Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Não, as praias não serão privatizadas – entenda a PEC 3/2022 e por que defendê-la

Não, as praias não serão privatizadas – entenda a PEC 3/2022 e por que defendê-la

10/06/2024 Lucas Sampaio

É necessário que o bem do Brasil esteja acima de qualquer preciosismo político.

Na última semana, as redes sociais foram inundadas com mais uma fake news, dessa vez referente à Proposta de Emenda Constitucional nº 3 de 2022, apresentada pelo deputado federal Arnaldo Jordy (Cidadania/PA) e aprovada na Câmara dos Deputados no dia 22 de fevereiro de 2022, com 389 votos favoráveis e apenas 91 contrários, que hoje encontra-se no Senado Federal, tendo como relator o senador Flávio Bolsonaro.

De acordo com a fake news plantada por portais de extrema-esquerda como Carta Capital e Rede Brasil Atual, a PEC trataria da privatização das praias e teria como objetivo impedir o acesso da população às praias, que passariam a serem de propriedade da iniciativa privada. A fake news rapidamente viralizou no Twitter e foi difundida até em alguns veículos da grande mídia, como é possível ver nesta matéria irresponsável do jornalista Guilherme Amado para o jornal Metrópoles. O ápice dessa polêmica resultou em uma discussão entre o jogador de futebol Neymar Jr e a atriz Luana Piovani, na qual a artista acusava Neymar de apoiar a privatização das praias.

Mas do que se trata exatamente a PEC? Ela permite a privatização das praias? Obviamente não.

A PEC nº 3/2022 revoga o inciso VII do art. 20 da Constituição Federal de 1988, que declara que os chamados “terrenos de marinha” são bens da União. Antes de mais nada, é preciso esclarecer o que é um “terreno de marinha”. Ao contrário do que muitos pensam, um terreno de marinha não é um terreno que pertence à Marinha Brasileira, mas sim um terreno cuja área encontra-se situada dentro de uma faixa de 33 metros nas praias e nas margens de rios e lagoas.

A intenção da proposta é repassar esses terrenos para os estados e municípios e abrir a possibilidade de que aqueles que abrigam moradores sejam comprados pelos detentores da posse. As áreas afetadas pelo serviço público federal continuariam pertencendo à União, enquanto as áreas afetadas pelo serviço público estadual e municipal seriam repassadas ao domínio dos estados e municípios. Já os particulares que ocupam o terreno poderão obter a propriedade mediante compra. Consequentemente, haveria também uma extinção do laudêmio.

Como podemos ver, não há em nenhum dos 5 artigos do projeto nenhuma menção a privatização de praias, tratando-se de um típico caso de disseminação de desinformação motivada por razões políticas. O objetivo principal do projeto é garantir o direito de propriedade dos moradores e pôr fim a um instituto que gera tanta insegurança jurídica como o “terreno de marinha”.

É necessário levar em consideração que atualmente é praticamente impossível regularizar um imóvel caso o mesmo esteja localizado em terreno de marinha. A Constituição Federal de 1988, por meio do seu artigo 183, §3º, é clara ao declarar que não é possível adquirir imóveis públicos por meio de usucapião. Então, por mais que um cidadão possua sua casa, arque com os seus impostos e more lá por muitos anos, ele jamais se tornará proprietário, sendo possível até mesmo a desocupação desses terrenos, fazendo com que pessoas necessitadas percam as suas casas. Caso a PEC 3/2022 seja aprovada, a situação muda de figura, permitindo que famílias humildes que ocupam residência em terreno de marinha possam finalmente se tornar proprietárias dos seus imóveis.

Segundo a Secretaria de Patrimônio da União (SPU), há hoje no Brasil cerca de 500 mil imóveis classificados como terrenos de marinha, o que torna ainda mais urgente a aprovação do projeto. Trata-se de uma emenda importante para garantir o direito à propriedade e à moradia, sendo uma medida efetiva para garantir que milhares de pessoas possam finalmente se tornar proprietárias das suas próprias casas.

Uma das críticas apresentadas é a de que a PEC, apesar de não privatizar as praias, permitiria que particulares pudessem fechar as áreas de acesso às praias, impedindo que a população carente as utilizasse. Essa é a alegação do ministro das Relações Institucionais Alexandre Padilha, que declarou: “O governo é contrário a esse programa de privatização das praias brasileiras que vai cercear o acesso da população brasileira às praias e criar verdadeiros espaços privados, fechados”.

Entretanto, essa alegação não poderia ser mais inverídica. A PEC não apenas não prevê qualquer possibilidade de fechamento de praias como tal atitude seria por si só ilegal, visto que violaria a Lei Federal nº 7.661 de 1988, que, em seu artigo 10, é clara ao declarar que: “As praias são bens públicos de uso comum do povo, sendo assegurado, sempre, livre e franco acesso a elas e ao mar, em qualquer direção e sentido, ressalvados os trechos considerados de interesse de segurança nacional ou incluídos em áreas protegidas por legislação específica.”

Sendo assim, além de a PEC não prever esta possibilidade, qualquer particular que tentasse limitar o acesso da população às praias estará incorrendo em ilegalidade, podendo ser denunciado e consequentemente condenado por tal ato, visto que praias são bens públicos de uso comum, sendo garantido o livre acesso a elas.

