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Só Aécio poderia enterrar 1964

Só Aécio poderia enterrar 1964

06/02/2010 Fábio P. Doyle

O debate sobre o movimento que derrubou João Goulart e implantou o ciclo de governos militares já está chegando aos 50 anos. E quente, como se viu agora no caso do Programa Nacional dos Direitos Humanos. Quando colocaremos no arquivo da história aqueles episódios?

O BRASIL permanece na área ainda nebulosa dos anos 64. O caso do decreto que se destinava a definir aspectos controversos dos chamados direitos humanos é um exemplo. As duas correntes ideológicas que se enfrentaram nos anos dos governos militares continuaram a se enfrentar na análise dos artigos e dos propósitos do texto aprovado pelo presidente Lula da Silva, embora ele diga que "assinou sem ler". O objetivo do Programa Nacional de Direitos Humanos seria revogar na prática a Lei de Anistia, instituindo o revanchismo, com a punição apenas de um dos lados do confronto, ou seja, o dos militares, dizem estes. Seria apenas dar transparência à memória histórica daquele período, diziam os defensores do decreto.

A FALTA de entendimento entre uns e outros, embora a interferência apaziguadora dos que buscaram correções semânticas que dessem aparência mais amena ao decreto, não foi superada. Tudo indica, pela reação com que foi recebido, que o tal Programa permanecerá apenas no papel, dormindo o sono dos arquivos oficiais.

AS próximas eleições, já bem próximas, aliás, indicam que a troca da guarda governamental não mudará muita coisa, no caso em exame. O fim do período militar, com a chamada redemocratização do país, nos legou um presidente civil, que não assumiu por razões que todos conhecem e lamentam, e outro, seu vice, que governou tentando apaziguar e harmonizar os contrários, os que apoiaram e participaram dos governos chamados de ditatoriais, e os que contra eles se rebelaram, inclusive promovendo guerrilhas e confrontos armados nos araguaias da vida. Depois deles, nominando, Tancredo e Sarney, salvo um tropeço colorido, que poderia ter apaziguado o ambiente se não tivesse sido deposto (até hoje se discute o motivo real da deposição), o grupo chamado, nem sempre corretamente, de esquerda, assumiu de vez. Alguns mais liberais, como Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, outros, como o atual, formado pelo PT e companhia, em torno de um presidente que raramente se posiciona com nitidez, mais radicais, em alguns episódios, até em excesso.

ITAMAR Franco e Fernando Henrique Cardoso, sempre demonstraram simpatia pelos teóricos do socialismo não-comunista. Mas fazem parte dos que nunca aceitaram o regime que dominou o país depois de 64. Um regime, seja dito, que buscou manter preceitos democráticos, entre os quais o da alternância do poder. Um presidente militar era substituído, ao fim de quatro anos, por outro presidente militar, escolhido na caserna. Até que os dois últimos generais, Ernesto Geisel e João Batista Figueiredo, decidiram implantar a abertura democrática, quando foi eleito o civil que não pode ser empossado.

LULA da Silva, o último do pós-64, foi eleito com o apoio dos radicais da esquerda. Mas somente conseguiu eleger-se quando compôs sua chapa com um democrata convicto, um empresário, logo capitalista, aberto a todas as tendências, um mineiro da maior categoria, o sr. José Alencar Gomes da Silva. Sem ele dando respaldo ao seu programa e à sua campanha, Lula não teria conquistado o eleitorado mineiro, e logicamente, teria sido derrotado pela terceira vez.

A SUCESSÃO de Lula evidencia que o grupo contrário a 64 continuará dando as cartas. Aliás, espera-se pela última vez, pois novas gerações devem assumir dentro de quatro, ou quem sabe, oito anos.

SÃO dois os principais candidatos. José Serra, do PSDB, foi presidente da UNE, União Nacional dos Estudantes, quando a entidade, que combatia o regime militar, era independente, (o que não acontece hoje, pois foi cooptada pelo governo), Serra é um político de idéias socialistas, mas sem radicalismo. Dilma Roussef, do PT, tem um passado de guerrilheira, de combatente, alguns até vão mais adiante no rumo do terrorismo. E não abdicou de suas convicções. Daí, o tema 64, com um ou com outro, permanecerá em foco.

HAVERIA uma chance de 64 enterrar de vez um passado que já beira os 50 anos, mandando para os compêndios de história os conflitos, as divergências, as justificativas e as contraditas. Se o candidato, pela sua própria idade, não tivesse registrado em seu currículo qualquer envolvimento com os fatos mencionados. Quase que chegamos nele. Seu nome salta da página: Aécio Neves Cunha. É jovem nasceu nos anos sessenta, logo, não participou dos episódios que antecederam e sucederam a 1964. É evidente que sob a influência de seu avô, Tancredo Neves, se idade tivesse, estaria nas barricadas da esquerda chamada democrática. Mas é só.

OS movimentos do xadrez político afastaram-no da disputa presidencial, que seria o seu caminho natural, depois de governar Minas com tanto sucesso. De tudo isso, conclui-se: ganhando Serra, ou ganhando Dilma, o debate ideológico terá continuidade. Com Serra, de forma menos passional, pois este é o seu perfil de homem público. No caso de vitória de Dilma, de forma mais profunda. Muitos acreditam que com ela o Brasil se aproximaria do sistema político vigente em Cuba. Pode ser. E se for, os que não aceitam aquele tipo de ditadura vão brigar. E seja o que Deus quiser. Amém.

* Fábio P. Doyle é jornalista e membro da Academia Mineira de Letras



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