A Arte como inspiração para inovar
A Arte como inspiração para inovar
Neste artigo discutimos como a Arte nos inspira a inovar.

Aparentemente é um caminho fácil de ser compreendido, afinal, falar de Arte e sobre inspiração é algo que parece ser coerente, conexo. Vamos explorar este rico contexto.
Naquilo que aprendemos pela Arte, Inovar é, provavelmente, o mais evidente. Nos vários campos e contextos da produção artística, com os objetivos em que praticamos e apreciamos a Arte, inovar é motivo, força, base, forma da produção e da expressão artística. No resultado das obras, geralmente uma mensagem, postura ou motivação inovadora da parte dos artistas.
Uma rápida observação pelo campo da música nos permite reconhecer tal fato. Podemos tomar como um ponto de partida o canto, nas suas origens associado à manifestações religiosas, onde o arranjo coral, adicionado de eventuais solos, destacava os aspectos espirituais nas orações, desenvolvia a identidade de um grupo social e religioso e estabelecia até mesmo conexões regionais geográficas com correntes e práticas da fé. A Arte representava, portanto, um meio de associação e retenção de ritos, de maneira ainda inicial, servindo como fator destacado de associação, comunicação e retenção de grupos, tornando-se parte da identidade coletiva, na fé.
Tempo após, houve a inovação pela mudança tecnológica - fato incessante por séculos na Arte musical - com a introdução inicial dos primeiros instrumentos musicais. Alguns destes instrumentos chegaram a nós praticamente sem alterações, outros foram especializados, modificados e alguns não são mais usados.
Os dispositivos primários de corda, percussão e sopro compunham os primeiros agrupamentos orquestrais, ainda próximos dos grupos de música de câmara, que nos alcançam até hoje, chegando mesmo aos conjuntos de percussão, metais, cordas e eletrônicos, que são bem sucedidos atualmente. O uso e definição destes instrumentos resultou em substituição de parte da expressão vocal a partir daquele período, permitindo outros arranjos, novas formas de expressar.
O conjunto formado por músicos que tocavam instrumentos, em arranjos que davam apoio aos corais, tornou-se a base das orquestras de pequeno porte. Uma disrupção estava em andamento: a formação da base sinfônica. Os compositores, portanto, tinham, ao seu alcance, para expressão de sua criatividade e emoção, de suas concepções artísticas, novos instrumentos, inovando na produção de músicas e um conjunto completo de geração de sons. Tal processo determinou as propostas das iniciativas de documentação das peças musicais, o que permitiu a reprodução por outros artistas e disseminação do conhecimento pela arte, fortalecendo e expandindo a comunicação e a potencial geração de mercados.
Este é um bom ponto para associarmos estes princípios inovadores ao contexto organizacional, em vários aspectos. Primeiramente, a Arte como força de comunicação, da expressão da emoção, da fé e das percepções de grupo. Num paralelo, recorremos aos motivos centrais de campanhas de comunicação: Capturar a atenção, captar o interessado / cliente, associar este recém chegado ao nosso conjunto de valores, reter e definir um grupo ou segmento.
Captar, engajar, reter e desenvolver, lema de campanhas de marketing e comunicação sempre em uso. As técnicas de fidelização, desde o chamamento pelas obras religiosas, passando pela emoção do renascentismo, do barroco e do romantismo, trouxeram novas - inovadoras - formas de expressar a arte e, desta forma, inspirar a comunicação de massa, o uso de tecnologias, a força da informação e do conhecimento e, finalmente, o trabalho em equipe e a estrutura organizacional. Cria-se a base da gestão inovadora!
Podemos afirmar que um plano de marketing digital não teria traços destes comportamentos e atividades milenares? O uso de tecnologias - dos instrumentos, do desenvolvimento de codificações para registro das experiências e sensações - permitiu a escalabilidade da Arte? Como? Quais os casos de sucesso e de falhas? O que eles nos ensinam?
Ainda com base nas inovações tecnológicas, vemos um poderoso movimento no redesenho organizacional, uma mudança de modelo de negócios: a composição da orquestra.
