O financiamento total para empresas de SaaS na América Latina atingiu mais de US$ 2 bilhões em 2021, um crescimento impressionante de 7 vezes em um ano (comparado a 2020) e de 100 vezes desde 2013. Mas ainda há espaço para melhorias: a captação de recursos de SaaS no Brasil, país que detém 80% das transações nesse mercado Na América, foi de apenas 1% dos EUA nos últimos 10 anos, por exemplo.

Os dados estão presentes no mais recente relatório produzido pela Latitud, plataforma de tecnologia que fornece a infraestrutura para a próxima geração de startups na América Latina. O estudo Latin America: Future of SaaS faz parte de um report maior produzido pela Latitud sobre sete indústrias diferentes, o The LatAm Tech Report.

Números em grande crescimento

O estudo mostra um processo de franca expansão global do mercado de SaaS, as empresas que oferecem múltiplos serviços de software que podem ser armazenados em nuvem. O modelo de SaaS elimina, por exemplo, a necessidade de uma empresa manter uma equipe de TI para resolver problemas como dados, middleware, servidores e armazenamento em cada computador individual. Isso libera bastante tempo para a equipe técnica gastar em assuntos e questões mais urgentes dentro da organização.

O relatório cita que as empresas públicas de SaaS aumentaram constantemente seus valores de mercado e valem atualmente US$ 1,2 trilhão, somando-se o seu conjunto. Somente quatro empresas já valem mais de US$ 100 bilhões no mercado global. Esse crescimento exponencial das SaaS pode ser monitorado pelo Cloud 100. Elaborado pela Bessemer Venture Partners, Forbes e Salesforce Ventures, o Cloud 100 é o principal ranking anual das principais empresas de nuvem privada.

O relatório de Latitud nota que a América Latina não está representada no Cloud 100, constituído em 70% por empresas sediadas nos Estados Unidos. 

O financiamento total para empresas de SaaS na América Latina atingiu mais de US$ 2 bilhões em 2021, um recorde absoluto, com as plataformas de e-commerce representando cerca de metade do total arrecadado. O relatório de Latitud salienta que as maiores rodadas de financiamento de empresas SaaS na América Latina estão ficando muito maiores, evoluindo de US$ 3 milhões em 2013 (para a Mediconecta da Venezuela) para US$ 500 milhões em 2021 (para Nuvemshop no Brasil). 

Todas as maiores rodadas de investimento, ressalta o relatório, aconteceram no Brasil, que reforça a cada ano a sua liderança no segmento no continente. O país captou US$ 2,5 bilhões, ou 80% do investido na região na última década. O estudo frisa que os US$ 3,2 bilhões arrecadados no total da região nos últimos 10 anos envolveram 455 empresas sediadas na América Latina. Destas, 76% estão na fase de pré-semente/semente e 11% em estágio inicial (série A/B). São 3 unicórnios em 2021 na América Latina: Nuvemshop, Olist e Clara. Deve ser destacado que Nuvemshop e Olist receberam US$ 1,9 bilhão em investimento somente em 2021. 

Tendências, oportunidades e desafios para SaaS

Falando apenas do Brasil, ainda há muito espaço para crescimento das empresas SaaS. A captação de recursos SaaS no país foi de apenas 1% da dos EUA nos últimos 10 anos. Ainda assim, o total levantado no Brasil em porcentagem do PIB em 2021 foi muito mais próximo e à frente do da Europa, o que reforça o enorme potencial de expansão no país.

O mercado de SaaS é global, então as startups da América Latina devem acompanhar tendências e oportunidades globais.

Em termos de tendências presentes e de curto prazo, o estudo destaca primeiro o crescimento do mercado global de SaaS, com um CAGR de 24% entre 2015 e 2022, atingindo US$ 171.9B neste ano. 

De forma relacionada, companhias estão aumentando seus gastos e usos de SaaS. Mas, ao mesmo tempo, houve um crescimento de SaaS duplicados, sem uso e abandonados entre as corporações.

Outra tendência é a descentralização do SaaS. Ainda que 80% dos 100 maiores companhias de SaaS estejam nos Estados Unidos, o crescimento de investimentos em outros países e regulações cada vez mais localizadas permitirão o crescimento de SaaS regionais, inclusive na América Latina.

A descentralização também se vê entre departamentos. Antes, o SaaS era restrito às equipes de TI. Agora, está presente também em departamentos como suporte ao consumidor e recursos humanos – aumentando a carga de trabalho sobre os próprios departamentos de TI, que devem lidar com a manutenção de tantos softwares corporativos.

Uma última tendência são os softwares para os setores de e-commerce, cibersegurança, ERPs (gestão empresarial) e trabalho remoto. Esses setores foram impulsionados pela pandemia de covid-19, e devem continuar com alta demanda.

O estudo da Latitud aponta ainda segmentos em que a presença de players locais é forte na América Latina: Facilitadores de E-commerce, Vendas/Marketing/CX, Contabilidade e ERP, e Fintech.

Já entre as oportunidades de médio e longo prazo para empresas de SaaS da América Latina estão verticalizar, localizar; atacar o segmento SMB; e construir um ecossistema local robusto.

Uma oportunidade para o maior crescimento de SaaS no Brasil e em toda América Latina, segundo o relatório, é a verticalização no setor. “Uma grande vantagem potencial do SaaS Vertical são as significativas barreiras naturais de entrada para mercados específicos, o que torna muito mais difícil para as empresas globais competirem”, diz o estudo. Ainda há muitas ineficiências ao longo das cadeias de valor, que serão cada vez mais visadas pelas startups de SaaS verticais. 

Estamos vendo oportunidades de alto crescimento em mais nichos de mercado e categorias à medida que os produtos se especializam cada vez mais. Realmente não há limite para o número de nichos de mercado que podem ser interrompidos por software, e esperamos ver muito mais disso no futuro próximo.

Mais uma oportunidade é atender o mercado de PMEs, algo que startups da região já vem apostando. As startups poderão evoluir para expansão por outros países da região e para parcerias com companhias estabelecidas, incluindo M&As e integrações por APIs.

Outra oportunidade é construir ecossistemas locais robustos, com startups construindo reconhecimento de mercado e depois se unindo a provedores terceiros. Essa parceria cria infraestrutura, escalabilidade, e defensibilidade de mercado inclusive contra competidores globais. Um exemplo dessa oportunidade é a Nuvemshop.

O estudo da Latitud aponta ainda segmentos em que a presença de players locais ainda é fraca na América Latina: DevOps/Warehouse, Design/Product/Collab, Infraestrutura de computação em nuvem e SaaS Verticais.

Mas existem desafios para o projetado crescimento dos SaaS acontecer no Brasil e em toda América Latina: a concorrência mais competitiva, global e madura; a quantidade de capital necessária para escalar; e a guerra em curso por talentos, acentuada pela pandemia. “Neste ambiente difícil, levantar capital é muito importante”, conclui o relatório.

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