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Quando acabar o fôlego da Lava Jato

Quando acabar o fôlego da Lava Jato

09/12/2016 Daniel Medeiros

A Operação Mãos Limpas mudou tudo para que tudo continuasse como sempre esteve.

No início dos anos 90, um funcionário público ligado ao Partido Socialista Italiano, Mario Chiesa, foi preso, acusado de usar uma empresa de fachada para receber propinas de prestadoras de serviço ao governo italiano.

Caso típico de corrupção, de relação espúria entre agentes públicos com empresários, envolvendo superfaturamento, apropriação indevida de recursos públicos e financiamento ilegal de candidaturas.

A diferença, neste caso, é que Mario Chiesa “caiu atirando”: denunciou vários “colegas” de envolvimentos semelhantes. A investigação então se espalhou e – estimulando as delações dos envolvidos em troca da diminuições das penas - atingiu cerca de cinco mil pessoas, virando de cabeça para baixo o sistema político italiano, ferindo de morte os três maiores partidos desde o fim da Segunda Guerra – O PDC, o PSI e o PCI – e abrindo caminho para os “não-políticos”, como o empresário Sílvio Berlusconi, chegarem ao poder.

Nesse momento, parecia que, deixando os políticos e os partidos de fora, a Itália renasceria “limpa” e pronta para um salto de qualidade rumo ao futuro. Não é preciso dizer que, após cerca de 7 anos de investigações, nada ou quase nada havia sido mudado nas práticas políticas italianas.

Basta lembrar os escândalos envolvendo os governos Berlusconi, logo ele que chegara ao cargo de Primeiro Ministro para “acabar com tudo o que envergonhava os italianos”. A operação “Mãos Limpas”, como ficou conhecida, perdeu força quando indicou que a corrupção na Itália não podia ser combatida prendendo apenas os grandes figurões, embora essas prisões servissem para saciar o desejo de “vingança” por uma política que há muito havia virado as costas aos anseios mais prementes da população: saúde de qualidade, transporte urbano, educação, segurança.

Com o passar do tempo, porém, o efeito espetacular das prisões foi perdendo o “encanto” e o Ministério Público, seguindo a trilha do dinheiro roubado, começou a “caçar” personagens menos conhecidos – funcionários, contadores, lobistas, cambistas, operadores.

Cada vez mais ficava claro aos olhos de todos que “purificar” a política italiana de seus vícios não implicava apenas em colocar quinhentos ladrões da cadeia. Implicava criminalizar a corrupção do dia a dia, a sonegação do pequeno comerciante, o suborno do guarda de trânsito, o acerto com o fiscal do boteco da esquina, a compra de alvará do posto de gasolina de bairro, a venda sem nota fiscal da lojinha de produtos chineses, etc. e etc..

Ou seja: o que se escancarava era que o modo de vida de uma sociedade era posta em xeque, com suas práticas que passavam longe dos Palácios de governo e das casas Legislativas. E quando esse dedo acusador começou a apontar também aqueles que comemoraram a prisão dos “peixes graúdos”, o incômodo aumentou.

E então, alguns anos depois da euforia, quase ninguém se opôs quando o Parlamento, na surdina, foi desmontando a operação anticorrupção. Já era hora de fechar as cortinas. A Itália tornou-se um lugar melhor após essa epopeia toda? Não.

A Itália continuou a ser um mesmo lugar e os italianos, de uma maneira geral, continuaram a pensar do mesmo jeito, entendendo que sempre é possível levar alguma vantagem quando se é “esperto” e que “crime” nunca é o que você está fazendo.

E a indignação? Curiosamente, continua intensa (como uma praxe): crítica aos políticos, abstenção nas eleições, sugestões de separatismo, nostalgia do governo autoritário de Mussolini, etc. e etc.. Parafraseando um italiano do passado, a Operação Mãos Limpas mudou tudo para que tudo continuasse como sempre esteve.

A Terra gira e não sai do lugar. Mas a vontade de continuar mudando – em alguns, sincera - vai criando os heróis do momento, desde que não acreditem que devam mudar àqueles que os apoiam, “traindo”, assim, a causa. Quando isso acontece, outro “herói” deve ser convocado, como uma ciranda: nós que amávamos Joaquim, que amamos Moro, que amamos Lúcia, que amaremos...

* Daniel Medeiros é Doutor em Educação Histórica pela UFPR e professor do Curso Positivo, de Curitiba (PR).



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