Primeiramente, o agrupamento de músicos por instrumentos, objetivando a produção de sons. Os testes feitos pelos compositores e instrumentistas buscando o arranjo ótimo para emissão sonora, motivaram a ocupação do espaço e agrupamento dos músicos. A adoção de um “padrão universal” e as propostas de quebras, feitas por alguns dos compositores em determinadas obras tornou-se uma inovação dentro da anterior, de tecnologia instrumental. É a inovação a partir de uma inovação anterior. Que tal refletirmos a respeito?
Verifica-se uma inovação de modelagem de negócios que, depois de algum tempo, veio a definir um padrão adotado quase que como um fundamento de agrupamento dos músicos em palcos, determinando que as composições fluíssem por esta base definida. As bases das inovações de processos e de formas organizacionais se achavam lançadas!
Posteriormente, esta base foi desafiada em propostas de outros arranjos orquestrais, pelos grupos de câmara, por alguns compositores e pelos quartetos, quintetos e sextetos das modalidades musicais ou de outras, como as dos conjuntos de Jazz, que merecerão outra discussão futura em nossa abordagem.
Podemos verificar que a inovação resulta num sucesso momentâneo que define um padrão organizacional amplamente adotado, portanto, deixando ser uma ruptura por si só. Dado que se torna uma plataforma, define também uma nova base para novas rupturas. Um “oceano azul”, que se avermelha, permitindo novas projeções, planos, testes, ensaios e inovações, num processo contínuo de inovações!
Este caminho não é retilíneo. Em geral, apenas as experiências bem-sucedidas nos alcançam, gerando a falsa impressão que inovar é sempre um caminho de sucessos e de progressão linear. Não são raros os relatos que mostram que uma obra destacada de um determinado compositor foi “retirada do programa do mês seguinte” por não ter agradado, em virtude de mudanças de composição, introdução de solistas, entre outros fatos inovadores que não foram aceitos pelos espectadores e parceiros. Os aspectos de interação com mercados e clientes ficavam evidentes, trazendo uma valiosa experiência similar ao que verificamos atualmente em arranjos comerciais modernos.
Por fim, a música orquestral ainda nos permitiu outra inovação: compreender que a música não é apenas uma expressão de sons arranjada necessariamente para nos trazer conforto, prazer, dentro de uma organização definida. A orquestra pode ser orientada - via uma composição - a descrever uma paisagem, um fato, um conjunto de emoções ou ainda, simplesmente, explorar a sonoridade per se, sem ter a atribuição de produzir algo “cantável” pelo espectador.
Este é um aspecto da produção artística, de não ser simplesmente a reprodução da realidade, que nos mostra como a peça de Arte, a composição, pode modificar a própria razão funcional, organizacional do campo artístico. É fato que relaciono às nossas propostas de mudança de propósito e de valores das organizações, no momento em que falamos de adoção de valores inseridos nas ODSs, princípios de ESG, responsabilidade social e governança. A disrupção e inserção de “novos” (para quem adota) valores, corresponde às mudanças funcionais e de uso da Arte, sendo novo contexto para refletirmos.
Prosseguiremos em nossa reflexão sobre a inspiração da Arte em nossas próximas colunas. Você é nosso convidado a se manifestar! Boas reflexões, boa apreciação da Arte e seu relacionamento com a Gestão!
Ao leitor:
Nossa proposta, nesta coluna, não é ensinar ou promover a crítica de Arte, em geral. É de provocar a reflexão sobre temas da gestão, como inovação, estratégia, marketing, transformação digital, entre outros, motivado por reflexões a partir da Arte. Este texto é uma atualização “inspirada” de publicação anterior.
* George Leal Jamil é professor e consultor em temas de educação executiva. Engenheiro, MsC em Computação, Dr. em Ciência da Informação, pós-doutorados em Inteligência de Mercado e Empreendedorismo. Autor e Editor de livros no Brasil e exterior. Colunista de O Debate.
Foto: Divulgação/Freepik
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