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As “Lularias” de nosso tempo

As “Lularias” de nosso tempo

03/11/2025 Bady Curi Neto

Marco Túlio Cícero (106 a.C. – 43 a.C.), senador romano, foi um dos maiores oradores de todos os tempos, autor de diversos discursos — entre eles As Catilinárias — e de frases que ecoam até hoje entre os atuais oradores, como o célebre “Ó tempos, ó costumes!”.

O famoso filósofo, jurista e senador romano, se vivo fosse, diante das incoerências e dos discursos falaciosos do atual presidente, certamente iniciaria seu pronunciamento, desta feita, denominando-o “As Lularias”, dizendo:

“Até quando, ó Lula, abusarás de nossa paciência?
Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa loucura?
A que extremos se há de precipitar tua audácia sem freio?
Ó deuses imortais! Em que país do mundo estamos nós, afinal?
Que governo é o nosso? Em que cidade vivemos nós?”

Digo isto em razão das incoerências entre as promessas de campanha e as ações de governo — várias não cumpridas e outras, simplesmente, contrárias ao que o próprio candidato afirmara.

Apenas para citar alguns exemplos:

1. Transparência pública - Lula prometeu acabar com o sigilo de documentos públicos. Ao contrário, negou 1.339 pedidos de informação apenas no ano de 2023, sob a justificativa de conterem dados pessoais, segundo reportagem do jornal Estadão (21/03/2024, por Tárcio Lorran).

Há diversos temas sob sigilo, desde as agendas da primeira-dama, a lista dos militares do Batalhão de Guarda Presidencial que estavam de plantão durante o ataque à Praça dos Três Poderes, os gastos com o cartão corporativo, e, pasmem, até dois telegramas diplomáticos que tratam dos irmãos Joesley e Wesley Batista e dos negócios da JBS nos Estados Unidos, em meio às negociações do Brasil para tentar reverter o tarifaço de 50% imposto pelo então presidente norte-americano Donald Trump à carne brasileira e outros produtos.

2. Meio ambiente - Lula prometeu acabar com o desmatamento da Amazônia até 2030.

Ao contrário, o desmatamento bateu recordes. Segundo dados do Instituto Imazon, a degradação atingiu uma média equivalente a 10 mil campos de futebol por dia, entre janeiro e outubro de 2024 — o pior índice dos últimos 15 anos.

3. Corrupção - Lula afirmou em campanha (UOL, 25/08/2022) que, se eleito, acabaria com a corrupção: “Qualquer hipótese de alguém cometer qualquer crime, por menor ou maior que seja, essa pessoa será investigada, será julgada e punida ou absolvida. Assim você combate a corrupção no país. Corrupção só aparece quando você permite que ela seja investigada.”

Ao contrário, o que se vê — conforme noticiado pela imprensa e pela CPI do INSS — é que o sindicato do qual o irmão de Lula é vice-presidente foi apontado como um dos possíveis envolvidos em fraudes contra o instituto.

4. Indicações ao STF - Lula prometeu que não indicaria amigos pessoais ao Supremo Tribunal Federal, afirmando textualmente: “Mexer na Suprema Corte para colocar amigo é um retrocesso.”

Ao contrário, indicou e nomeou seu advogado pessoal, o atual ministro Cristiano Zanin — sem aqui se adentrar no mérito de suas competências jurídicas.

5. Saúde pública - Lula prometeu “zerar as filas” do Sistema Único de Saúde (SUS).

Ao contrário, apesar de alguns programas implementados, segundo reportagem da BBC News Brasil (15/10/2025), estatísticas oficiais e estudos independentes demonstram que o tempo de espera para consultas e procedimentos especializados atingiu recorde em 2024.

Apenas por esses exemplos já se pode parafrasear a célebre frase de Cícero: “Até quando, ó Lula, abusarás de nossa paciência?”

Em relação ao enfrentamento aos narcotraficantes, durante coletiva de imprensa em Jacarta, capital da Indonésia, ao ser questionado sobre a ação dos Estados Unidos que destruiu embarcações próximas à Venezuela transportando drogas e traficantes, Lula afirmou que os traficantes são “vítimas dos usuários”.

O presidente, em sua conhecida “incontinência verborrágica”, declarou: “Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também. Você tem uma troca: gente que vende porque tem gente que compra [...]. Então é preciso que a gente tenha mais cuidado no combate à droga.”

Ora, dizer que é preciso “ter cuidado” no combate às drogas é, por vias oblíquas, um permissivo ao tráfico de entorpecentes. O enfrentamento ao tráfico, seja nacional ou internacional, deve ser feito com o máximo rigor e firmeza.

Talvez seja por discursos e políticas “cuidadosas” como essa, permitem que 20% dos brasileiros convivam em territórios dominados por facções criminosas, como o PCC (Primeiro Comando da Capital), o Comando Vermelho e as milícias, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, publicada em 16/10/2025.

Termino o artigo, novamente plagiando Cícero:

“Em que país do mundo estamos nós, afinal? Que governo é o nosso? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós essa loucura?”

Tenho dito!

* Bady Curi Neto é advogado fundador do Escritório Bady Curi Advocacia Empresarial, ex-juiz do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) e professor universitário.

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