O que essa onda de fake news demonstra é que a real motivação por trás dessas críticas é meramente política. Quando o projeto foi aprovado na Câmara dos Deputados em 2022, não houve qualquer polêmica ou repercussão, tendo conquistado apoio até mesmo de partidos de esquerda como o PDT e o PCdoB, recebendo voto favorável até mesmo da deputada Jandira Feghalli (que hoje se declara contra a PEC) e de 2 deputados do PT. Entretanto, a partir do momento em que o senador Flávio Bolsonaro se tornou relator do projeto, a PEC começou a ser alvo de ataques e da onda de desinformações.

É necessário que o bem do Brasil esteja acima de qualquer preciosismo político. É um ato de extrema irresponsabilidade por parte de jornalistas, políticos e influenciadores motivarem uma onda de fake news contra um projeto de extrema importância na luta pelo acesso à moradia. É até curioso que movimentos que alegam defender a luta dos desabrigados como o Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST) se oponham a um projeto inédito e tão importante em prol do direito à moradia, ainda mais utilizando-se de fake news e demonstrando que nunca houve um interesse real na defesa dos menos favorecidos.

Para finalizar, deixo uma dica fundamental: nunca embase sua opinião naquilo que é proferido pelas turbas radicais da internet. Opte por ler aquilo que está sendo criticado antes de tirar qualquer conclusão. No mais, para todos aqueles que de fato se preocupam com a luta por uma moradia digna e para que indivíduos finalmente tenham o seu direito de propriedade reconhecido, a aprovação da PEC 3/2022 faz-se necessária.

* Lucas Sampaio, advogado e colunista do Instituto Liberal.

Para mais informações sobre privatização clique aqui...

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Entre para o nosso grupo de notícias no WhatsApp

Todos os nossos textos são publicados também no X

Quem somos

Fonte: Instituto Liberal



A geopolítica do clima e as consequências de ignorar

Nos últimos anos, estamos percebendo de forma bastante clara como as questões climáticas vêm influenciando o xadrez geopolítico global.

Autor: João Alfredo Lopes Nyegray

A geopolítica do clima e as consequências de ignorar

Cemig recicla quase 100% dos resíduos sólidos gerados pela companhia

Desde 2020, a empresa evitou o descarte de 200 mil toneladas de materiais no meio ambiente.

Autor: Divulgação

Cemig recicla quase 100% dos resíduos sólidos gerados pela companhia

Minas garante a preservação de espécies raras de fauna e flora

As unidades de conservação (UCs) em Minas Gerais, geridas pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), são verdadeiros oásis para a conservação da natureza.

Autor: Divulgação

Minas garante a preservação de espécies raras de fauna e flora

Traças de roupas e livros: curiosidades e prejuízos causados pelos insetos

Encontradas em lares, roupas e livros, as traças tem hábitos alimentares e de sobrevivência distintos, de acordo com Biólogo do CEUB.

Autor: Divulgação

Traças de roupas e livros: curiosidades e prejuízos causados pelos insetos

Rio Grande do Sul: a reconstrução passa pela recuperação da vegetação nativa

A nova realidade criada pela tragédia exige igualmente novas respostas da gestão pública, incluindo um olhar prioritário para a questão ambiental.

Autor: Divulgação

Rio Grande do Sul: a reconstrução passa pela recuperação da vegetação nativa

Investir em saneamento traz retorno para a saúde

A aprovação do Novo Marco Legal do Saneamento, em julho de 2020, trouxe novas e importantes perspectivas para o avanço da infraestrutura do setor.

Autor: Elzio Mistrelo

Investir em saneamento traz retorno para a saúde

Descoberta de Luzia, um dos esqueletos mais antigos das Américas, completa 50 anos

Arqueólogos encontraram os primeiros ossos em 1974, na área do Monumento Estadual Lapa Vermelha, em Pedro Leopoldo

Autor: Divulgação

Descoberta de Luzia, um dos esqueletos mais antigos das Américas, completa 50 anos

Governo de Minas e Ibama reabilitam onça parda atropelada e a devolvem à natureza

Animal havia sido atingido em rodovia, próximo a Campos Altos, e foi submetido a cirurgia; espécie é a segunda maior espécie de felino das Américas e está ameaçada de extinção.

Autor: Divulgação

Governo de Minas e Ibama reabilitam onça parda atropelada e a devolvem à natureza

Qual produto é mais recomendado para manutenção de fossa séptica?

A manutenção ideal de uma fossa séptica é crucial para manter um sistema de saneamento confiável e saudável.

Autor: Divulgação


A revolução das soluções baseadas na natureza

De acordo com um estudo liderado pela UFRJ, 48 mil pessoas morreram por ondas de calor entre 2000 e 2018 no Brasil.

Autor: Danilo Roberti Alves de Almeida

A revolução das soluções baseadas na natureza

Municípios têm oportunidades com o saneamento

O saneamento básico galgou um novo patamar no interesse de investidores e especialistas.

Autor: Maurício Vizeu de Castro

Municípios têm oportunidades com o saneamento

As bactérias do bem que salvam as águas

Pode soar surpreendente, mas são os microrganismos os agentes mais capacitados para tratar da água de forma natural.

Autor: Monique Zorzim

As bactérias do bem que salvam as águas