Portal O Debate
Grupo WhatsApp

Anvisa e a queda de braço com e-commerces de farmácias de manipulação

Anvisa e a queda de braço com e-commerces de farmácias de manipulação

17/01/2024 Claudia de Lucca Mano

No início do segundo semestre de 2023, inúmeras farmácias de manipulação receberam, através de e-mail, intimação supostamente vinda da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para retirada de páginas de oferta de produtos manipulados de seus websites.

As empresas suspeitaram de fraude eletrônica, visto que a própria Anvisa noticiou, em 2021, que não realizava interações por e-mail.

De fato, a Agência mantém um sistema para comunicar-se com o setor regulado, denominado "Solicita", onde são lançados os comunicados oficiais, tais como como autos de infração, exigências e decisões de processos administrativos.

A mensagem determina a imediata derrubada das páginas de oferta de produtos, alegando “possível irregularidade”, sem especificar a natureza e enquadramento. Ou seja, sem dizer em que medida a prática ofende a legislação sanitária vigente.

É verdade que a Anvisa proíbe as farmácias de manipulação de realizarem e-commerce de produtos manipulados, mesmo dos isentos de prescrição médica, criando barreiras para o estoque mínimo e exposição de produtos magistrais com objetivo de propaganda (RDC 67/07 ANVISA, itens 10.1 e 10.2, 5.14).

Em razão disso muitas farmácias ingressaram no Judiciário para obter provimentos judiciais que as liberem para expor produtos que não dependem de prescrição médica - medicamentos de venda livre, suplementos, cosméticos, fitoterápicos - ao público em geral, algo que não é proibido para drogarias (farmácias sem manipulação).

Afinal, a lei de propaganda de medicamentos (9294/96) permite que produtos sem exigência de receituário possam ser divulgados diretamente ao público consumidor.

Já os produtos de prescrição devem focar no profissional de saúde autorizado a prescrever. Neste raciocínio, um regulamento inferior (RDC) não pode criar vedações não previstas em lei.

Pois bem. As notificações através do e-mail focavam em páginas de oferta de produtos manipulados, divulgadas em websites de farmácia. Na ocasião, duas marcas de ativos isentos de prescrição médica apareciam na mira da Anvisa.

Em consulta ao "Fala BR" sobre a procedência das notificações, o órgão confirmou que tem um projeto piloto, que realiza varreduras automáticas de sites para identificar produtos supostamente irregulares, e exigir a derrubada das páginas.

As notificações indicam ser possível esclarecer dúvidas ao responder o próprio e-mail, de modo que, em alguns casos, as empresas atingidas questionaram a procedência das medidas restritivas.

Importante ressaltar que muitas farmácias possuem autorização judicial para e-commerce. No entanto, a Anvisa não dá um retorno as empresas e continua expedindo notificações reiteradas e de modo automático, ignorando os questionamentos, mesmo quando estes apontam para a existência de decisões judiciais favoráveis ao e-commerce de produtos manipulados.

Ninguém aprecia burocracia. Mas o devido processo legal existe para proteger a sociedade de atos arbitrários de autoridades públicas. Não havendo analise das respostas, o direito ao contraditório fica prejudicado.

Ademais, o enquadramento das supostas irregularidades tem sido bastante vago, o que dificulta a análise dos casos para a elaboração de defesas apropriadas a cada caso.

Se por um lado a Anvisa carece de mecanismos efetivos para coibir o comércio ilegal de produtos que afetam a saúde da população por meios virtuais, por outro a agencia não pode atropelar o devido processo legal e ignorar as manifestações das empresas que defendem a regularidade de páginas de ofertas de produtos isentos de prescrição médica.

É preciso equilibrar o interesse público com a esfera de direitos garantidos à iniciativa privada, a fim de que as medidas tomadas pelo poder público possuam suficiente respaldo e legalidade para serem efetivas e sustentáveis, sob o prisma da segurança jurídica.

* Claudia de Lucca Mano é advogada, sócia fundadora da banca De Lucca Mano Consultoria, consultora empresarial atuando desde 1994 na área de vigilância sanitária e assuntos regulatórios.

Para mais informações sobre farmácias de manipulação clique aqui…

Publique seu texto em nosso site que o Google vai te achar!

Entre para o nosso grupo de notícias no WhatsApp

Fonte: Ex-Libris Comunicação Integrada



Hiperjudicialização da saúde no Brasil: gargalos e soluções

A hiperjudicialização da saúde no Brasil é um fenômeno crescente que tem gerado preocupações significativas no sistema Judiciário.

Autor: Natália Soriani


Obra analisa direitos familiares sob o viés da afetividade

Com o intuito de aprofundar os aspectos constitutivos da afetividade familiar, o doutor em Direito Caio Morau assina livro em que analisa modelos de uniões cujo reconhecimento é reivindicado por setores da sociedade, como as poligâmicas, concubinárias e incestuosas.

Autor: Divulgação


Terrenos de marinha são diferentes de praia

A Proposta de Emenda à Constituição dos terrenos de marinha (PEC 3/2022), a chamada PEC das Praias, tem fomentado debates.

Autor: Fabricio Posocco


O que você precisa saber sobre pensão alimentícia

A pensão alimentícia é um direito fundamental garantido pela legislação brasileira, assegurando que dependentes, especialmente filhos menores, recebam o suporte financeiro necessário para seu sustento, educação e bem-estar.

Autor: Divulgação


A inadequação da mediação obrigatória pré-judicial

Nos últimos anos, a sobrecarga do sistema judiciário brasileiro tem provocado o debate acerca da obrigatoriedade da tentativa de solução extrajudicial de conflitos antes do ajuizamento de ações judiciais, como uma forma de comprovar o interesse de agir.

Autor: Suzana Cremasco


Novas regras de combate ao telemarketing abusivo entram em vigor

A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) implementou uma série de novas medidas para combater o telemarketing abusivo, reforçando a proteção dos consumidores brasileiros.

Autor: Divulgação


Licença-maternidade sem carência para as autônomas

Foi uma decisão histórica, e com 25 anos de atraso!

Autor: Nayara Felix


Recorde de queixas contra planos de saúde e a necessidade de mudanças

Nos últimos dez anos, o Brasil testemunha um aumento alarmante nas queixas de consumidores contra planos de saúde.

Autor: Natália Soriani


Conflitos condominiais

Tipos de ações judiciais e maneiras eficientes de resolvê-los.

Autor: Divulgação


Se a doença é rara, o tratamento não pode ser

13 milhões de brasileiros convivem hoje com doenças raras, de acordo com o Ministério da Saúde.

Autor: Thayan Fernando Ferreira


O perigo da pejotização para as startups

Os recentes conflitos envolvendo a Uber e a justiça trabalhista em ações que reivindicam o vínculo de emprego de motoristas junto à empresa ganhou a atenção da sociedade e até do Palácio do Planalto.

Autor: Ricardo Grossi


Uma boa dose de bom senso em favor do trabalhador gaúcho!

O bom senso precisa falar mais alto, de tal maneira que ninguém saia ainda mais prejudicado nesta tragédia.

Autor: Sofia Martins Martorelli