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Reflexo em vez de estratégia: o tarifaço e a travessia do Brasil pelo inferno geopolítico

Reflexo em vez de estratégia: o tarifaço e a travessia do Brasil pelo inferno geopolítico

02/08/2025 Wolney Arruda

A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos brasileiros não é apenas uma medida econômica.

Reflexo em vez de estratégia: o tarifaço e a travessia do Brasil pelo inferno geopolítico

Na última vez em que escrevi sobre o tarifaço de Trump, recorri ao universo das novelas mexicanas para ilustrar os enredos inesperados, os personagens voláteis e os desfechos incertos do comércio internacional. Hoje, infelizmente, não cabe mais a ironia. O que vivemos não é mais um drama de roteiro televisivo: é uma travessia dantesca. A política externa brasileira, diante do tarifaço que entra em vigor no próximo dia 6 de agosto, parece caminhar — sem Virgílio e sem mapa — pelos próprios círculos do inferno de Dante.

A tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre uma série de produtos brasileiros não é apenas uma medida econômica. É um sinal claro da perda de relevância do Brasil na arena internacional. E como na Divina Comédia, essa jornada começou em trevas — com uma punição inesperada, movida por interesses políticos internos dos EUA e reações pouco coordenadas por parte do Brasil

Algumas isenções foram negociadas ao longo da última semana. Sim, há setores do agro que conseguiram escapar da primeira leva de penalidades. Mas isso não muda a essência do problema: reagimos mais por reflexo do que por estratégia. Quando o governo norte-americano oficializou a medida por meio de decreto, o Brasil ainda buscava entender se o ataque era direcionado — ou apenas colateral.

A CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil) rapidamente apontou os riscos: cadeias como carne processada, café e etanol estão entre as mais prejudicadas, justamente por sua forte exposição ao mercado norte-americano. O prejuízo projetado já ultrapassa US$ 5,8 bilhões, com impacto direto na rentabilidade do setor exportador e nos pequenos e médios produtores que orbitam essas cadeias.

Já a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) fez o alerta institucional: é preciso agir com urgência, buscando articulação diplomática para mitigar os danos. Mas a janela política era curta — e, quando finalmente reagimos, o relógio já marcava o fim da trégua.

Enquanto isso, outras potências optaram pela estratégia. A Europa, com seu pragmatismo histórico, negociou uma alíquota inferior, entre 15% e 20%. A China, com seu peso geopolítico, ganhou mais 90 dias para tentar reverter ou reacomodar a medida. E o Brasil? Pagará 50% de tarifa a partir da próxima semana.

Essa é apenas a primeira camada do inferno tarifário. A segunda — e mais insidiosa — é aquela que ameaça com sanções secundárias. Em recente viagem a Washington, uma comitiva de senadores brasileiros foi alertada: manter laços comerciais estreitos com a Rússia, especialmente no fornecimento de fertilizantes, pode tornar o Brasil alvo de novas penalidades automáticas. Ou seja, o simples fato de comprarmos da Rússia insumos vitais para o agro brasileiro pode nos empurrar para o purgatório das sanções — sem julgamento e sem defesa.

No meio dessa travessia, resta-nos o purgatório da diplomacia tardia: tentativas de negociação, esforço técnico de última hora e promessas de compensação. Mas o fato é que, no mundo real, o paraíso — aquele onde o Brasil é respeitado como ator estratégico e com voz ativa nas decisões globais — continua distante.

Esta crise, porém, não é um castigo inevitável. Ela pode — e deve — ser compreendida como um alerta. Um ponto de inflexão. O Brasil precisa urgentemente deixar de ser apenas um fornecedor reativo de commodities. Precisa construir presença institucional, fortalecer sua política externa comercial, diversificar mercados e proteger suas cadeias estratégicas com inteligência geopolítica. Precisa, acima de tudo, se fazer relevante antes de ser atacado.

Como produtor rural e presidente de um banco voltado ao financiamento do agro, vejo os impactos práticos dessa conjuntura: contratos sendo revistos, margens apertadas, riscos cambiais acentuados e insegurança sobre o destino de parte da produção. Mas vejo também uma oportunidade: a de amadurecermos como país exportador, não apenas em volume, mas em postura. O desconforto precisa gerar mudança.

Dante, ao sair do Inferno, enxergou o céu estrelado. Para o Brasil, a saída desse ciclo tarifário não virá por milagre ou poesia. Virá pela capacidade de negociar com firmeza, planejar com antecedência e ocupar com estratégia o espaço que o agro brasileiro já conquistou no mundo. Mas sem política externa séria, seguiremos apenas vagando entre círculos — e pagando caro por isso.

* Wolney Arruda é administrador de empresas e Presidente do Plantae Agrocrédito, que está no mercado há mais de 20 anos com atuação financeira. Com sede em Presidente Prudente/SP, a empresa está presente em vários segmentos do agro e tem parcerias com grandes companhias do ramo de pecuária, como MFG, Marfrig e Minerva, setor sucroenergético, com Tereos, Cofco, Adecoagro, Cocal, Grupo CMAA, CMNP, Usina Jacarezinho, Energética Santa Helena, Viterra Bioenergia, ATVOS, setor de citrus, com a Citrosuco, além do segmento de grãos com COFCO, ADM, Cargill, entre outras.

Foto: Divulgação gerada com I.A

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Fonte: Comunicativas Agro



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