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Tela ou tédio: o desafio de criar crianças que sabem esperar

Tela ou tédio: o desafio de criar crianças que sabem esperar

24/01/2025 Anna Paula Romanoski Arruda

O excesso de tempo dedicado aos eletrônicos é uma questão preocupante.

Tela ou tédio: o desafio de criar crianças que sabem esperar

Enquanto aguardava na recepção de um consultório médico, observei, ao meu lado, uma criança de aproximadamente oito anos, acompanhada da mãe. Impaciente, o menino repetia: “Não tem nada pra fazer”. 

A cena cotidiana reflete o mundo atual, que parece ter abolido a paciência e a espera como processos naturais. Isso tem gerado uma infância ansiosa, impaciente e, em muitos casos, fragilizada em aspectos cognitivos, emocionais e físicos.

A cultura do imediatismo leva à busca por resultados rápidos e à intolerância à frustração, comprometendo o desenvolvimento pleno de crianças e jovens. Por isso, é comum encontrarmos crianças que não sabem esperar. Muitas vezes, elas são colocadas no papel de "príncipes" e "princesas" da família, enquanto os pais se tornam servos das suas vontades. Essa dinâmica transforma os pequenos em seres ansiosos, com dificuldade de lidar com o “NÃO” e com baixa tolerância às frustrações. Ao ceder excessivamente às demandas dos filhos, a família cria um ciclo prejudicial, no qual a paciência, a resiliência e a habilidade de construir objetivos a longo prazo são deixadas de lado.

O excesso de tempo dedicado aos eletrônicos é uma questão preocupante. As crianças de hoje dominam dispositivos tecnológicos desde muito cedo, mas apresentam déficits em habilidades básicas, como amarrar os sapatos ou se organizar autonomamente. Isso revela um desequilíbrio no aprendizado: muita informação e pouca sabedoria. Embora  consumam conteúdo em abundância, têm dificuldade em processar e aplicar o conhecimento de forma crítica.

Outro impacto significativo do uso dos eletrônicos, grandes vilões da cultura do imediatismo, é a perda do processo visual conhecido como "figura-fundo". Isso significa que as crianças têm dificuldade em focar em detalhes essenciais, como olhar nos olhos das pessoas ou se concentrar em uma tarefa específica. A atenção está dispersa, e a memória é afetada negativamente, resultando em baixo rendimento escolar. A facilidade de acesso às respostas imediatas, proporcionada pelos eletrônicos, tem tornado as crianças menos críticas, mais dependentes e menos aptas a resolver problemas complexos.

No livro Mindset, a psicóloga Carol Dweck destaca a importância de desenvolver um pensamento de crescimento e de estabelecer objetivos como caminho para o sucesso. Segundo ela, as habilidades são aprendidas, e o processo de conquista exige tempo, esforço e paciência. Infelizmente, estamos criando uma geração com dificuldades em lidar com desafios e apresenta um QI inferior ao das gerações anteriores, conforme  apontam alguns estudos. A rigidez nos pensamentos e a dificuldade de trabalhar em equipe são características marcantes dessa nova infância imediatista.

Os pais, como facilitadores do desenvolvimento, frequentemente confundem felicidade com satisfação imediata. Fazer um filho feliz não significa colocar o mundo à sua disposição, mas ensiná-lo que existem processos e que, muitas vezes, eles são demorados. As crianças precisam aprender que a espera faz parte da vida e que o sucesso depende de persistência e dedicação.

Vale destacar que a cultura do imediatismo não afeta apenas os pequenos, mas também os adultos, que servem de modelo para as crianças. A compulsão por dispositivos eletrônicos é um exemplo claro: estamos presentes fisicamente, mas ausentes emocionalmente. Ao usarmos celulares durante as refeições ou ignoramos os filhos enquanto mexemos em equipamentos eletrônicos, ensinamos que a interação virtual é mais importante que o contato real. Como resultado, as crianças internalizam esse comportamento, adotando-o como padrão.

Portanto, é necessário repensar nossas práticas como sociedade. As crianças devem ser preparadas para enfrentar o mundo real, com suas dificuldades e processos naturais. Os pais precisam resgatar seu papel de educadores e guias, ensinando limites, paciência e resiliência. O imediatismo não deve ser a regra; é preciso valorizar o tempo, o processo e as conquistas que surgem com o esforço e a espera. Somente assim formaremos uma geração capaz de pensar criticamente, lidar com desafios e construir um futuro mais equilibrado e consciente. 

À mãe que encontrei — e que, certamente representa milhares de outras, que resistem diariamente aos desejos momentâneos dos filhos —, parabéns! Optar por não entregar uma tela exige um esforço imenso, mas a recompensa é duradoura. É a oportunidade de ensinar paciência e de permitir que o tédio se transforme em uma descoberta.

* Anna Paula Romanoski Arruda, pedagoga e psicopedagoga, é coordenadora Ensino Bilíngue do Colégio Positivo - Júnior.

Foto: Divulgação/Freepik

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Fonte: Central Press



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