A chegada dos gatos
A chegada dos gatos
Manga é uma pequena cidade às margens do Velho Chico, quase na divisa com a Bahia.
Embora o asfalto ainda esteja longe, ela já goza de alguns confortos, como a luz elétrica, telefone, água encanada, televisão e outras coisas, comuns a qualquer lugar que se diz civilizado.
Mas não era assim nos idos de 1953. Naquele tempo a cidade era apenas uma meia dúzia de ruas descalças, ligada ao resto do Estado por estradas esburacadas na seca e lamacentas no tempo das chuvas, deixando seus moradores ilhados, não fossem os vapores e as barcas do São Francisco.
A comunicação era feita apenas por carta ou telegrama, considerado mágico, porque transformava aquele toc-toc do telegrafista em mensagens do outro lado da linha.
Foi naquele mês de dezembro que os parentes da minha avó, que viviam em São Paulo, receberam o seguinte telegrama, vindo de Manga:
"Chegaram dois gatos. Mãe passa bem."
Os parentes ficaram sem entender. Nunca haviam enviados gatos para qualquer lugar, nem tampouco sabiam que a gata estava doente. Procuraram os Correios para decifrar aquele enigma.
O telegrafista, um velho quase aposentado, parece que andava meio cansado e já não tinha mais paciência de ficar traduzindo toc-toc de todos os lugares e nem de mandar toc-toc para outros tantos.
Pela insistência dos parentes de minha avó, resolveu solicitar que o seu colega de Manga repetisse a mensagem do dia anterior. Depois do novo toc-toc, o velho disse, sorrindo:
- É, acho que preciso me aposentar. Desculpem o meu pequeno erro. Eis aqui a sua mensagem.
Lida novamente, desfêz-se o mistério e foi uma alegria geral. O telegrafista engolira uma sílaba muito importante pois a mensagem dizia:
"Chegaram dois garotos. Mãe passa bem."
Foi dessa forma que os parentes, em São Paulo, ficaram sabendo do meu nascimento e do meu irmão gêmeo, numa cidadezinha de Minas Gerais, quase na esquina da Bahia.
* Antônio Marcos Ferreira
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