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Armazenagem: um gargalo que ameaça o futuro do agro

Armazenagem: um gargalo que ameaça o futuro do agro

23/05/2025 Paulo Bertolini

O agronegócio brasileiro vem crescendo a cada safra, ampliando constantemente sua capacidade de produção.

Armazenagem: um gargalo que ameaça o futuro do agro

De acordo com as informações divulgadas pela Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), a safra de grãos 2024/2025 está estimada em 330,3 milhões de toneladas. Se confirmado, será o maior volume já registrado na série histórica da companhia. Isso representa um aumento de 32,6 milhões de toneladas na comparação com o ciclo 2023/2024.

No entanto, por trás desses expressivos números esconde-se um gargalo estrutural crônico e perigoso: a incapacidade do país de armazenar adequadamente o que é produzido. Com uma capacidade estática de armazenagem de só 210 milhões de toneladas, considerando toda a infraestrutura construída até hoje, o Brasil enfrenta um déficit alarmante de 120 milhões de toneladas.

Esse número não é só uma estatística, é um freio ao nosso potencial e um risco à segurança alimentar e econômica do Brasil.

A matemática é clara e preocupante. Para evitar que o déficit aumente, o Brasil precisaria investir cerca de R$ 15 bilhões por ano em novas estruturas de armazenagem. Contudo, estamos longe de alcançar essa meta.

A cada colheita recorde, o problema se agrava e ignorar essa necessidade compromete a rentabilidade do produtor e a estabilidade de preços para o consumidor. A capacidade de formar estoques reguladores é uma ferramenta vital para controlar a inflação de alimentos e garantir o abastecimento, especialmente em tempos de instabilidade climática e geopolítica.

O PCA (Programa de Construção e Ampliação de Armazéns) foi criado para mitigar esse problema, oferecendo linhas de crédito como o “PCA Grãos”, com juros de 7% ao ano e prazos estendidos para estruturas de até 6.000 toneladas. Na prática, porém, o acesso a esses recursos é um desafio, principalmente para os pequenos e médios produtores.

A falta de recursos suficientes alocados ao programa e a excessiva burocracia dificultam o acesso ao financiamento por quem mais precisa. O custo elevado da implantação, cerca de R$ 1.500 por tonelada de capacidade, considerando equipamentos, montagem, energia e obras civis, contribui para a perpetuação do déficit.

Outro agravante é a má distribuição geográfica das estruturas de armazenagem. Só 15% dos silos estão dentro das fazendas, onde seriam mais eficazes. Os 85% restantes concentram-se em áreas urbanas, complexos industriais e portos. Essa distância entre a colheita e o armazenamento causa perdas significativas de grãos, eleva substancialmente os custos logísticos com frete e cria um fluxo ineficiente em toda a cadeia produtiva.

O produtor, sem a possibilidade de estocar a safra na origem, fica pressionado a vender rapidamente durante o pico da colheita, muitas vezes a preços inferiores, sobrecarregando o sistema de transporte e perdendo poder de negociação.

O contraste com outros grandes produtores agrícolas, como os Estados Unidos, é enorme. Lá, a capacidade estática de armazenagem supera a produção de uma safra inteira, com mais da metade dos silos localizados dentro das propriedades rurais. Esse modelo confere maior eficiência e controle ao produtor, beneficiando o país como um todo.

É preciso encarar com seriedade o fato de que o deficit de armazenagem é um dos maiores entraves ao desenvolvimento sustentável do agronegócio brasileiro. Não basta produzir em volumes recordes se não formos capazes de administrar essa produção de forma eficiente, estratégica e inteligente.

A expansão da capacidade de armazenagem, especialmente nas propriedades rurais, deve ser tratada como uma prioridade nacional. Isso exige mais recursos para programas como o PCA, desburocratização do acesso ao crédito e novos modelos de incentivo e investimento público-privado.

Superar o gargalo dos silos é fundamental para destravar o pleno potencial do agro, garantir a segurança alimentar e fortalecer a economia brasileira. Manter o cenário atual é aceitar um futuro de ineficiência, perdas e vulnerabilidade.

* Paulo Antonio Pusch Bertolini, 57 anos, é médico veterinário com pós graduação em administração rural pela Ufla (Universidade Federal de Lavras) e presidente da Abramilho (Associação Brasileira dos Produtores de Milho e Sorgo)

Foto: Divulgação/Pixabay

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