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Encontros inesquecíveis

Encontros inesquecíveis

29/08/2022 Antônio Marcos Ferreira

Vinícius de Morais, numa das suas inesquecíveis canções, disse que "a vida é a arte do encontro, embora haja tantos desencontros pela vida".

Grande verdade! Tenho, nas minhas relações de amizade, um grande valor pelo qual norteio minha conduta e busco aperfeiçoar sempre os relacionamentos como parte muito importante na minha vida.

De vez em quando alguns encontros se tornam muito especiais, em função dos personagens. Um destes encontros, que me deixou lembranças muito agradáveis foi com o violeiro Renato Andrade, ícone da viola caipira e referência para grande parte dos violeiros no Brasil.

O encontro se deu em Montes Claros, onde eu morava na época. Trabalhava na Cemig, que patrocinou uma tournée de vários artistas pelas suas sedes regionais no interior do estado.

Em Montes Claros fui designado para acompanhar o Renato Andrade desde a sua chegada até o momento do show.

Mineiro de Abaeté, tinha um jeito muito peculiar, um mineiro bem típico com ótimas tiradas sobre cada assunto. Terminava um caso, colocava a mão no queixo, olhava pra cima e dizia:

- Esse trem é esquisito demais!!!

Há um famoso caso folclórico sobre ele, que foi contado também pelo violeiro Miltinho Edilberto no programa do Rolando Boldrin.

Trata-se de um duelo de viola que ele fez com o capeta, com quem se encontrara numa encruzilhada, ao voltar de uma festa onde havia tocado. Nunca mais o vi. 

Outro encontro que marcou bastante foi com o músico e compositor Godofredo Guedes, também morador de Montes Claros.

Sou amigo da sua neta, Telma Guedes, e em 1985 eu tinha um violão que estava com problema no braço e precisava de um conserto.

O Godofredo Guedes, além de ótimo músico, compositor e artista plástico, fazia trabalhos como lutier. Conversando com a Telma, ela agendou um encontro com ele, que morava a um quarteirão da sede da Cemig em Montes Claros.

Eu trabalhava em Pirapora e numa ida para uma reunião, fui até sua casa, conversamos bastante, ouvi muitas histórias interessantes. Falei com ele sobre o problema do meu violão, e ele disse logo:

- Pois pode trazer seu violão que vou dar um jeito nele.

Fiquei muito feliz com a ideia de ter um violão consertado pelo grande Godofredo Guedes. Voltei para Pirapora no dia seguinte. Ao ligar a tv para ver o jornal das sete, que cobria a região norte, escutei, sem acreditar, a manchete:

"O músico e compositor Godofredo Guedes teve traumatismo craniano ao ser atropelado por uma moto." Ele tinha ido ao Hospital São Lucas para tratar uma herpes no lábio.

Foi a uma madeireira próxima, onde compraria madeira para fazer molduras para suas obras. Caminhava alegre, olhando o céu e assobiando, talvez uma nova melodia para nos encantar. Mas aquela moto o tirou de nós. 

Fiquei muito triste. Além da morte de um grande artista, senti a perda de um futuro amigo. Fiquei sabendo, na época, que um outro violeiro da região, Zé Côco do Riachão, também consertava violão e viola.

Não tive dúvidas: levei o violão e ele o consertou, mas antes também tivemos uma ótima conversa. Em 1988 eu gerenciava o Distrito de Pirapora, a quem era subordinado o subdistrito de Três Marias.

Lá, além do Elias, chefe do Subdistrito, trabalhava o Marcone, sobrinho do vaqueiro Manuel Nardi, que inspirou ao Guimarães Rosa o personagem Manuelzão, da obra Manuelzão e Miguilim. 

Quando soube da possibilidade de conhecer o Manuelzão, também não tive dúvidas e marcamos um almoço numa próxima reunião em Três Marias.

Trabalharíamos o dia todo naquela cidade e o sobrinho do Manuelzão o levou para um almoço conosco. Meio dia e lá estávamos nós e para variar, muito ansioso para conhecer aquele personagem citado pelo grande Guimarães Rosa, de quem já tinha lido vários livros.

Era um senhor de mais de oitenta anos, alegre, conversa fácil e agradável. Chegamos, sentamos e logo ele pediu duas pingas!

Aí começou o meu embaraço: estava em almoço em serviço, pago pela empresa, com dois colegas de trabalho. Como eu iria tomar pinga?

Se fosse após o serviço, não teria dúvida. Brindaria com ele e tomaria aquela pinga com prazer, talvez até repetisse. 
Mas segurei a barra.  Quando viu a minha demora, ele me olhou e disse:

- Já vi que você não é de nada mesmo! Me dá sua pinga aí. 

E virou num gole só aquela que deveria ser um brinde inesquecível para mim. Mas a responsabilidade profissional prevaleceu e tomei um suco, que, embora adoçado, foi amargo de tomar. 

Contou-nos muitas histórias das suas andanças com Guimarães Rosa.  Logo após tiramos uma foto que guardo comigo até hoje. 

Junto com ela, a alegria de ter conhecido, mesmo que por pouco tempo uma figura icônica, mas muito simples. Como foram Zé Côco, Renato Andrade e Godofredo Guedes. Encontros inesquecíveis!

* Antônio Marcos Ferreira

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