Grupo WhatsApp

Roer Unhas

Roer Unhas

14/10/2009 Luciano Pires

Desde que nasci tenho o hábito de roer unhas. Não sei exatamente quando isso começou, mas a vida toda foi aquela coisa incômoda: nos momentos de tensão levar uma das mãos à boca e roer.

Que coisa desagradável... Fico incomodado quando vejo outras pessoas fazendo o mesmo. Passa uma sensação de insegurança. Sem contar os perigos nestes tempos de gripes A, B, C e Z... O hábito de roer as unhas chama-se onicofagia crônica e muita gente tem o problema. Os Freudianos dizem que tem a ver com a tal "fixação oral", mas tive medo de me aprofundar no assunto. Durante anos minha mãe tentou resolver o problema usando as técnicas da sabedoria popular: passando pimenta ou algum produto de gosto amargo em minhas unhas. Colocando um band-aid. E dando uns tapas cada vez que eu levava as mãos à boca. Mas nada funcionou. Naquela época não havia a cultura dos antidepressivos e as terapias de hoje. Conforme cresci, vi que o hábito permanecia. Pensei em substituí-lo por outro hábito, fumar, por exemplo. Mas jamais entendi a lógica de engolir fumaça.

Depois imaginei que se tentasse coibir o roer das unhas era capaz de desenvolver algum tique nervoso muito pior. E fui levando. A coisa pegou mesmo quando me transferi para São Paulo, capital, aos 19 anos. Meu grupo de amigos adorava tocar em festas e eu entrei no esquema com meu violão sofrível. O som era uma porcaria, pois eu não tinha unhas. Era abafado. E dolorido. Só podia usar cordas de nylon. Depois me tornei executivo de multinacional, sempre escondendo as mãos. Não fica bem um executivo que precisa demonstrar segurança, viver com o dedo na boca, não é? Mas a coisa era mais forte que eu. Vergonha, vergonha, vergonha.... Pois bem. No início de 2009, aos 52 anos de idade aconteceu uma coisa deliciosa. Decidi experimentar algo que sempre me atraiu: tocar viola caipira. A viola caipira, ou viola de arame, tem o formato de um violão, mas é mais "feminina" e produz um som  incomparável. É praticamente impossível tocar viola caipira sem unhas, pois são dez cordas de aço. E doídas! Mesmo assim, fui em frente.

Comprei uma linda viola e me matriculei numa escola. Na primeira aula foi aquele melê: o professor arrasando e eu ali com aqueles dedões sem unha. Broxante mesmo. Violas caipiras têm alguma coisa mágica, não sei se é a cinturinha fina, a sonoridade, a musicalidade ou o jeito de tocar, mas elas têm alguma coisa que "pega" a gente. É diferente do violão, não sei explicar...Tocar moda de viola dá um prazer que nunca tive com o violão ou a guitarra. Comprei livros sobre violas e violeiros e mergulhei em minhas raízes caipiras. Tocar viola é mudar o jeito de viver. Cada vez mais fascinado comecei a passar longos períodos com ela, sem tocar uma música em particular, apenas ponteando. É mágico. Na viola caipira basta tocar nas cordas, que sai música. Uma paixão. E aos poucos aconteceu: a viola me motivou a parar de roer unhas. Pela primeira vez na vida tenho unhas!!! E o som da viola está ficando cada dia mais irresistível. Que coisa, não? Um instrumento musical teve a força de mudar um hábito de meio século. Meu prozac é uma viola caipira.

*Luciano Pires é jornalista, escritor, conferencista e cartunista. Faça parte do Movimento pela Despocotização do Brasil.



Para onde caminha a humanidade?

O pragmatismo está ampliando a confrontação econômica. Novas formas de produzir e comercializar vão surgindo com mais rigidez e agilidade.

Autor: Benedicto Ismael Camargo Dutra


Reforma Tributária: mudança histórica ou novo capítulo do caos fiscal

A Reforma Tributária entra na fase prática em 2026 com a criação do IBS e da CBS, que passam a incidir com alíquotas reduzidas.

Autor: Eduardo Berbigier


Austeridade fiscal, caminho obrigatório para ordem e progresso

Quando se aproximam as eleições, o brasileiro se pergunta se é possível ter um país melhor em condições de vida para todos os cidadãos. É o que se deseja.

Autor: Samuel Hanan


Impeachment não é monopólio

A decisão de Gilmar Mendes e o estrangulamento institucional.

Autor: Marcelo Aith


Nova lei da prisão preventiva: entre a eficiência processual e a garantia individual

A sanção da Lei 15.272, em 26 de novembro de 2025, representa um marco na evolução do processo penal brasileiro e inaugura uma fase de pragmatismo legislativo na gestão da segregação cautelar.

Autor: Eduardo Maurício


COP 30… Enquanto isso, nas ruas do mundo…

Enquanto chefes de Estado, autoridades, cientistas, organismos multilaterais e ambientalistas globais reuniam-se em Belém do Pará na COP 30, discutindo metas e compromissos climáticos, uma atividade árdua, silenciosa e invisível para muitos seguia seu curso nas ruas, becos e avenidas do Brasil e do mundo.

Autor: Paula Vasone


Reforma administrativa e os impactos na vida do servidor público

A Proposta de Emenda à Constituição da reforma administrativa, elaborada por um grupo de trabalho da Câmara dos Deputados (PEC 38/25) além de ampla, é bastante complexa.

Autor: Daniella Salomão


A língua não pode ser barreira de comunicação entre o Estado e os cidadãos

Rui Barbosa era conhecido pelo uso erudito da língua culta, no falar e no escrever (certamente, um dos maiores conhecedores da língua portuguesa no Brasil).

Autor: Leonardo Campos de Melo


Você tem um Chip?

Durante muito tempo frequentei o PIC da Pampulha, clube muito bom e onde tinha uma ótima turma de colegas, jogadores de tênis, normalmente praticado aos sábados e domingos, mas também em dois dias da semana.

Autor: Antônio Marcos Ferreira


Dia da Advocacia Criminal: defesa, coragem e ética

Dia 2 de dezembro é celebrado o Dia da Advocacia Criminal, uma data emblemática que, graças à união e à força da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim), integra o calendário oficial das unidades federativas do país.

Autor: Sheyner Yàsbeck Asfóra


STF não tem interesse – nem legitimidade – em descriminalizar aborto

A temática relativa ao aborto e as possibilidades de ampliação do lapso temporal para a aplicação da exclusão de ilicitude da prática efervesceram o cenário político brasileiro no último mês.

Autor: Lia Noleto de Queiroz


O imposto do crime: reflexões liberais sobre a tributação paralela nas favelas brasileiras

Em muitas comunidades brasileiras, especialmente nas grandes cidades, traficantes e milicianos impõem o que chamam de “impostos” – cobranças sobre comerciantes, moradores e até serviços públicos, como transporte alternativo e distribuição de gás.

Autor: Isaías Fonseca