Meu “hobby” de sempre
Meu “hobby” de sempre
Tudo começou quando eu tinha 4 ou 5 anos. Uma leve lembrança de uma viagem que fiz com meus pais, de trem, não sei para onde.

Eu fazendo xixi (ou outra necessidade) no banheiro do trem, com a janela aberta e um maquinista em outra composição parada sorrindo para mim.
Foi um sinal marcante, pois lembro somente desta passagem. Mas trens, ferrovia e o cheiro ficou para sempre.
Quando minha tia Ondina, dois anos depois, me pediu para desenhar o que queria ganhar no Natal que se aproximava, me expressei com a imagem de uma locomotiva e seus vagões em uma linha férrea imaginária.
Tia Oswaldina providenciou o presente. Contratou o Sr Jaques, um marceneiro talentoso, para fazer uma mesa, comprou um kit com uma locomotiva e vários vagões de um importador que morava na rua Prof. Morais e montou uma linda maquete, com uma paisagem rural, enfim um presente que encheu meus olhos e coração.
Este gosto por ferrovias e maquetes me mostrou um “hobby” conhecido como “Ferromodelismo”. Nome complicado? Nada mais é do que miniaturas de trens, paisagens e cenários em escala. Segundo o ChaptGPT este é o nome correto e não ferreomodelismo como dizem por aí. A palavra vem da junção de “ferrovia” com “modelismo”, referindo-se à prática de construir e colecionar modelos em miniatura de trens e ferrovias.
Descobri, primeiramente, na revista americana Mecânica Popular pessoas que praticavam este “hobby” e depois encontrei na Livraria Ricci, a revista “Model Railroader” que abriu meu pouco conhecimento do assunto para este mundo maravilhoso.
Durante anos comprei as revistas que guardo com carinho até hoje.
Um belo dia, no jornal Diário do Comércio, li uma reportagem sobre uma associação de pessoas de Belo Horizonte que também amavam este hobby.
E, na reportagem, um nome e um telefone. Era do meu futuro grande amigo Danilo que coincidentemente trabalhava no INSS, com minha tia Yedda. Depois de uma boa conversa fui na primeira reunião na casa do saudoso Frederico que tinha uma bela maquete.
Lá conheci o talentoso Ramiro, o sorridente Severiano, o amigo de sempre Saulo dentre outros poucos que se reuniam todos os sábados para discutir e apreciar estas esplêndidas miniaturas. Era os primórdios da Associação Mineira de Ferromodelismo (AMF).
Por falar em Saulo descobri na minha primeira reunião na casa do Frederico que ele era amigo da minha família há anos, inclusive tinha sido sócio de meu primo Rodrigo, na fábrica de bolas “Sportball”. A amizade que se iniciou naquele dia está presente e forte até hoje, estendendo-se aos seus descendentes.
Um belo sábado, um dos sócios comentou que conhecia o diretor da Rede Ferroviária Federal e que poderia agendar uma reunião para tentar conseguir um espaço para que nossa associação pudesse construir uma maquete própria.
Conversa vai conversa vem e eu, com minha experiência em marketing, sugeri que deveríamos preparar um “book” com fotografias da maquete do Frederico com várias locomotivas e vagões para mostrar o que é o “Ferromodelismo”. Isto porque quase ninguém conhecia este “hobby”.
Prontamente aceita a sugestão passamos um sábado inteiro tirando várias fotos para nossa reunião.
O grande dia chegou. Uma pequena delegação partiu para a reunião que foi um sucesso, pois conseguimos um espaço magnifico no segundo andar do histórico prédio da Praça da Estação.
E quase que de imediato iniciamos a construção de uma majestosa maquete que se tornou objeto de visitação pública.
A Associação cresceu com novos sócios que vieram para contribuir com seus talentos. Não posso deixar de registrar também que nesta época conheci o saudoso Marcelão, poliglota, grande de corpo e alma
Hoje, depois de passar por uma provação, comecei a construir uma grande maquete, agora em nossa casa.
Tudo começou com a minha esposa Luisa sugerindo meu retorno para este “hobby” visto que durante anos comprei trilhos, desvios, locomotivas e vagões e estava na hora de “arregaçar as mangas”.
Espaço eu tinha. Na época da construção da nossa casa reservei um cômodo abaixo da sala de visitas que na minha cabeça seria uma adega. Doce ilusão! Nunca consegui ter mais de 8 garrafas de vinho.
E neste espaço começamos a guardar coisas fora de uso. Rapidamente virou um deposito, cheio de inutilidades.
Quando minha filha Myriam ouviu a sugestão da Luisa tomou providências imediatas. Primeiro deu um “limpa” nas tralhas fora de uso doando e jogando no lixo o que não prestava. A gente acha que um dia vai precisar de certas coisas mas este dia nunca chega. Ou seja acumulamos para depois desfazermos. Ou não.
Depois do espaço liberado Myriam contratou um pedreiro para eliminar uma infiltração crônica e meu novo “local de trabalho” ficou maravilhoso. Um eletricista finalizou a instalação com uma nova iluminação e tomadas.
Estava nascendo a futura Rede Ferroviária Maia Nobre.
Agora, mãos a obra!
O primeiro passo foi comprar os compensados e mãos francesas para fazer a mesa. Com ajuda do Davinho, meu fiel escudeiro, a mesa da ferrovia tomou forma.
Com a colaboração dos meus antigos colegas da Cemig Carlos Gustavo Guimarães que cuida das linhas, desvios, acionamentos e “pepinos” que surgem frequentemente e o Marcos Abi Ackel que está projetando a automação que será inédita no Brasil, controlada por computador e celular.
Eu fico com as montanhas, túneis, pontes e cenários. Descobri um certo talento para moldagem em isopor e gesso além da pintura das paisagens.
Aguardo alguém para me ajudar na pintura das paredes com nuvens e rios que se estenderão até na linha do horizonte, onde a vista pode alcançar.
Se não aparecer ninguém para esta tarefa quem sabe eu mesmo cuido disto?
Vou passando os dias como sempre sonhei.
Viajo frequentemente com a esposa Luisa e dou apoio aos filhos e netos, quando necessário.
E, quanto mais maduro fico, mais me dedico a este lazer.
E a vida vai passando, passando...
* Eduardo Carvalhaes Nobre é engenheiro, jornalista e principalmente um fanático por ferromodelismo.











