, foi profundamente impactado.

Perspectiva material caótica e, talvez pior, no plano psicológico e filosófico. Frustração. O inconsciente coletivo assomou a superfície das águas do consciente racional e vivo, com toda sua carga de uma história constituída de lixo tóxico.

Ficamos desfalcados da existência plena, do humanismo. Nossa liberdade primária, a expressão da vontade sem ser conspurcada, foi uma ilusão fugaz. Tanto para os que a exerceram confiantes, como para os críticos dessa "revolucionária" proposição política.

Hoje não podemos dizer que há esperanças coletivas, sejam quais forem os segmentos sociais. Resta a liberdade-em-si individual, da qual jamais devemos renunciar, sob pena de morte em vida.

Todavia, bifrontes, homens que vivem em sociedade, nossa liberdade humanística, enquanto indivíduo termina no cárcere público, no caminho do país para o caos.

Há que abrir-se outro, amplo e promissor caminho, que se inicia no marco de um novo poder nacional constituinte.

* Amadeu Garrido de Paula é um renomado jurista brasileiro com uma visão bastante crítica sobre política, assunto internacionais, temas da atualidade em geral.



Para escolher o melhor

Tomar boas decisões em um mundo veloz e competitivo como o de hoje é uma necessidade inegável.

Autor: Janguiê Diniz


A desconstrução do mundo

Quando saí do Brasil para morar no exterior, eu sabia que muita coisa iria mudar: mais uma língua, outros costumes, novas paisagens.

Autor: João Filipe da Mata


Por nova (e justa) distribuição tributária

Do bolo dos impostos arrecadados no País, 68% vão para a União, 24% para os Estados e apenas 18% para os municípios.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


Um debate desastroso e a dúvida Biden

Com a proximidade das eleições presidenciais nos Estados Unidos, marcadas para novembro deste ano, realizou-se, na última semana, o primeiro debate entre os pleiteantes de 2024 à Casa Branca: Donald Trump e Joe Biden.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray


Aquiles e seu calcanhar

O mito do herói grego Aquiles adentrou nosso imaginário e nossa nomenclatura médica: o tendão que se insere em nosso calcanhar foi chamado de tendão de Aquiles em homenagem a esse herói.

Autor: Marco Antonio Spinelli


Falta aos brasileiros a sede de verdade

Sigmund Freud (1856-1939), o famoso psicanalista austríaco, escreveu: “As massas nunca tiveram sede de verdade. Elas querem ilusões e nem sabem viver sem elas”.

Autor: Samuel Hanan


Uma batalha política como a de Caim e Abel

Em meio ao turbilhão global, o caos e a desordem só aumentam, e o Juiz Universal está preparando o lançamento da grande colheita da humanidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


De olho na alta e/ou criação de impostos

Trava-se, no Congresso Nacional, a grande batalha tributária, embutida na reforma que realinhou, deu nova nomenclatura aos impostos e agora busca enquadrar os produtos ao apetite do fisco e do governo.

Autor: Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves


O Pronto Atendimento e o desafio do acolhimento na saúde

O trabalho dentro de um hospital é complexo devido a diversas camadas de atendimento que são necessárias para abranger as necessidades de todos os pacientes.

Autor: José Arthur Brasil


Como melhorar a segurança na movimentação de cargas na construção civil?

O setor da construção civil é um dos mais importantes para a economia do país e tem impacto direto na geração de empregos.

Autor: Fernando Fuertes


As restrições eleitorais contra uso da máquina pública

Estamos em contagem regressiva. As eleições municipais de 2024 ocorrerão no dia 6 de outubro, em todas as cidades do país.

Autor: Wilson Pedroso


Filosofia na calçada

As cidades do interior de Minas, e penso que de outros estados também, nos proporcionam oportunidades de conviver com as pessoas em muitas situações comuns que, no entanto, revelam suas características e personalidades.

Autor: Antônio Marcos Ferreira