Meu pai e a bicicleta do “véi Olegário”
Meu pai e a bicicleta do “véi Olegário”
Lá nos idos de 1970, morávamos em BH, mas passávamos as férias escolares invariavelmente em Manga, onde meu pai tinha fazenda.
Viemos para estudar, os sete filhos e minha mãe, enquanto meu pai se dividia entre a capital e a fazenda, separadas por 720km de uma estrada cujo maior trecho (550km) era de terra, o que tornava a viagem muito cansativa.
Mas como tudo na vida, a gente se acostuma, e foi isso que aconteceu com o meu pai, que transformou esta viagem numa rotina bimestral durante muitos anos.
Em Manga, nas idas para a fazenda Japorema, distante 11km da cidade, era comum meu pai cruzar com um senhor, conhecido como "véi Olegário", que pedalava uma bicicleta muito velha numa estrada de chão, tornando essa atividade muito árdua, mas ele também se acostumara a esse sacrifício diário.
Vendo por muito tempo esta situação, um dia meu pai resolveu presentear o "véi Olegário" com uma bicicleta novinha, brilhando, freio manual e outras coisas com as quais ele nunca ousara sonhar.
Nas próximas idas para a fazenda, por várias vezes meu pai cruzou com ele na estrada e ele sorria levantando o braço, mostrando como estava contente.
Certa vez, ao avistá-lo às 7 e meia da manhã, meu pai, com o carro cheio de garotos, fez sinal para que ele parasse também.
- Bom dia, Seu Olegário! - Bom dia, Seu Hélio. - E aí, tá gostando da bicicleta nova? Ela tá andando bem? - Vixe, Seu Hélio, tá que é uma beleza. Corre demais. Até na subida tô precisando frear! Meu pai sorriu.
Naquela hora verificou que aquele tinha sido muito mais que um presente, muito mais que uma bicicleta. Era um sonho.
Daquele dia em diante, sempre que falávamos de alguma coisa que era rápida, ou de alguém que corria muito, a gente logo dizia: - Tá correndo mais do que a bicicleta do "véi Olegário".
* Antônio Marcos Ferreira é engenheiro eletricista, aposentado da Cemig e vice-presidente da Fundação Sara.
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