Socorro abençoado
Socorro abençoado
Abri um berreiro quando acordei e não vi minha mãe em casa.
Foi o que me contaram, mas guardo na memória longínqua de criança de quatro ou cinco anos a sensação de rosto molhado, derramando choro e gritando pela mãe, no portãozinho de casa, junto à rua, na cidade de Leme-SP. Foi neste cenário dramático, desesperador, que aconteceu um milagre.
Vindo de sua casa, um jovem lemense – que depois se ordenaria padre – passava em frente da cena e se aproximou daquela criança desesperada. Estendeu a mão e afagou o pequeno, explicando que a mamãe chegaria logo.
Repetia que ela só havia ido ali na esquina e já estava voltando para casa. Pelo que me contaram depois, a criança foi se acalmando e sem demora a mãe chegava. O enorme drama se desfizera magicamente mas jamais esqueci a ação carinhosa daquela criatura que caíra do céu naquela manhã, socorrendo-me naquele desamparo e realizando o milagre de me trazer de volta a mãe.
Tanto é que muitas décadas mais tarde, quando soube aqui em Botucatu que aquele jovem se ordenara padre e era o responsável pela Catedral de São Carlos-SP, fui visita-lo. Recebeu-me carinhosamente em seu escritório naquela igreja e recordamos as trajetórias pessoais. A dele pareceu-me divina desde sempre.
Deu-me um livro de sua autoria e despedimo-nos, deixando-me em paz, mais uma vez. Foi a derradeira oportunidade que tive de rever o querido Monsenhor Luiz Cechinato, o ilustre e reconhecido benfeitor não só meu mas de toda a cidade de São Carlos que o tem, agora e sempre, junto a todos os ilustres benfeitores daquela comunidade.
Como veio, viveu, socorreu, trabalhou e passou na vida... Chorei quando soube, por amigo comum, do seu recente passamento. Um choro, agora, de agradecimento eterno pelo longínquo milagre realizado...
* Francisco Habermann é médico e docente aposentado da FMB-UNESP, Botucatu-SP.